A organização de direitos humanos israelense B’Tselem confirmou nesta terça-feira (4) que um ataque de dezenas de colonos extremistas à aldeia palestina de Susiya, no sul da Cisjordânia ocupada, na segunda, foi realizado com “clara cumplicidade” da polícia israelense, que permitiu a fuga impune dos agressores.
Nasser Nawaj’ah, ativista de Susiya, relatou à agência Anadolu que colonos ilegais israelenses “atacaram casas, vandalizaram veículos e furaram caixas d’água”, para coagir os palestinos nativos a deixarem suas terras.
Autoridades coloniais proíbem ainda quaisquer obras na aldeia de Susiya, adjacente a um assentamento ilegal homônimo estabelecido em 1983. Desde então, os palestinos nativos vivem em cavernas ou barracos de latão, sob constante ameaça de demolição que inclui uma escola para suas crianças e jovens.
A B’Tselem compartilhou um vídeo que registrou o ataque na noite de segunda-feira (3), no qual “dezenas de colonos israelenses invadiram a aldeia de Khirbet Susiya, ao atacar casas de diversas famílias, incluindo a residência do pesquisador de campo de nossa organização, Nasser Nawaj’ah”.
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“A polícia [israelense] chegou cerca de 30 minutos depois e permitiu que os agressores deixassem a área”, acrescentou. “Testemunhas identificaram um dos criminosos como Shem Tov Luski, indiciado em agosto por assédio sexual contra uma palestina”.
No domingo (2) — ainda antes do ataque —, a B’Tselem alertou, mais outra vez, que a escalada colonial na Cisjordânia tem apoio do governo do premiê israelense, Benjamin Netanyanu, no intuito de “intimidar e deslocar residentes”.
Em 2024, colonos israelenses cometeram ao menos 2.971 contra palestinos e suas propriedades na Cisjordânia, deixando dez mortos e destruindo 14 mil árvores, de acordo com a Comissão de Resistência à Colonização e ao Muro.
Conforme dados da comissão, a população de colonos na Cisjordânia chegou a 770 mil israelenses em dezembro, distribuídos em 180 assentamentos e 256 postos avançados, dos quais 138 são classificados como pastoris ou agrícolas.
Todos os assentamentos e colonos nos territórios ocupados são ilegais conforme a lei internacional. Postos avançados são ilegais até mesmo sob a leis israelenses, mas sua expansão costuma ser avalizada e ratificada com o tempo.
Tensões na Cisjordânia permanecem altas após o cessar-fogo em Gaza, com operações militares de Israel em Tulkarm e Jenin e seus campos de refugiados, além dos pogroms conduzidos por colonos contra árabes nativos em aldeias e cidades.
Em Gaza, entre 7 de outubro de 2023 e 19 de janeiro de 2025, o exército israelense deixou 47 mil mortos e dois milhões de desabrigados.
Na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, no mesmo período, foram mais de 900 mortos, sete mil feridos e 14.300 detidos arbitrariamente em uma campanha de massa — a maioria sem julgamento ou sequer acusação; reféns, por definição.
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Em julho, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) reconheceu a ilegalidade da ocupação israelense na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ao ordenar a evacuação imediata de colonos e soldados, assim como reparações aos nativos.
Em setembro, a determinação da corte avançou a uma resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), com maioria absoluta dos votos, com prazo de um ano para ser implementada.