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Genocídio é o resultado do jogo de espera da comunidade internacional

Corpo encontrado sob os escombros enquanto os esforços de busca e resgate continuam na área da cidade de Az Zawayda, em Deir Al Balah, Gaza, após um ataque aéreo israelense em 29 de janeiro de 2024 [Ashraf Amra/Agência Anadolu]

O que estamos testemunhando hoje em Gaza é o resultado da normalização, pela ONU, da colonização sionista da Palestina e do estabelecimento de Israel no território palestino em 1948. Para exacerbar as consequências da colonização, a ONU determinou que os assentamentos estabelecidos após 1967 são ilegais de acordo com o direito internacional, o que significa que os assentamentos coloniais anteriores foram isentos de escrutínio e a colonização tornou-se apenas uma série de violações do direito internacional, separada do processo de realização do conceito sionista de “Grande Israel”.

Até mesmo a Corte Internacional de Justiça (CIJ) foi incapaz de exigir um cessar-fogo, que é uma etapa prática preliminar para interromper o genocídio de Israel. Em questão de horas após a decisão da CIJ, Israel lançou um ataque contra a UNRWA, o que levou vários países ocidentais, muitos dos quais são grandes doadores, a cortar o financiamento da agência, levando a um dos atos mais visíveis de cumplicidade no genocídio de Israel contra os palestinos até agora.

E não é só isso. Uma conferência organizada pelo movimento de assentamento de extrema direita Nahala, com o tema “O assentamento traz vitória e segurança”, contou com a presença de membros do Knesset israelense, 12 dos quais eram membros do Likud. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, pediram a expansão dos assentamentos em Gaza, enquanto o ex-membro do Knesset, Moshe Feiglin, pediu que Gaza “floresça com vilas e cidades judaicas”. A conferência reforçou a chamada “migração voluntária” dos palestinos, que várias autoridades e diplomatas israelenses endossaram e pediram publicamente.

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Enquanto isso, hoje, as forças israelenses entraram no Hospital Ibn Sina em Jenin disfarçadas de civis e equipe médica, matando três homens palestinos dentro do hospital que, de acordo com a interminável narrativa de segurança de Israel, faziam parte de uma “célula terrorista do Hamas”. Esse é apenas o último de meses em que Israel ataca hospitais e outros locais que deveriam ser seguros para os palestinos, realizando execuções extrajudiciais sob o pretexto de presença do Hamas e indicando sua eliminação em larga escala de palestinos, inclusive na Cisjordânia ocupada.

Após essa destruição em larga escala da infraestrutura de Gaza, com sua população quase totalmente deslocada à força – sem mencionar que Gaza já é uma população de refugiados – e as tentativas de Israel de invadir Rafah, que é o ponto de passagem para o Egito e para onde muitos palestinos fugiram, o silêncio da comunidade internacional é tão macabro que chega a ser inacreditável. O passo seguinte e honesto para esse conglomerado de hipócritas assassinos é a comunidade internacional parar com suas falsas afirmações de apoio aos direitos palestinos. É impossível que qualquer governo seja levado a sério depois de um apoio tão evidente aos planos de colonização de Israel.

Israel está tornando Gaza estéril, refletindo o mito sionista da terra estéril, que era falso. Forçar os palestinos a sair de Gaza esvaziaria a terra de palestinos, e a comunidade internacional não tem escrúpulos quanto à transferência forçada, muito menos quanto ao genocídio. Depois de qualquer forma de desumanização, o mundo inteiro revelou sua verdadeira face quando se trata do povo palestino e de sua terra – que os palestinos só existiam na linguagem diplomática como um apêndice das necessidades de Israel em cada momento específico.

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É preciso dizer em alto e bom som: a comunidade internacional nunca foi a favor dos direitos dos palestinos, nem mesmo de um fragmento de um Estado hipotético. Ela apenas aguardou até que Israel revelasse seus planos finais.

Todo e qualquer palestino assassinado por Israel carrega o peso adicional de governos e instituições internacionais que dizem à população colonizada para esperar, para deixar que outras pessoas decidam por eles. O genocídio é o resultado dessa espera.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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