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Paquistão e Talibã trocam disparos na fronteira, região vive escalada de tensões

Crianças afegãs no campo de refugiados de Karachi, no Paquistão, em 21 de setembro de 2023 [Rizwan Tabassum/AFP via Getty Images]
Crianças afegãs no campo de refugiados de Karachi, no Paquistão, em 21 de setembro de 2023 [Rizwan Tabassum/AFP via Getty Images]

O Paquistão lançou uma bateria de ataques aéreos ao Afeganistão, na madrugada de segunda-feira (18). Horas depois, o grupo Talibã — que governa o país — reivindicou uma série de disparos transfronteiriços.

Fontes em Islamabad confirmaram à Al Jazeera ataques “retaliatórios” a supostos esconderijos do Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP), ou Talibã paquistanês, devido a “atividades terroristas promovidas ou conduzidas na região de fronteira”.

No sábado (16), um ataque suicida atingiu um posto militar no distrito paquistanês de Waziristão do Norte, na província de Khyber Pakhtunkhwa, vizinha do Afeganistão. O atentado, reivindicado por uma ramificação recente do Talibã paquistanês, matou sete soldados.

Conforme o Talibã, os jatos paquistaneses atingiram residências civis, deixando oito mortos — cinco mulheres e três crianças.

Em nota publicada na rede social X (Twitter), Zabihullah Mujahid, porta-voz do governo em Cabul, “condenou veementemente a intervenção imprudente” do país vizinho, ao apontar para uma grave violação do território afegão.

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“O Emirado Islâmico do Afeganistão, com sua longa experiência na luta por libertação contra as potências do mundo, não permite a ninguém que invada seu território”, alertou Mujahid.

Tensões entre os países continuam a escalar desde o retorno do Talibã ao poder em 2021, após a retirada às pressas das forças dos Estados Unidos no país centro-asiático. Conforme Islamabad, milícias hostis conduzem ataques regulares através da fronteira.

O ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Asif, repetiu as acusações neste domingo (17), ao acusar organizações armadas de utilizar o território afegão para conduzir “operações terroristas” — alegação rechaçada pelo grupo Talibã.

“Rejeitamos a presença de qualquer grupo armado no Afeganistão e nenhum deles tem permissão para operar em nosso solo”, insistiu Mujahid. “Fizemos deste posicionamento nosso máximo esforço e continuamos a fazê-lo. Uma coisa temos de aceitar: temos uma longa fronteira em comum com o Paquistão, e há lugares de terreno acidentado, como montanhas e florestas — lugares que podem estar fora de controle”.

Ano sangrento

A região vivenciou um ano marcado pela violência em 2023, com mais de 650 ataques reportados no Paquistão, deixando quase mil mortos, muitos dos quais, agentes de segurança. Os incidentes se concentram nas províncias ocidentais perto do Afeganistão.

Grupos esparsos reivindicam os ataques, mas Islamabad põe foco particular sobre o TTP, fundado em 2007, alinhado ideologicamente ao Talibã afegão.

O grupo reivindica a imposição de sua interpretação fundamentalista das leis islâmicas, assim como revogação do decreto paquistanês que fundiu administrativamente suas áreas de influência tribal na província de Khyber Pakhtunkhwa.

Segundo Abdul Sayed, pesquisador radicado na Suécia, que estuda grupos armados da região, o atentado em Waziristão do Norte foi “particularmente intenso, ao envolver seis homens-bombas e um caminhão carregado de explosivos”.

“A presença de oficiais paquistaneses de alto escalão nos funerais das vítimas, incluindo o presidente e chefe do exército, sugere ações transfronteiriças no futuro próximo, por parte do Paquistão”, comentou Sayed à rede Al Jazeera.

Muhammad Amir Rana, analista de segurança radicado em Islamabad e diretor do Instituto de Estudos da Paz do Paquistão (PIPS) concorda com o caráter extraordinário da ação, em particular, no mês do Ramadã — sagrado para os muçulmanos.

“Instituições de Estado decidiram adotar uma resposta de toma-lá-dá-cá a quaisquer ameaças”, explicou Rana à imprensa. “Sabe-se do apoio do Talibã ao TTP e houve instâncias nas quais membros do grupo estiveram envolvidos em ataques no Paquistão”.

Conforme os especialistas, nota-se ainda que a gravidade da resposta paquistanesa contra alvos afegãos é semelhante em caráter à reação do país a ações transfronteiriças realizadas em janeiro a partir do Irã.

Segundo Rana, “a menos que canais diplomáticos sejam ativados, tensões entre os dois países devem escalar cada vez mais nas próximas semanas”.

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