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Médicos Sem Fronteiras critica EUA sobre Gaza, alerta para impacto à infância

Crianças palestinas esperam na fila para obter ajuda humanitária, em Rafah, no sul de Gaza, em 10 de fevereiro de 2024 [Belal Khaled/Agência Anadolu]

Christopher Lockyer, secretário-geral da ong Médicos Sem Fronteiras (MSF), reiterou em sessão no Conselho de Segurança das Nações Unidas, nesta quinta-feira (22), o surgimento de um novo acrônimo na Faixa de Gaza: WCNSF — do inglês, criança ferida sem família sobrevivente.

As informações são da agência de notícias Reuters.

“As crianças que sobreviverem a essa guerra não apenas carregarão consigo cicatrizes visíveis de ferimentos traumáticos, mas também outras que não podemos ver”, comentou Lockyear aos 15 membros do conselho presentes na ocasião.

“Há um deslocamento contínuo, medo constante e numerosos casos de familiares literalmente desmembrados diante de seus olhos”, acrescentou. “Esses traumas psicológicos fazem com que crianças de apenas cinco anos de idade nos digam que preferem morrer”.

Lockyear condenou o veto dos Estados Unidos para obstruir um cessar-fogo em Gaza.

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“As pessoas precisam de um cessar-fogo, não quando for oportuno, mas agora. Precisam de um cessar-fogo consistente e não um curto período de calma”, reiterou. “Menos do que isso, pouco importa o que, é uma negligência grosseira”.

Washington vetou três resoluções do Conselho de Segurança desde 7 de outubro — a última na terça-feira (20).

O embaixador da China nas Nações Unidas, Zhang Jun, disse ao plenário estar “chocado” com o informe de Lockyear. “Esperamos que essa imagem trágica de Gaza que ele nos trouxe toque a consciência de um certo membro deste conselho”, comentou Zhang.

Os Estados Unidos alegaram apreensão de que a resolução proposta pela Argélia “prejudique” negociações mediadas por Egito e Catar, promovidas pelo lado americano, para instaurar uma pausa de seis semanas em troca dos prisioneiros israelenses em custódia do Hamas.

Robert Wood, embaixador adjunto dos Estados Unidos na ONU, rejeitou o informe de Lockyear, ao insistir pressionar Israel a permitir maior fluxo humanitário e evitar uma ofensiva por terra contra Rafah, no extremo sul de Gaza, “na falta de um plano viável para proteger civis”.

Rafah abriga hoje 1.5 milhão de pessoas, muitas delas deslocadas diversas vezes pela varredura israelense na direção norte-sul. São mais de 16 mil pessoas por quilômetro quadrado — de uma população original inferior a 300 mil habitantes.

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Conforme Wood, seu governo “quer um fim perdurável a esse conflito”, muito embora “o ritmo das conversas sobre os reféns seja frustrante”.

Para a Casa Branca, “o apoio deste conselho a esses esforços diplomáticos é fundamental para aumentar a pressão ao Hamas para que aceite o acordo sobre a mesa”.

O Hamas deferiu uma proposta de cessar-fogo escalonado na primeira metade de fevereiro; no entanto, sem a anuência do regime israelense.

Barbara Woodward, embaixadora do Reino Unido nas Nações Unidas, caracterizou o informe de Lockyear como “aterrorizante”, apesar de sua delegação se abster do voto de terça-feira por um cessar-fogo. Os outros 13 membros do Conselho de Segurança votaram a favor.

Bombas israelenses mutilam crianças de Gaza [Sabaaneh/MEMO]

 O embaixador da Eslovênia, Samuel Zbogar, questionou seus colegas no Conselho de Segurança: “Que tipo de fórum nos tornamos se permanecermos indiferentes pelo relato emocionante que ouvimos hoje da organização Médicos Sem Fronteiras?”

Ao concluir seu depoimento, Lockyear reforçou apelos ao Conselho de Segurança: “Hoje, nossas equipes estão de volta ao trabalho, arriscando suas vidas, mais outra vez, por seus pacientes. O que os senhores estão dispostos a arriscar?”

Israel mantém ataques ao enclave mediterrâneo desde 7 de outubro, deixando 29.410 mortos e 69,465 feridos, além de dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.

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