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Ministro israelense pede troca de prisioneiros, mas antecipa ‘anos de guerra’

Gadi Eisenkot, ex-chefe do Estado-maior do exército israelense, durante coletiva de imprensa na cidade de Ramat Gan, no centro do território considerado Israel, em 14 de agosto de 2022 [Jack Guez/AFP via Getty Images]

Gadi Eisenkot, ex-chefe do Estado-maior do exército de Israel e ministro do Gabinete de Guerra, afirmou nesta segunda-feira (27) que o grupo palestino Hamas “renovou suas forças”, de modo que a guerra em Gaza deve “continuar por anos”, reportou o website israelense Ynet News.

Para Eisenkot, o contexto demanda um acordo imediato para troca de prisioneiros.

Seus comentários foram proferidos durante uma “discussão fechada” do Comitê de Segurança e Assuntos Estrangeiros do Knesset (parlamento), segundo a imprensa local.

Eisenkot divergiu do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ao recomendar, como curso de ação em Gaza, “o fim dos combates em Rafah e avanço, simultaneamente, rumo a um acordo de reféns, incluindo cessar-fogo por 42 dias ou mais”.

Conforme o general reformado, “não há correlação entre libertar os prisioneiros e acabar com a guerra”, de modo que negociações envolvendo os reféns são fundamentais a Israel, no presente momento, de um posto de vista rigorosamente estratégico.

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“Como paramos em novembro para uma pausa breve, podemos parar por 42 dias”, aconselhou Eisenkot. “Mesmo que precisemos de mais tempo, não significa acabar com a guerra”.

O Estado israelense passa por uma crise interna, com 70% da população assinalando o fracasso de Netanyahu em reaver os prisioneiros de guerra em Gaza, após a destruição do território por quase sete meses. Protestos de massa, em escala semanal, pedem sua renúncia.

No domingo (26), o ex-chefe do Mossad, Danny Yatom, alertou que o “tempo está acabando” no que diz respeito aos prisioneiros em Gaza, implicando em uma derrota tática de Israel. Segundo Yatom, mesmo que a guerra persista, o Hamas não será exterminado.

Sobre a extensão do conflito, segundo o jornal Times of Israel, Eisenkot apontou “pessimismo”: “Teremos de conduzir esta guerra por muitos, muitos anos”.

Para Eisenkot, suspender os combates significa permitir a soltura dos reféns. “Há um consenso no gabinete de guerra sobre a demanda pela soltura”, declarou o ministro, ao lamentar, porém, que o “gabinete expandido não consegue realizar sua função”.

Negociações estão previstas para serem retomadas no Catar na próxima semana.

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Em nota, no entanto, o gabinete de Netanyahu confirmou que o premiê se “opõe firmemente” a um cessar-fogo, ao alegar que as demandas “somente fortalecem a posição do Hamas, lesam as famílias e tornam a soltura mais improvável”.

Analistas apontam que Netanyahu mantém a guerra em Gaza e nega negociações sob interesse próprio, conforme receios do colapso de seu governo de extrema-direita e eventual prisão por seus três processos de corrupção.

Os ministros supremacistas Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças) recusam negociações, sob ameaças de deixar o governo. Pedem também a reocupação de Gaza e expulsão dos dois milhões de palestinos ao deserto do Sinai.

O Hamas se compromete com o fim da guerra, conforme retirada das tropas ocupantes, acesso humanitário contínuo e retorno dos refugiados ao norte de Gaza. A negociação inclui a troca de prisioneiros: 128 israelenses em Gaza contra 9.500 palestinos nas cadeias da ocupação.

A maioria dos presos palestinos permanece em custódia sem julgamento ou acusação — reféns, por definição.

Em 7 de outubro, combatentes da resistência palestina cruzaram a fronteira nominal de Gaza e capturaram colonos e soldados. Segundo o exército ocupante, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. O número, no entanto, sofre escrutínio, após o jornal israelense Haaretz reportar “fogo amigo”, sob ordens gravadas de comandantes de Israel para impedir a tomada de reféns.

Em Gaza, os ataques indiscriminados de Israel deixaram mais de 36 mil mortos e 80 mil feridos até então, além de dois milhões de desabrigados sob crise de fome.

Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), conforme denúncia da África do Sul, deferida em janeiro. Na semana passada, a corte aceitou novas medidas cautelares para cessar a campanha em Rafah; contudo, sem aval, incluindo um massacre no domingo.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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