Em maio de 2025, a tragédia em Gaza e o sofrimento do povo palestino se intensificaram a níveis sem precedentes. E, ainda assim, eles resistem. Das ruínas de Gaza aos cânticos em Sanaa, a resistência está viva — não apenas militarmente, mas moral, ideológica e historicamente.
No cerne dessa resistência reside uma verdade central: a Palestina não é mais apenas uma questão local ou regional. É o eixo moral do Sul Global. É uma frente simbólica onde o imperialismo, o colonialismo e o capitalismo fóssil convergem — e onde a resistência se torna uma linguagem global.
O capitalismo fóssil se sustenta por meio da violência na Afro-Eurásia, onde a Palestina se encontra em seu cerne. Síria, Líbano, Iêmen, Afeganistão, Líbia, Iraque e Sudão foram dilacerados — e o Irã continua sendo o próximo alvo. Nessa lógica, os EUA financiam e armam Israel, enquanto o protegem diplomaticamente. A cumplicidade europeia, especialmente da Alemanha, se junta a essa arquitetura de destruição.
O colonialismo nunca acabou — ele simplesmente evoluiu. A mídia atual suprime a causa palestina por meio da censura e do controle narrativo. A colonização da terra é acompanhada pela colonização das mentes. A Palestina é apagada das telas, dos livros didáticos e das manchetes. Ela é silenciada para impedir a solidariedade.
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O que não é visto não pode ser lamentado. E o que não é lamentado não pode se tornar uma demanda política. Este é o apartheid epistemológico que os palestinos enfrentam. É uma guerra não apenas contra os corpos, mas contra a própria verdade.
O ataque israelense a Gaza — com mais de 200.000 crianças mortas ou esquartejadas — é o maior infanticídio do século XXI. E acontece diante dos olhos do mundo. O silêncio não é neutro — é cumplicidade.
Enquanto Netanyahu realiza esse genocídio, Milei, na Argentina, desempenha um papel paralelo na América Latina, alinhando-se aos interesses israelenses e isolando a resistência sul-americana. Da Palestina às Malvinas, o imperialismo opera em conjunto — política, econômica e militarmente.
Mas há outro mapa: o mapa da dignidade, da resistência e da solidariedade. Cuba, Nicarágua, Argélia e Vietnã mostraram que um outro Sul é possível. Um Sul construído não sobre a submissão, mas sobre a soberania. Um Sul onde os túneis de Gaza ecoam nas ruas de Caracas, Joanesburgo e Teerã.
A Palestina é o palco de todas as lutas: a nacional, a feminista, a anti-imperialista, a anticolonial. Não é ultrapassado apoiar a Palestina — é essencial. Porque o imperialismo americano e o colonialismo israelense continuam sendo as maiores ameaças à justiça global.
Como intelectuais do Sul Global, precisamos nos organizar além das fronteiras. A OTAN e a mídia ocidental precisam ser confrontadas com plataformas alternativas, clareza ideológica e visão coletiva. Precisamos construir um novo internacionalismo — enraizado não no
controle hegemônico, mas na resistência compartilhada.
A Palestina não está sozinha. É o espelho do nosso mundo. E o mundo que queremos construir começa com o lado que escolhemos em Gaza.
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