EUA se recusam a repreender Israel por ataque a Rafah, mesmo diante de baixas civis

A administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, não planeja repreender Israel por sua iminente campanha militar a Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, mesmo sob o risco de baixas civis sem precedentes, à medida que a pequena cidade, na fronteira com o Egito, abriga 1.5 milhões de deslocados pela guerra.

Analistas alertam que a recusa americana diante de eventuais sanções, corroborada por três fontes anônimas à rede Politico, serve de anuência a uma invasão à área sem consequências.

Rafah foi designada “zona segura” por Israel em sua varredura norte-sul da Faixa de Gaza. Neste entremeio, 1.5 milhão dos 2.3 milhões de habitantes do território sitiado fugiram à cidade, cuja população não ultrapassava 300 mil pessoas há 120 dias.

Apesar do desastre humanitário, incluindo fome generalizada e epidemias, Israel planeja realizar uma invasão por terra contra a cidade fronteiriça, muito embora os refugiados palestinos não tenham aonde ir.

O avanço israelense, junto de declarações de lideranças coloniais, confirma denúncias de que o propósito da guerra em Gaza é o deslocamento à força da população nativa ao deserto do Sinai — isto é, crime de limpeza étnica e transferência compulsória.

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Aliados ocidentais da ocupação israelense afirmam se opor ao plano; no entanto, sem assumir quaisquer medidas práticas para impedi-lo.

Questionado nesta semana se a presidência americana havia ameaçado reter assistência militar a ações lesivas à comunidade civil, John Kirby, assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, preferiu não responder.

“Não vou entrar nesse jogo de hipóteses”, alegou o assessor.

Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado, ecoou a opacidade de Kirby. Sobre quais meios Washington utilizou para impedir a invasão a Rafah, Miller insistiu que as críticas levaram Israel a algum comedimento, mas reconheceu: “Nem sempre da maneira ou no grau que gostaríamos”.

Questionado se a Casa Branca se sente satisfeita com o resultado da abordagem, admitiu Miller: “Em muitos casos, não. Com certeza, não”. Sobre medidas punitivas, contudo, não respondeu.

Críticos denunciam o governo em Washington por manter o financiamento à máquina de guerra israelense mesmo no contexto dos massacres em Gaza, ao atenuar seu discurso sem, porém, acompanhá-lo com ações efetivas.

O incumbente democrata Joe Biden vive recorde de rejeição em plena campanha eleitoral, na qual deve voltar a enfrentar seu antecessor republicano Donald Trump. Eleitores progressistas citam o apoio de Biden a Israel como razão para se abster do voto.

Ainda assim, “não há indicativos de qualquer mudança na política do governo”, comentou o ex-agente da Agência Central de Inteligência (CIA), Michael DiMino.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, matando 28.576 pessoas e ferindo 68.291. Foram 103 mortos nas últimas 24 horas. Cerca de dois milhões de pessoas foram expulsas de suas casas, sob a destruição de 60% da infraestrutura civil.

As ações israelenses em Gaza são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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