Dois requerentes de asilo sudaneses alegaram ter sido vendados, algemados e ameaçados enquanto estavam incomunicáveis pelo exército israelense por duas semanas. Os homens disseram que só tiveram permissão para tomar banho uma vez durante a detenção e foram forçados a beber água de uma torneira suja do banheiro. Soldados teriam apontado armas para eles, jogado comida no chão e negado qualquer acesso a assistência jurídica.
Seus depoimentos constam em uma reportagem publicada pelo Haaretz, que expôs o tratamento dado pelo exército israelense aos requerentes de asilo que cruzam a fronteira entre Israel e a Jordânia.
De acordo com a reportagem, os dois homens — ambos fugindo de Darfur, uma região que atualmente enfrenta genocídio nas mãos de milícias armadas e financiadas pelos Emirados Árabes, um aliado próximo de Israel — foram mantidos em uma instalação militar normalmente usada para presos de segurança palestinos. Os Emirados Árabes estão atualmente enfrentando um julgamento no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre seu suposto papel no genocídio sudanês.
Os requerentes de asilo foram capturados perto de Jericó após cruzarem a fronteira em fevereiro. Durante duas semanas, eles tiveram o acesso negado às autoridades de imigração ou a um juiz. Foram transferidos para a Autoridade de População e Imigração somente após detenção prolongada, permanecendo em custódia administrativa por mais um mês.
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Segundo o Haaretz, o exército israelense admitiu ter detido os homens, mas negou ter abusado deles. Uma declaração das Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmou que eles “não foram algemados ou vendados” e foram tratados de acordo com os padrões internacionais. A alegação do exército é contrariada por depoimento direto prestado à Linha Direta para Refugiados e Migrantes, um grupo israelense de direitos humanos.
Um dos homens disse ter pagado US$ 2.500 a um contrabandista na Jordânia, que o levou de Amã ao Monte Nebo e lhes indicou onde cruzar a fronteira. Os homens disseram estar desesperados e temerosos por suas vidas caso permanecessem na Jordânia, que não é signatária da Convenção Internacional para Refugiados.
O caso da dupla ganhou ainda mais atenção depois que uma audiência judicial revelou que as autoridades israelenses pretendiam deportá-los de volta para a Jordânia, apesar dos aparentes perigos para suas vidas. Um oficial de controle de fronteira admitiu dificuldades em realizar tais deportações, levando um juiz a ordenar sua libertação.
Esse incidente ocorre após uma escalada mortal na fronteira no mês passado, quando forças israelenses atiraram e mataram três requerentes de asilo — dois eritreus e um etíope — que tentavam entrar em Israel para se juntar a familiares. O Haaretz relatou que esse foi o primeiro caso conhecido de refugiados mortos ao cruzar a fronteira leste de Israel.
Atualmente, a política israelense permite “retornos rápidos”, que possibilitam que os requerentes de asilo sejam deportados de volta para a Jordânia dentro de 12 a 24 horas após a travessia. Grupos de direitos humanos afirmam que essa prática viola o direito internacional ao colocar indivíduos em risco de perseguição ou danos, circunstâncias comuns para refugiados do Sudão.
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