Michael Fakhri, relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, descreveu nesta quinta-feira (7) a imposição da fome por parte de Israel na Faixa de Gaza sitiada como arma de guerra e genocídio.
Fakhri esteve em Genebra para a 55ª sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, ocasião na qual conversou com a agência de notícias Anadolu sobre a crise de fome que assola Gaza, assim como os ataques israelenses à população civil.
“Desde que eclodiu a guerra, vemos pessoas passando fome como nunca. Jamais vimos uma comunidade definhar tão rápido. Agora, o que vemos é a fome generalizada. Crianças morrendo por desnutrição e desidratação. Jamais vimos crianças levadas à subnutrição tão rápido em qualquer conflito da história moderna”, explicou Fakhri.
O relator reiterou que crianças desnutridas terão sequelas de desenvolvimento. “Estamos apreensivos pelo fato de que essas crianças podem sofrer com um impacto físico e cognitivo de longo prazo. Vemos crianças morrendo de fome e sede. É um cenário de horror”.
Fakhri advertiu que a mortalidade deve aumentar exponencialmente a partir de então.
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Sobre os recentes lançamentos assistenciais por aviões dos Estados Unidos a Gaza, esclareceu Fakhri: “Está claro entre trabalhadores humanitários e mesmo os países que realizam as operações, que se trata de algo caríssimo e inefetivo. De fato, lançamentos aéreos causam caos ao espalhar comida por toda a parte, sem qualquer sistema de distribuição”.
“Em vez de gastar tempo e dinheiro com essas operações caríssimas, penso que países como Estados Unidos e outros deveriam se concentrar em garantir um cessar-fogo imediato e pressionar Israel a permitir o acesso humanitário”, acrescentou Fakhri.
“É como pôr um band-aid em alguém que já está em seu leito de morte”, reiterou. “Tem um impacto ínfimo tanto em termos imediatos quanto de longo prazo”.
Fakhri recordou que Israel cortou o abastecimento de água à população civil de Gaza logo após deflagrar sua campanha militar, ainda em 8 de outubro de 2023, ao formalizar seu cerco absoluto no dia seguinte.
“Imediatamente emitimos o alarme, como especialistas independentes de direitos humanos da ONU, de que havia risco de genocídio”, destacou Fakhri. “Como ouvimos do Tribunal Internacional de Justiça, em seu juízo preliminar, o risco é plausível. Neste ponto da guerra, penso que é claro se tratar de genocídio”.
“Vemos uma campanha de fome, detonada logo no início da guerra, que continua até hoje. Não há dúvida de que é um genocídio e de que se trata de uma campanha deliberada de Israel contra o povo palestino de Gaza”, concluiu Fakhri.
O regime israelense mantém ataques indiscriminados contra a Faixa de Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil palestinos mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Dois terços das vítimas são mulheres e crianças.
Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
Ao promover suas ações, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de palestinos de Gaza como “animais humanos”.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.