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Israel estupra palestinos em centro de detenção, revela reportagem investigativa

Protesto pró-Palestina denuncia estupro cometido por forças israelenses em Gaza, no centro de Londres, Reino Unido, em 30 de março de 2024 [Benjamin Cremel/AFP via Getty Images]

Uma investigação chocante, realizada ao longo de três meses pelo New York Times, confirmou detalhes de tortura e outros abusos contra palestinos no centro de detenção israelense de Sde Teiman, onde cidadãos capturados em Gaza permanecem encarcerados.

A reportagem tomou como base entrevistas com ex-prisioneiros, militares israelenses e médicos que trabalharam no local, compondo uma imagem atroz das condições enfrentadas pelos cerca de quatro mil reféns palestinos que passaram pela instalação desde 7 de outubro.

Sde Teiman, base militar no sul do território designado Israel, tornou-se um centro destinado a interrogar palestinos abduzidos de Gaza, então registrados em um processo preliminar capaz de levá-los a desaparecer nas cadeias da ocupação.

Prisioneiros, classificados arbitrariamente como “combatentes ilegais”, sob a legislação de Israel, são mantidos por até 75 dias sem qualquer tramitação judicial, além de 90 dias sem advogado e sequer indiciamento. Sua localização é mantida em sigilo apesar de apelos de grupos de direitos humanos, incluindo a Cruz Vermelha.

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A prática se soma aos crimes de Israel na Palestina ocupada, conforme a lei internacional.

Ex-prisioneiros descreveram aos repórteres uma litania de abusos, nas mãos de seus captores e carcereiros, incluindo espancamentos, choques elétricos, humilhação e estupro.

Oito entrevistados, cuja detenção no local foi confirmada pelo exército colonial, sofreram socos, pontapés, coronhadas e golpes de cassetetes enquanto em custódia.

Dois entrevistados relataram costelas fraturadas devido à violência. Outro relato aponta o caso de um soldado que se ajoelhou sobre o tórax de um prisioneiro. Sete entrevistados destacaram que os soldados os forçaram a usar apenas uma fralda durante as sessões.

Outros três palestinos sofreram sessões de choques elétricos — tortura aplicada, por exemplo, nos períodos ditatoriais da América Latina.

A investigação corroborou ainda denúncias de violência sexual.

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Muhammad al-Hamlawi, enfermeiro de 39 anos, recordou seu sofrimento quando uma oficial feminina instruiu dois cadetes a erguê-lo e pressionar seu reto contra uma barra de metal fixada no assoalho. Muhammad sofreu penetração, causando sangramento grave.

Um dossiê em desenvolvimento da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) corroborou testemunhos similares, incluindo um detido que explicou que seus captores “o forçaram a se sentar em uma espécie de metal aquecido, que parecia fogo”.

Outro depoimento, coletado pelas Nações Unidas, assinala para a morte de um indivíduo “após inserirem uma barra elétrica” em seu ânus.

Imagens circularam de caminhões do exército de Israel — a caminho de Sde Teiman — repletos de cidadãos palestinos vendados, algemados e despidos, em situação que recorda os campos de concentração da Alemanha nazista. Relatos confirmaram as condições desumanizantes.

Uma vez no centro de detenção, palestinos — nus ou seminus — eram forçados a permanecer em hangares a céu aberto, a despeito do clima, sentados em silêncio sobre um colchão fino, por até 18 horas por dia. Aqueles exauridos eram então agredidos pelos soldados, em situação que parece remeter a métodos de tortura coletiva.

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O processo de interrogatório também foi descrito como um “pesadelo”, sob acusação arbitrária de serem membros do Hamas — então espancados caso não cedessem à coação por confissões ilegais.

Prisioneiros eram ainda levados a “salas de disco”, sob ruídos extremamente altos até que seus tímpanos sangrassem, sob violenta privação do sono.

O exército israelense insiste em negar alegações de “abuso sistemático” em Sde Teiman. Porém, o número de relatos consistentes, de diferentes fontes, incluindo agentes militares, sugere um padrão de tortura e maus tratos bastante reproduzido ao longo da história.

Dos quatro mil prisioneiros que passaram por Sde Teiman desde outubro, confirmou-se a morte de 35, embora centenas tenham desaparecido.

Em maio, a rede CNN também expôs detalhes atrozes de abuso e tortura de palestinos no local, o que levou Israel a transferi-los de Sde Teiman a uma série de penitenciárias militares radicadas ilegalmente na Cisjordânia ocupada, onde outras milhares de pessoas foram presas.

Estima-se até dez mil palestinos detidos nas cadeias da ocupação, fora índices não revelados de Gaza. Os prisioneiros carecem de julgamento ou sequer acusação — reféns, por definição.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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