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‘Militarização da água’ é parte do apartheid israelense, alerta relator da ONU

17 de setembro de 2024, às 16h38

Crianças palestinas reúnem galões de água em meio aos bombardeios de Israel, em Khan Younis, Gaza, em 8 de setembro de 2024 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

Pedro Arrojo-Agudo, relator especial das Nações Unidas sobre Direitos Humanos a Água e Saneamento, reiterou nesta segunda-feira (16) que a “militarização da água” por parte de Israel nos territórios palestinos ocupados integra ações de “apartheid hídrico e territorial”, segundo informações da agência Anadolu.

Durante de coletiva de imprensa em Genebra, Arrojo-Agudo observou que a população de Gaza vive, em média, com somente 4.7 litros de água per capita por dia, muito menos do que o mínimo de 15 litros recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo o especialista, a única fonte natural de água potável remanescente em Gaza é o aquífero costeiro. A população sitiada — 2.3 milhões de pessoas —, porém, vê-se forçada a bombear três vezes mais água do que o aquífero recebe naturalmente, devido às ações de Israel, resultando em “intensa intrusão marinha e salinização”.

“Além disso, Israel mantém bloqueio sobre 70% dos materiais necessários para construir e operar estações de tratamento de esgoto, ao impedir o saneamento adequado, levando a crescente contaminação fecal dos lençóis freáticos”, acrescentou.

Arrojo-Agudo destacou que, mesmo antes de 7 de outubro, apenas 40% da população de Gaza recebia água potável. “Com a deflagração da guerra, Israel cortou radicalmente este fornecimento, assim como de energia, ao levar as usinas de dessalinização ao colapso”, elucidou o oficial da ONU.

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Sobre as doenças disseminadas devido à crise hídrica, Arrojo-Agudo estimou 1.7 milhões de casos de doenças infecciosas, incluindo diarreia, difteria, hepatite A, varíola e mesmo poliomielite — ou paralisia infantil, erradicada por 25 anos.

“Tudo isso, junto à falta de serviços médicos, deixa mortos, sobretudo bebês e crianças, ao tornar a escassez e a contaminação da água uma bomba silenciosa, com muito menos visibilidade do que aquelas que destroem prédios e matam dezenas de milhares de civis; contudo, não menos letal”, reafirmou.

Para Arrojo-Agudo, as violações israelenses da lei internacional, como determinadas pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, são “sistemáticas”.

A militarização da água nos territórios palestinos ocupados está no âmago da política de apartheid hídrico e territorial pelos últimos 50 anos, incluindo destruição de infraestrutura essencial palestina.

Arrojo-Agudo ressaltou ainda que os palestinos não têm acesso ao Rio Jordão, impedidos até mesmo de construir poços em seus territórios.

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“Palestinos têm somente 70 litros de água por dia e muitas comunidades rurais possuem somente 20 litros, enquanto a população israelense tem quatro vezes mais, em média, e colonos ilegais recebem e usam 18 vezes mais em suas plantações e piscinas”, detalhou, ao indicar política de discriminação institucional.

Israel mantém ataques a Gaza desde outubro de 2023, deixando 41.200 mortos e 95.400 feridos, além de dois milhões de desabrigados, sob cerco militar — sem comida, água ou medicamentos. Entre as fatalidades, 16.400 são crianças.

Na Cisjordânia ocupada, Israel intensificou avanços coloniais, incluindo pogroms contra cidades e aldeias, deixando 700 mortos, 5.700 feridos e dez mil detidos arbitrariamente, em uma campanha de prisão de massa que dobrou a população carcerária palestina.

Israel ignora uma resolução do Conselho de Segurança da ONU por um cessar-fogo, além de medidas cautelares do TIJ, onde é réu por genocídio. A mesma corte reconheceu como ilegal a ocupação nos territórios palestinos, ao pedir a evacuação de colonos e soldados e reparações aos nativos

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e lesa-humanidade.

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