O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu “agir imediatamente” para cessar as operações da rede de notícias Al Jazeera no país, após o parlamento (Knesset) ratificar uma nova legislação que permite ao executivo sancionar e mesmo fechar escritórios de agências estrangeiras designadas como suposta ameaça à segurança nacional.
“A Al Jazeera fere a segurança de Israel, participou ativamente o massacre de 7 de outubro [sic] e mantém incitações contra nossos soldados”, escreveu Netanyahu na rede social X (Twitter), em referência à cobertura sobre o genocídio em Gaza, que desmentiu a campanha de propaganda de guerra e desinformação israelense ao longo dos último semestre.
“Pretendo agir imediatamente de acordo com a nova lei para cessar as atividades do canal”, acrescentou Netanyahu.
A agência radicada no Catar rechaçou o que descreveu como “acusações difamatórias” e acusou o premiê de extrema-direita de promover incitação contra seus jornalistas.
“A Al Jazeera responsabiliza o primeiro-ministro israelense pela segurança de sua equipe e suas premissas em todo mundo, após suas declarações de incitação e suas falsas acusações, proferidas de maneira tão deplorável”, respondeu em nota a Al Jazeera.
“A Al Jazeera reitera que tais acusações difamatórias não nos impedirão de continuar com nossa cobertura profissional e dedicada e reserva, portanto, o direito de buscar todas as medidas cabíveis no campo das leis”, concluiu o comunicado.
Netanyahu busca censurar a imprensa dissidente, com destaque à Al Jazeera, há anos.
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A lei foi aprovada no Knesset por 71 votos favoráveis contra dez contrários e dá ao premiê e seu ministro das Comunicações a autoridade para fechar redes de imprensa estrangeiras que operam em Israel e apreender seu equipamento.
Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca, disse na segunda-feira (1°) que os avanços israelenses contra a Al Jazeera são “preocupantes”.
“Os Estados Unidos apoiam o trabalho criticamente importante de jornalistas em todo mundo, incluindo aqueles que estão reportando o conflito em Gaza”, declarou Jean-Pierre em Washington. “A liberdade de imprensa é algo importante e, caso sejam verdade os relatos [sic], é algo preocupante para nós”.
O Comitê para Proteção a Jornalistas (CPJ) deplorou a medida como “ameaça considerável à imprensa internacional”, ao contribuir “para um clima de censura e hostilidade contra o trabalho de imprensa, tendência que escalou desde o início da guerra em Gaza”.
Desde a deflagração do genocídio em Gaza, o regime israelense aprovou uma série de regulações para permitir “temporariamente” o fechamento de redações classificadas como ameaça aos interesses nacionais, com consentimento da justiça.
A nova legislação veio à luz quase cinco meses após Tel Aviv ordenar o bloqueio da rede libanesa Al Mayadeen. Na ocasião, Netanyahu e seus ministros não conseguiram, no entanto, impedir o trabalho da Al Jazeera.
Após a votação nesta segunda, o ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, confirmou ter planos para avançar contra a agência. Segundo Karhi, a Al Jazeera age como “braço de propaganda para o Hamas”, ao “encorajar a luta armada contra Israel”.
“É impossível tolerar uma rede de imprensa, com credenciais providenciadas por nossos governo e escritórios em Israel, que age de dentro contra nós, especialmente durante tempos de guerra”, insistiu o ministro.
Seu escritório deve bloquear as transmissões da emissora em Israel e impedir a cobertura em campo. Permanece incerto se a determinação israelense se aplicará ainda aos territórios ocupados da Cisjordânia e Faixa de Gaza.
Em maio de 2022, soldados israelenses assassinaram a tiros Shireen Abu Akleh, correspondente da Al Jazeera, enquanto cobria uma invasão militar à cidade de Jenin, na Cisjordânia. Um relatório das Nações Unidas confirmou “uso de força letal sem justificativa” e “violação do direito à vida”.
Durante a guerra a Gaza, diversos profissionais do canal e suas famílias foram alvejados. Em 25 de outubro, um bombardeio israelense matou a família do editor-chefe da Al Jazeera no território palestino, Wael Dahdouh, incluindo esposa, filhos e netos.
Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma operação transfronteiriça do braço armado do grupo Hamas, que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.
Em Gaza, são 32.845 mortos e 75.392 feridos, além de dois milhões de desabrigados.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.