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Israel exibe desprezo pela vida humana na Cisjordânia, alerta Anistia

Funeral de Ahmad Mousa Mohamed Jabbarin e Jalal Isa Mohamed Jabbarin, mortos por tropas israelenses em Hebron (Al-Khalil), na Cisjordânia ocupada, em 15 de janeiro de 2024 [Mamoun Wazwaz/Agência Anadolu]

Com a atenção global voltada a Gaza, Israel deflagrou também uma onda de violência contra os palestinos da Cisjordânia ocupada, advertiu um novo relatório da Anistia Internacional. Soldados conduziram execuções de campo e ataques desproporcionais, além de impedir o acesso médico aos feridos.

A organização investigou quatro casos emblemáticos nos quais forças coloniais apelaram ao uso de força letal — três incidentes em outubro e um em novembro, que incorreram em 20 mortos, incluindo sete crianças.

A investigação da Anistia confirmou que tropas ocupantes impediram socorro médico a pessoas com ferimentos letais e atacaram aqueles que buscavam auxiliá-las, incluindo trabalhadores da defesa civil.

Nos últimos meses, Israel intensificou ainda mais suas incursões militares em toda a Cisjordânia. Em um caso recente, soldados disfarçados invadiram um hospital — em flagrante violação da lei internacional.

Ao menos 507 palestinos foram mortos na Cisjordânia em 2023, entre os quais 81 crianças, tornando o ano o mais mortal à população nativa desde 2005, quando o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) passou a registrar as baixas.

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“Sob a cobertura dos bombardeios implacáveis e crimes atrozes em Gaza, o exército israelense lançou mão de uma campanha de força letal contra o povo palestino na Cisjordânia ocupada, ao conduzir assassinatos ilegais e exibir assustador despreza para com a vida palestina”, comentou Erika Guevara-Rosas, diretora global de pesquisa e política da Anistia.

“Essas execuções ilegais representam flagrantes violações da lei internacional, perpetradas com impunidade no contexto de manter o regime institucionalizado de Israel de opressão sistêmica e dominação sobre o povo palestino”, acrescentou.

“Tais incidentes contém evidências chocantes das consequências mortais do uso ilegal da força por Israel contra os palestinos da Cisjordânia”, reiterou.

“Autoridades de Israel, incluindo o sistema judiciário, se mostram vergonhosamente indispostas a assegurar justiça a vítimas palestinas. Neste clima de quase total impunidade, é preciso que o sistema de justiça internacional se faça valer. O promotor do Tribunal Penal Internacional [Karim Khan] deve analisar as mortes como possíveis crimes de guerra conduzidos deliberadamente. A situação na Palestina é um teste à legitimidade e reputação da corte. Não podemos arcar com o seu fracasso”.

A campanha de Israel na Cisjordânia inclui violenta intimidação de comunidades, terrorismo de estado e repressão a protestos em solidariedade a Gaza e aos presos políticos palestinos.

Entre 7 de outubro e 31 de dezembro, ao menos 299 palestinos foram mortos na Cisjordânia — um aumento de 50% comparado aos primeiros nove meses do ano, já marcados por recordes de letalidade. Em janeiro, foram ao menos 61 mortos, incluindo 13 crianças, confirmou o OCHA.

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A Anistia Internacional emitiu pedidos por informação sobre quatro casos à assessoria militar de Israel e ao Comando do Distrito de Jerusalém ocupada, em 26 de novembro — no entanto, sem qualquer resposta.

A Anistia afirmou manter investigações sobre outros casos, incluindo invasões coloniais a Jenin e Tulkarem, no norte da Cisjordânia. Desde 7 de outubro, operações coloniais se tornaram quase diárias, incluindo invasão de casas e campanhas de prisão. Estima-se 4.382 palestinos feridos no período — mais da metade dos quais durante tais operações.

Israel tem um longo histórico de uso excessivo ou letal da força para conter a atos de dissidência e manter seu sistema de apartheid contra o povo palestino.

Israel lançou sua ofensiva brutal sobre Gaza em 7 de outubro de 2023, em retaliação a uma ação transfronteiriça do Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo Israel, em torno de 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. Reportagens investigativas, no entanto, incluindo de agências israelenses, revelaram mais tarde que boa parte das baixas se deu por “fogo amigo”.

O movimento palestino justificou sua operação de resistência devido à brutal escalada colonial em Jerusalém e Cisjordânia ocupada, além dos 17 anos de cerco militar imposto a Gaza.

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Em quatro meses, o exército israelense matou 27.708 pessoas em Gaza, além de 67.147 feridos — em ampla maioria, mulheres e crianças. Dois milhões de pessoas, ou 85% da população civil, foram desabrigadas, sob escassez crítica de comida, água e medicamentos.

Aproximadamente 60% da infraestrutura do enclave foi danificada ou destruída, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

Nas últimas 24 horas, foram 123 palestinos mortos e 169 feridos por ataques israelenses.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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Palestina: quatro mil anos de história
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