Portuguese / English

Middle East Near You

Argentinos vão às ruas pela Palestina e contra Milei

Argentinos protestam contra a guerra em Gaza e a política pró-sionista  de Milei [Bruno Balci/Monitor do Oriente Médio]
Argentinos protestam contra a guerra em Gaza e a política pró-sionista  de Milei [Bruno Balci/Monitor do Oriente Médio]

Uma caravana de carros, motos, bicicletas e manifestantes a pé saiu do Congresso e deu a volta pelo centro de Buenos Aires passando pela Casa Rosada e terminando no Obelisco nesta sexta feira, 16. Convocada pelo Comitê Argentino de Solidariedade com o Povo Palestino, entre outras organizações. Os manifestantes denunciaram as intenções do governo de extrema-direita de Javier Milei de transferir a embaixada da Argentina para Jerusalém.

Foi também mais uma resposta do povo argentino ao genocídio cometido pelo regime sionista terrorista de Israel e aos bombardeios sobre Rafah além da ameaça de uma invasão terrestre àquela cidade localizada no sul de Gaza, na fronteira com o Egito, onde estão concentrados mais de um milhão de pessoas deslocadas de outras regiões da Faixa de Gaza.

O evento começou às 17h, na Plaza del Congreso e passou pelas avenidas Callao, Santa Fe e Paseo Colón antes de parar no Obelisco da Avenida 9 de Julho. Na Praça da República foi realizado um evento no qual se juntaram membros de organizações sociais, defensores dos direitos humanos e culturais.

Três frases emblemáticas uniram os participantes:  Parem o genocídio e os bombardeamentos. Não à transferência da embaixada. Por uma Palestina única, secular e socialista.

Lá, foi feita uma leitura da Declaração de Solidariedade com a Palestina.

“Repudiamos mais uma vez o genocídio perpetrado por Israel em Gaza e em toda a Palestina ocupada e exigimos que o Governo argentino não continue a apoiar políticas criminosas”, diz um fragmento do texto. “Pedimos ao presidente Milei que não fale em nosso nome nem submeta o povo argentino à cumplicidade num dos crimes mais aberrantes da nossa história contemporânea”, acrescenta.

Da mesma forma, o texto considera inaceitável o assassinato de civis palestinos, bem como a fome, as doenças e o deslocamento contínuo que sofrem. “O incessante bombardeamento dos campos de refugiados em Rafah constitui a fase final do extermínio. Os criminosos e aqueles que os apoiam, os seus cúmplices, mais cedo ou mais tarde, terão de ser responsabilizados perante a humanidade”, afirma.

LEIA: Carnaval 2024 é marcado por manifestações de solidariedade à Palestina

Holocausto palestino

Holocausto ou Shoah (palavra hebraica que significa, literalmente, “destruição, ruína, catástrofe”) é o termo utilizado para denominar o fenômeno de destruição sistemática – perseguição, exclusão socioeconômica, expropriação, trabalho forçado, tortura, guetização e extermínio. É o que ocorre com eficiente crueldade na Faixa de Gaza, nos últimos dois meses e que teve origem em 1948.

Na madrugada de 9 de Abril de 1948, três milícias sionistas – o Haganah, o Irgun e o Bando Stern – atacaram a aldeia palestina de Deir Yassin, situada a oeste de Jerusalém. Mais de 100 homens, mulheres e crianças foram massacrados. Algumas foram mutiladas e violadas antes de serem assassinadas. Na altura do massacre, David Ben-Gurion, Menachem Begin e Yitzhak Shamir dirigiam, respectivamente, o Haganah, o Irgun e o Bando Stern. Todos viriam a ser primeiros-ministros de Israel. Ninguém foi punido.

O massacre em Deir Yassin é mais um, das duas dezenas que vitimaram civis palestinos, perpetrados por forças sionistas que abriam caminho à força para transformar a Palestina num Estado judaico. Não foi o que teve maior número de vítimas. Mas a notícia do massacre de Deir Yassin espalhou o terror e desencadeou uma fuga em massa de palestinos que temiam pelas suas vidas.

A atual operação genocida de Israel em Gaza já deixou quase 30 mil mortos  e impôs um bloqueio que deixou a região sem combustível, medicamentos, alimentos e água potável. O ataque a Rafah ameaça dar um novo salto nesta catástrofe. Caso a comunidade internacional não intervenha para impedir a operação israelense em Rafah, a catástrofe ocorrerá inevitavelmente, diante da contínua agressão e do comportamento de Israel.

A cidade, originalmente com 300 mil habitantes, abriga hoje 1,5 milhão de palestinos — mais da metade da população total de Gaza —, deslocados pela varredura norte-sul conduzida por Israel na forma de ataques indiscriminados por ar, mar e terra.

Milei  transcride  leis internacionais

Javier Milei, que esteve recentemente em viagem por Israel, apoia esta ação criminosa e até planeja transferir a embaixada argentina para Jerusalém, uma provocação contra o povo palestino. O presidente alinha-se assim com a extrema-direita internacional e, tal como fez Donald Trump em 2018, pretende localizar a diplomacia argentina na cidade sagrada. Assim, Milei ratificou uma de suas promessas de campanha: transferir a embaixada argentina em Israel de Hertzlia (cidade localizada nos arredores de Tel Aviv) para Jerusalém, que setores do judaísmo ortodoxo e da extrema direita do país ratificam como capital do Estado.

A promessa de Milei vai contra as relações internacionais que regem em termos geopolíticos, e não religiosos, uma vez que Jerusalém não é reconhecida como capital por 190 países das Nações Unidas, que portanto não têm embaixada lá. Os únicos países que transferiram as suas sedes diplomáticas para a cidade sagrada são os Estados Unidos, a Guatemala e o Kosovo. Neste último caso, trata-se de um Estado não reconhecido por grande parte da comunidade internacional, incluindo a Argentina.

No final de 2017 ocorreu a mudança da embaixada dos Estados Unidos, ordenada por Donald Trump. Naquela época, 14 dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU condenaram a medida, mas a rejeição foi ineficaz devido ao veto dos EUA. Entretanto, a Assembleia Geral convocou uma reunião de emergência e propôs que os membros do fórum não transferissem as suas embaixadas para Jerusalém: 128 países votaram a favor desta iniciativa e apenas 9 contra.

O resultado final é que Jerusalém é um território disputado. Israel ocupa toda a cidade e os setores ortodoxos a reivindicam como capital do país, devido à sua conotação religiosa. Por sua vez, os palestinos reivindicam a parte oriental como a capital do seu Estado ainda não declarado.

Ofensiva afeta o Egito

Segundo informações da agência Associated Press, dois oficiais egípcios e um diplomata ocidental advertiram ainda que a ofensiva israelense a Rafah arrisca incorrer na revogação do Tratado de Camp David, que normalizou laços entre Egito e Israel e pode acrescentar mais um episódio de crise diplomática e militar na região.  O Tratado, com quase cinco décadas, é a pedra angular da estabilidade entre os Estados vizinhos, mas parece desconsiderado pelo regime israelense que insiste em deslocar os palestinos de Gaza ao deserto do Sinai, território egípcio.

O Egito fortificou seu lado da fronteira, ao estabelecer uma zona neutra de 5 km e erguer muros de concreto acima e abaixo da superfície, para impedir o eventual acesso de túneis. O regime no Cairo teme um influxo de centenas de milhares de refugiados palestinos, os quais Israel jamais permitirá o retorno, apesar do direito consagrado na lei internacional.

Como sublinhou o historiador Tariq Ali, o que até então fora uma região com cultura comum para árabes muçulmanos, cristãos e judeus, sofreu uma profunda fratura, que viria a ser conhecida pelos palestinos como al Nakba, a catástrofe.  Segundo o projeto de ocupação israelense,  essa catástrofe  caminha para mais uma etapa.

LEIA: Prioridades do Ocidente: Genocídio em Gaza ou resistência ucraniana?

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

Categorias
América LatinaArgentinaArtigoÁsia & AméricasIsraelOpiniãoOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments