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Egito planeja guerra com Israel, afirma ex-oficial do exército ocupante

Veículos militares israelenses perto da travessia de Rafah, na fronteira entre Gaza e Egito, em 23 de março de 2024 [Khaled Desouki/AFP via Getty Images]

O tenente-coronel Eli Dekel — oficial reformado das Forças Armadas de Israel, especializado em sistemas de infraestrutura nos países árabes — advertiu, em análise publicada online, para avanços do exército do Egito na região do Sinai, após 2004 e 2008, culminando em preparativos para a atual crise em Gaza.

Dekel alegou investigar a matéria há seis anos e concluir que, desde 2014, em particular, após o general Abdel Fattah el-Sisi chegar à presidência, via golpe de Estado, suas Forças Armadas expandem cada vez mais sua presença e infraestrutura na região do Sinai.

Para Dekel, a matéria carece da atenção devida.

“Em 2014, após o tumulto regional e a remoção da Irmandade Muçulmana do poder [em 2013], a construção de infraestrutura militar no Sinai se acelerou e, ao mesmo tempo, deu-se início a um processo de aquisição de armas avançadas”, argumentou Dekel. “Este processo levou o exército egípcio ao posto de 12ª mais poderoso do mundo, levando Israel à 18ª posição”.

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“Este fenômeno inquietante não parece preocupar o público em Israel, tampouco veteranos do exército nos institutos de pesquisa, comentaristas e jornalistas … que insistem na tese de que o Egito, após receber o último centímetro do Sinai, não teria interesse em ferir Israel”, apontou o militar reformado. “Todavia, a verdade é oposta, relações hostis — ou paz fria — crescem entre nós e o Egito mantém sua cooperação de segurança conosco, porém sem ostentá-la”.

Dekel criticou a liderança política e militar de Israel por tratar o Egito como país amistoso e não mais um dos inimigos do Estado ocupante. Conforme sua avaliação, há uma ameaça de segurança logo ao sul, que demanda recursos diretos como resposta.

Dekel advertiu ainda contra uma reincidência da guerra de outubro de 1973, quando Israel foi pego de surpresa. Seus comentários ecoam uma sensação generalizada de paranoia no establishment de segurança israelense desde a ação transfronteiriça do movimento palestino Hamas em 7 de outubro, que capturou colonos e soldados.

Dekel citou três pretextos adotados pelo governo do Egito para robustecer seu aparato militar: disputas com a Etiópia sobre a Grande Represa do Renascimento e as águas do Nilo; instabilidade na fronteira com a Líbia, dividida entre dois governos rivais; e ambições de liderança entre países árabes e africanos, inclusive por meios armados.

Dekel alegou refutar todas as alegações, ao apontar para preparativos para um eventual conflito aberto com o Estado de Israel.

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“Mesmo que minhas avaliações sobre as intenções de guerra do Egito estejam fundamentalmente equivocadas”, concluiu o militar, “e Sisi tenha Israel na melhor das intenções, a falta de preparativos israelenses para eventualidades equivale a uma negligência criminosa”.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 32.333 palestinos mortos e 74.694 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.

Apesar da veemente negativa do Cairo, líderes israelenses insistem em transferir compulsoriamente a população palestina ao deserto do Sinai, território do Egito. Nas semanas recentes, o exército da ocupação aproximou-se de Rafah — última cidade na região fronteiriça, que abriga hoje 1,5 milhão de palestinos.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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