Portuguese / English

Middle East Near You

Estados Unidos lançam ataques aéreos a Iraque e Síria

Danos deixados por bombardeios americanos a Anbar, no Iraque, em 3 de fevereiro de 2024 [Hashd al-Shaabi/Divulgação/Agência Anadolu]
Danos deixados por bombardeios americanos a Anbar, no Iraque, em 3 de fevereiro de 2024 [Hashd al-Shaabi/Divulgação/Agência Anadolu]

O exército dos Estados Unidos lançou dezenas de bombardeios contra alvos na Síria e no Iraque como parte de sua primeira ação retaliatória a um ataque a drone perpetrado contra uma base americana na Jordânia, que matou três soldados e feriu quarenta.

“Sob ordens minhas, as Forças Armadas dos Estados Unidos atingiram alvos no Iraque e na Síria que a Guarda Revolucionária do Irã e milícias afiliadas usam para atacar nossas bases”, afirmou nesta sexta-feira (2) o presidente americano Joe Biden, em comunicado oficial.

“Nossa resposta começa hoje”, acrescentou, em tom beligerante. “E continuará em momentos e localidades de nossa escolha”.

O Comando Central dos Estados Unidos (Centcom) disse que suas forças atingiram ao menos 85 alvos em ambos os países, “com diversas aeronaves, incluindo bombardeiros de longa distância que partiram dos Estados Unidos”.

“Os ataques aéreos empregaram mais de 125 munições de precisão”, vangloriou-se a nota.

LEIA: BBC: Jornalista árabe experiente é ‘assediado racialmente’, diz tribunal trabalhista

Segundo o Centcom, as instalações atingidas são centros de operação e inteligência, arsenais e outras bases pertencentes a milícias ligadas às chamadas Forças al-Quds, unidade de elite do Irã que opera em toda a região.

O ataque a uma base na fronteira sírio-jordaniana ocorreu no último domingo (28).

A Resistência Islâmica no Iraque assumiu responsabilidade. O Irã, por sua vez, negou ordenar o ataque, ao reiterar que grupos aliados têm autonomia. O Pentágono não apresentou provas de envolvimento iraniano, mas subiu o tom contra a república islâmica.

“Os Estados Unidos insistem, desde o momento do ataque, que haveria uma resposta militar, e lideranças como Joe Biden e Lloyd Austin [secretário de Defesa] prometem que esta incidirá em formas variadas”, comentou Rosiland Jordan, correspondente da Al Jazeera no Pentágono.

“Esta é a primeira fase, não penso que será a última”, acrescentou.

Na sexta-feira, a imprensa estatal síria reportou uma “agressão americana” em diversas regiões do país, incluindo na fronteira com o Iraque, deixando mortos e feridos.

Fontes de segurança iraquianas relataram ao menos seis ataques aéreos.

“Os ataques são uma violação da soberania iraquiana”, alertou o porta-voz militar Yahya Rasool, “e impõem grave ameaça que pode arrastar o Iraque e toda a região a graves consequências”.

Guerra ampla

Embora Washington evite atacar diretamente o Irã até então, há receios de uma propagação da guerra regional decorrente do contínuo genocídio israelense na Faixa de Gaza.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação à Operação Tempestade de Al-Aqsa — operação transfronteiriça que capturou 253 colonos e soldados, após meses de escalada colonial na Cisjordânia e em Jerusalém ocupada, além de 17 anos de cerco a Gaza.

Segundo índices israelenses, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. No entanto, desde então, uma reportagem investigativa do jornal Haaretz revelou que boa parte das vítimas foi executada por “fogo amigo”, sob ordens diretas do exército para impedir a captura de reféns.

Em menos de 120 dias, Israel matou, no entanto, 27 mil palestinos de Gaza e feriu outros 66 mil, em ampla maioria mulheres e crianças. Nas últimas 24 horas, foram 112 mortos. Milhares continuam desaparecidos sob os escombros — provavelmente mortos.

Aeronaves israelenses não pouparam escolas, hospitais, abrigos ou mesmo rotas de fuga. Cerca de 85% da população de Gaza — ou dois milhões de pessoas — estão desabrigadas.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

Joe Biden autorizou os bombardeios no Iraque e na Síria após se reunir com familiares dos três soldados mortos no último domingo, enquanto a serviço no exterior.

O presidente e sua esposa, Jill Biden, visitaram a base aérea de Dober, no estado americano de Delaware na sexta-feira, para uma cerimônia realizada na ocasião da “transferência digna” dos corpos. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, e seu chefe do Estado-Maior Conjunto, Charles Q. Brown, também estiveram presentes.

Na ocasião, Biden afirmou “não buscar um conflito no Oriente Médio ou em qualquer lugar do mundo”, mas ameaçou: “Se alguém ferir um cidadão americano, responderemos”.

A declaração, contudo, contradiz a inação de sua gestão sobre incidentes envolvendo palestino-americanos nos territórios ocupados, como o assassinato da repórter Shireen Abu Akleh por um franco-atirador israelense enquanto cobria eventos na Cisjordânia.

No início da semana, Biden culpou Teerã pelo ataque, porém se negou a apresentar provas. “Eles são responsáveis, no sentido de fornecer a armas a quem quer que tenha feito”.

O presidente também contornou o Congresso ao ordenar bombardeios a Sanaa, capital do Iêmen, em resposta a um embargo conduzido pelo grupo houthi contra remessas comerciais a Israel no Mar Vermelho.

Biden, não obstante, busca angariar apoio eleitoral, sob crise interna e recordes de rejeição, às vésperas de uma conturbada campanha na qual deve enfrentar novamente o republicano Donald Trump.

Eleitores progressistas — cruciais à vitória democrata em 2020 — citam a cumplicidade da atual gestão na Casa Branca ao genocídio em Gaza como razão para se abster do voto.

LEIA: ‘Houthis não são o problema, mas sim a agressão israelense’, alerta Malásia

Categorias
IraqueJordâniaOriente MédioSíria
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments