clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Baixas civis em Gaza constituem crime de lesa-humanidade, admite ONU

13 de junho de 2024, às 11h17

Palestinos exumam corpos de covas coletivas após retiradas de soldados israelenses do Hospital Nasser, em Khan Yunis, na Faixa de Gaza, em 25 de abril de 2024 [Hani Alshaer/Agência Anadolu]

Israel cometeu crimes de guerra logo no primeiro momento de sua ofensiva a Gaza, reconheceu nesta quarta-feira (12) uma Comissão de Inquérito das Nações Unidas, além de crimes de lesa-humanidade devido às imensas baixas civis.

As informações são da agência de notícias Reuters.

A comissão divulgou dois relatórios à parte: o primeiro, focado na operação transfronteiriça do grupo Hamas em 7 de outubro; o segundo, na retaliação militar de Israel nos oito meses desde então.

Israel não colaborou com o inquérito, ao acusá-lo de viés anti-israelense. Segundo a comissão, o regime ocupante obstruiu efetivamente o trabalho ao impedir os investigadores de acesso tanto ao território designado Israel, quanto a Cisjordânia e Gaza.

A missão diplomática israelense nas Nações Unidas, em Genebra, rejeitou o dossiê. “A Comissão de Inquérito, mais uma vez, mostrou que suas ações são todas a serviço de uma agenda política estreitamente contrária a Israel”, afirmou o embaixador Meirav Eilon Shahar.

LEIA: Finalmente, a ocupação israelense e o Daesh estão na mesma lista negativa da ONU

O inquérito cobriu eventos de outubro até o fim de dezembro; contudo, recorreu a um discurso de falsa simetria, ao apontar para crimes de guerra “de ambos os lados”.

Dentre os abusos cometidos por Israel, estão incidentes de tortura, execução sumária, violações contra dignidade humana e maus tratos.

Segundo a comissão, Israel cometeu ainda crime de fome como arma de guerra, ao não apenas deixar de provisionar insumos básicos — como comida, água e medicamentos —, como ao “agir para impedir o fornecimento dessas amenidades por qualquer outra parte”.

Alguns dos crimes de guerra realizados por Israel constituem ainda crime contra a humanidade, confirmou a Comissão de Inquérito, ao recorrer a um vernáculo reservado a infrações seríssimas cometidas sabidamente como parte de ataques sistemáticos a civis.

“O imenso índice de baixas civis em Gaza e a destruição generalizada de infraestrutura e objetos civis são resultado inevitável de uma estratégia tomada com intento de causar dano máximo — em detrimento dos princípios de distinção, proporcionalidade e precauções devidas”, reafirmou o relatório.

LEIA: ‘Sem alerta, apenas bombas’: Palestinos relatam horrores no campo de Nuseirat

As descobertas se baseiam em entrevistas com vítimas e testemunhas, denúncias, imagens por satélite, prontuários médicos e informações verificadas de fonte aberta.

O relatório de 59 páginas sobre 7 de outubro identificou quatro incidentes resultando em morte em abrigos públicos, sob “instruções operacionais”.

Apesar de repetir as alegações de “um padrão de violência sexual” por combatentes palestinos, a comissão admitiu não conseguir verificar de maneira independente supostos estupros — cuja divulgação em massa, sem evidências, alimenta a guerra há oito meses.

O relatório de 126 páginas sobre a campanha em Gaza detalha o uso israelense de armamentos como bombas teleguiadas MK84, com enorme capacidade de destruição, lançadas sobre áreas urbanas, de forma incompatível com a lei internacional.

LEIA: Tortura israelense deixa ao menos 48 palestinos mortos em custódia

Segundo a comissão, o uso equivale a crime doloso por “não poder adequada ou precisamente discriminar entre alvos militares e objetos civis”.

O dossiê confirmou ainda que homens e meninos palestinos foram submetidos a crimes de lesa-humanidade de cunho sexual, ao serem forçados a se despir em público, como parte de ações voltadas a “infringir grave humilhação”.

As descobertas serão discutidas pelo Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, na próxima semana.

Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia. Em maio, a promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI) requereu mandados de prisão contra o premiê Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant.

Em 7 de outubro, combatentes da resistência palestina cruzaram a fronteira nominal de Gaza e capturaram colonos e soldados. Segundo o exército ocupante, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. O número, no entanto, sofre escrutínio, após o jornal israelense Haaretz reportar “fogo amigo”, sob ordens gravadas de comandantes de Israel para impedir a tomada de reféns.

Israel mantém ataques indiscriminados contra a Faixa de Gaza sitiada desde então, deixando ao menos 37.100 mortos e 84.700 feridos, além de dois milhões de desabrigados. Entre os mortos, cerca de 15 mil são crianças.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.