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ONU reporta ‘grande número de ferimentos a bala’ após ‘massacre da farinha’

Crianças palestinas buscam alimento em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, em 1° de março de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]
Crianças palestinas buscam alimento em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza, em 1° de março de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

Uma equipe da Organização das Nações Unidas (ONU) e oficiais de saúde relataram “um grande número de ferimentos a balas” entre os palestinos de Gaza após forças israelenses abrirem fogo contra uma multidão em torno de um comboio assistencial — incidente condenado em âmbito internacional como o “massacre da farinha”.

As informações são da agência de notícias Al Jazeera.

Os relatos confirmam numerosos testemunhos em campo de que tropas ocupantes dispararam, mataram e feriram palestinos desesperados em busca de comida, na quinta-feira (29), portanto, desmentindo as alegações israelenses de que as vítimas morreram pisoteadas.

Ao menos 117 palestinos foram mortos e outros 750 ficaram feridos na rotatória de al-Nabulsi, no lado sudoeste da Cidade de Gaza.

Na sexta-feira (1°), uma equipe da ONU visitou o Hospital al-Shifa e confirmou as circunstâncias do ataque, informou Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral, António Guterres.

Al-Shifa — semi-operante, após ser invadido e saqueado por Israel em dezembro — recebeu 70 mortos e 200 feridos enquanto as equipes da ONU estavam no local.

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Georgios Petropoulos, do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (UNOCHA), corroborou ter visto pessoas baleadas após o ataque.

“Passou-se um dia após os eventos trágicos na via costeira, onde centenas de pessoas perderam a vida e foram feridas”, comentou Petropoulos em vídeo, em frente ao hospital al-Shifa. “Vimos pessoas com ferimentos a bala. Vimos amputados e vimos crianças de até 12 anos feridas”.

“Não podemos permitir que eventos como esse continuem acontecendo”, acrescentou.

Mohammed Salha, diretor interino do Hospital al-Awda, estimou que 80% dos feridos chegaram ao centro médico com lesões à bala. À rede Associated Press, Salha reportou 176 feridos em seu hospital, dos quais 142 baleados.

Hussam Abu Safia, diretor do Hospital Kamal Adwan, informou que todas as baixas que recebeu decorreram de “balas e estilhaços das forças da ocupação”. Conforme a denúncia, a maioria dos mortos apresentou lesões no torso, pescoço e cabeça — sugerindo dolo.

A chacina deu novo enfoque à fome generalizada em Gaza, após cinco meses de ataques aéreos israelenses, somado a uma invasão por terra e cerco absoluto. Dos 2.4 milhões de palestinos no enclave, um quarto sofre de inanição, segundo a ONU.

Bernard Smith, correspondente da Al Jazeera em Jerusalém, observou que o exército israelense buscou “inicialmente culpar a multidão” — isto é, as vítimas.

“Então, após pressão, seguiram a dizer que suas tropas se sentiram ameaçadas por centenas de pessoas que se aproximavam; em seguida, abriram fogo”, informou Smith. Em meio à mudança de versões, Israel não concedeu detalhes sobre o incidente.

Testemunhas em campo notaram que a debandada decorreu dos tiros e não o contrário.

O Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo destacou que as tropas israelenses atiraram deliberadamente contra a multidão.

Ainda na quinta-feira, a instituição com presença em Gaza publicou um relatório segundo o qual evidências mostram que dezenas das vítimas decorreram de disparos, “em franco contraste com o que disse o porta-voz militar israelense”.

Vídeos divulgados pelo próprio exército colonial incluem sons de disparos de tanques de guerra posicionados ao longo da orla. A ong identificou também disparos de armas automáticas.

“Evidências apontam que o perigo não se originou dos caminhões ou da multidão ao redor, mas sim de uma fonte externa que aterrorizou a todos na área, tanto próximos quanto distantes dos veículos humanitários”, destacou o relatório.

Conforme a denúncia, o vídeo israelense confirma ainda relatos de sobreviventes de que foram baleados nas costas ao tentar fugir da cena.

Jens Laerke, porta-voz do OCHA, alertou na sexta-feira que a “fome é quase inevitável em Gaza”, caso não haja abertura das exportações ou desobstrução dos comboios.

Informações da ONU citam restrições de acesso em particular ao norte de Gaza, onde palestinos se veem forçados a comer grama e ração animal.

O Human Rights Watch (HRW) advertiu nesta semana que Israel viola a deliberação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, ao obstruir o fluxo humanitário.

“O governo israelense está matando de fome os 2.3 milhões de palestinos em Gaza, ao colocá-los em risco ainda maior do que antes da ordem vinculativa da Corte Mundial”, esclareceu Omar Shakir, diretor regional do Human Rights Watch.

“O governo israelense simplesmente ignorou a decisão da corte e, em muitos aspectos, mesmo intensificou sua repressão, incluindo ao ampliar a obstrução de assistência fundamental a salvar vidas”, acrescentou.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, deixando 30 mil mortos, 70 mil feridos e dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.

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