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A luta estudantil solidária e as vozes pela Palestina

Ato em defesa do povo palestino na Universidade de São Paulo (USP) [Rawa Alsagheer/Divulgação]

Entre os dias 7 e 9 de maio, uma ação organizada pelo coletivo Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP) promoveu um acampamento na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). O movimento reúne 40 entidades e recebe o apoio de sindicatos, como Metroviários, Sindicato dos Servidores Federais (Sindsef) e Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sindusp), além de partidos e organizações políticas a partir de coletivos de juventude.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) publicou no seu perfil do Instagram: “Hoje foi dado um importante passo para o rompimento das relações das universidades brasileiras com o Estado e as universidades de Israel. Os estudantes e professores da USP estão, neste momento, em um acampamento na FFLCH. Lutamos pelo fim do genocídio do povo palestino em Gaza e os estudantes têm um importante papel nesta luta. PALESTINA LIVRE!”

Já a Frente Palestina de São Paulo publicou no seu perfil: “Estudantes fazem acampamento na USP em apoio à Palestina! O movimento ocupa agora o prédio de Geografia e História da Universidade exigindo o fim das relações acadêmicas com a universidade de Haifa, que viola direitos palestinos e é cúmplice do genocídio em curso. A iniciativa, realizada pelos Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP), surge inspirada nos movimentos ao redor do mundo que explodiram nos Estados Unidos e hoje estão na Grã-Bretanha, França, Espanha, Irlanda, Alemanha, Holanda, Austrália, Japão, México e diversos outros países. Os estudantes pedem o apoio da comunidade acadêmica e de todos que estejam contra o genocídio em Gaza e a recente ofensiva à Rafah, local hoje mais populoso da Palestina, com 610 mil crianças e mais de um milhão de refugiados.”

 

Censura no Brasil imita esforços sionistas nos Estados Unidos

Para o jornalista (de origem judaica) Glenn Greenwald, as vozes pró-Palestina estão sob ameaça no Brasil. Segundo o comunicador o que ocorre no país é um simulacro da mesma política de censura dos Estados Unidos. “É importante notar que é admissível criticar qualquer outro país — até o Brasil ou os Estados Unidos — usando dois pesos e duas medidas; só é proibido fazê-lo sobre Israel. Também é perfeitamente aceitável acusar os evangélicos, por exemplo, de ter uma lealdade suprema a Israel. Só estamos proibidos de dizê-lo sobre os judeus. Em um desenvolvimento alarmante, o estado do Rio de Janeiro, sob a liderança do governador Cláudio Castro (PL), copiou os Estados Unidos e adotou a definição expandida [de antissemitismo], que já fora adotada oficialmente por São Paulo sob Tarcísio de Freitas (Republicanos).”

O governador bolsonarista de São Paulo reproduziu a linha do sionismo no mais rico estado da União. Logo, seria praticamente impensável esperar dele qualquer gesto junto à causa palestina. Tarcísio tem uma aliança estratégica com a base diretamente vinculada ao sionismo neopentecostal praticado pelo bilionário “bispo” Edir Macedo. O faz sem nenhum pesar, pois não paga preço político algum mesmo governando o estado com a maior concentração de descendentes de árabes na América Latina.

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Por este motivo e outros óbvios que os estudantes que ocuparam a USP defendem algo similar aos colegas de instituições acadêmicas dos Estados Unidos: rompimento imediato dos convênios com empresas do apartheid sionista. “Nosso primeiro objetivo é romper as relações acadêmicas entre USP e a Universidade de Haifa, a Universidade de Tel Aviv e outras universidades israelenses. A USP tem vários acordos científicos com as universidades israelenses e suas tecnologias são experimentadas sobre o povo palestino, ao massacrá-lo. Trata-se de dinheiro sujo de sangue”, comentou Rawa Alsagheer, coordenadora da rede Samidoun de solidariedade aos prisioneiros palestinos.

Além da luta estudantil, o corpo de professores e professoras também se fez presente. A FFLCH —origem e âmago da Universidade de São Paulo — aprovou, através de sua congregação, por unanimidade e com três abstenções, dois importantes documentos: uma moção em repúdio ao massacre no enclave palestino e uma manifestação em prol da paz na Faixa de Gaza.

Segundo os e as docentes da gloriosa FFLCH — a histórica sede da batalha da Rua Maria Antônia em 2 de outubro de 1968 —: “A Congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, reunida em 22 de fevereiro de 2024, vem a público anunciar o seu mais veemente repúdio ao massacre em curso na Faixa de Gaza. Declaramos que constitui uma obrigação ética e moral, compatível com a tradição humanista da nossa faculdade, denunciar o horror dessa guerra. Silenciar seria falhar perante um momento tão grave da História. Clamamos pelo fim imediato do genocídio em Gaza e convocamos todos os setores da Universidade a se posicionarem no mesmo sentido.”

Mas, assim como nos Estados Unidos e nos países da Europa, o sionismo como aliado estratégico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e do Ocidente, tenta constranger a liberdade de pensamento, a postura anti-imperialista e a defesa da libertação do povo palestino. Foi o que ocorreu com a respeitada diplomata brasileira Claudia Assaf, alvo de uma ação judicial da rede Stand With Us, coordenada pelo ideólogo sionista André Lajst.

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Além de denunciar a tentativa de censura judicializada, a servidora de carreira do Ministério das Relações Exteriores do Brasil — e não dos Estados Unidos ou a serviço de uma potência estrangeira — trouxe a seguinte reflexão: “As duas primeiras acusações, as de racismo e injúria extrapolaram o ‘tribunal’ da Internet e chegaram à Justiça brasileira. Sempre me pautei pelo respeito aos direitos humanos e pela defesa da dignidade da pessoa humana. Ao longo da vida venho acumulando atributos como mulher, mãe, filantropa, professora e diplomata. Atualmente, ganhei mais um atributo: ré em varas criminais da Justiça do Estado brasileiro, em ações cuja parte autora são sionistas, que sobrevivem da cumplicidade em defender o projeto sionista de Israel, no esforço concertado internacionalmente de contribuir com o processo de legitimação das atrocidades genocidas perpetradas por Israel perante a opinião pública.”

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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