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‘É possível matar crianças legalmente’, diz The Atlantic sobre Gaza

Palestinos feridos por ataques israelenses ao campo de refugiados de Nuseirat, no Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir al-Balah, Gaza, 25 de maio de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

Um artigo recente da rede de imprensa americana The Atlantic foi contestado online por colocar em dúvida a enorme mortalidade de civis em Gaza como resultado da ofensiva israelense, sob o apoio ativo do governo dos Estados Unidos, ao sugerir “ser possível matar crianças legalmente”.

Em um artigo de opinião publicado neste mês, sob o título “As estatísticas da ONU em Gaza não fazem sentido”, o autor Graeme Wood recorreu ao negacionismo diante das baixas impostos ao longo de sete meses de genocídio.

Para Wood, “os números das Nações Unidas mudam porque as Nações Unidas não têm ideia de quantas crianças foram mortas em Gaza, além de ‘muitas’”.

Wood insistiu na tese desmentida por diversas agências de checagem de que os números teriam sido manipulados por grupos armados da resistência palestina, ao descrever as baixas em Gaza como “estatísticas do Hamas”.

Em 6 de maio, a Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou que 69% das mortes devido à ofensiva israelense são mulheres e crianças. Dois dias depois, revisou o índice a 52%, ao refletir o colapso do sistema de saúde no enclave palestino, sob cerco e bombardeios.

LEIA: ‘Queimados vivos’: Israel bombardeia refugiados em ‘zona segura’ de Rafah

Apesar do ajuste, o total de mortes permaneceu acima de 35 mil vítimas, ao coincidir, portanto, com os dados do Ministério da Saúde em Gaza, órgão técnico cujos números são historicamente utilizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e até mesmo pela Secretaria de Estado dos Estados Unidos, inclusive durante a pandemia de covid-19.

Wood defendeu ainda a restrição israelense ao acesso da imprensa à situação em campo: “Para contestar as alegações do Hamas seria preciso deixar jornalistas ver a guerra de perto, um risco calculado. Contudo, mesmo quando conduzida legalmente [sic], a guerra é cruel”.

Suas declarações ignoram também a cobertura em campo de jornalistas palestinos, incluindo correspondentes da rede internacional Al Jazeera, alvejados sucessivamente por bombardeios deliberados de Israel.

Em franco detrimento da lei internacional, acrescentou o articulista: “É possível matar crianças legalmente [sic], como, por exemplo, se houver um inimigo atrás delas. Mas a imagem de uma criança morta não é menos perturbadora do que a imagem de uma criança assassinada [sic]”.

O artigo do The Atlantic se soma a esforços de desinformação, desumanização e propaganda de guerra da imprensa corporativa no Ocidente, desde 7 de outubro, quando Israel deflagrou seu genocídio em Gaza. Casos prévios, como em Ruanda, na década de 1990, implicaram empresas de mídia no crime de genocídio.

Redes no Brasil e no exterior também incorrem em declarações racistas, como no caso de um artigo de Claudio Lottemberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), publicado no UOL, no qual rotulou “o palestino como esmagadoramente violento, misógino, homofóbico e antidemocrático”. Boletins de ocorrência foram registrados contra Lottemberg.

Neste domingo (27), Israel conduziu um bombardeio incendiário a um campo de refugiados em Rafah, no extremo sul de Gaza, deixando dezenas de mortos e feridos, dois dias após o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) ordenar o fim das operações na área.

Imagens gráficas de corpos carbonizados e mutilados — incluindo crianças — viralizaram online.

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