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‘Vida ou morte’: Residentes de Gaza morrem de fome e sede, confirma OMS

Palestinos esperam para obter água distribuída pela ONU na região de Rafah, no extremo sul de Gaza, em 29 de janeiro de 2024 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou que os palestinos de Gaza “estão morrendo de fome” devido às restrições impostas por Israel à ajuda humanitária, à medida que o acesso a água potável “se tornou questão de vida ou morte” no território sitiado.

Os comentários da agência se dão no contexto da contiguidade das violações israelenses apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, para que a ocupação impeça “atos de genocídio” e permita o acesso humanitário.

Em retaliação, Israel lançou uma campanha contumaz contra organizações internacionais, entre as quais a OMS, a corte em Haia e a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).

“Trata-se de uma população que está morrendo de fome, toda uma população empurrada cada vez mais à beira do abismo”, advertiu nesta quarta-feira (31) Michael Ryan, diretor executivo da OMS para o Programa de Emergência. “Civis não são parte do conflito e devem ser protegidos, assim como as instalações de saúde”.

Ryan observou que os palestinos de Gaza vivem uma “catástrofe de massa”, com risco evidente de piorar ainda mais.

“Não podemos esperar que uma população viva indefinidamente às custas de ajuda alimentar. É preciso haver socorro emergencial para virar o barco … Mas se você misturar falta de nutrientes com superlotação e exposição ao frio, cria-se condições para enormes epidemias, sobretudo em crianças. De fato, já vemos estes surtos de doenças”, acrescentou Ryan.

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Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da OMS, enfatizou que sua organização enfrenta “desafios extremos” para manter seu apoio ao sistema de saúde de Gaza.

“Mais de cem mil palestinos de Gaza estão mortos, feridos, desaparecidos ou presumivelmente mortos”, explicou o oficial. “O risco de fome é altíssimo e aumenta a cada dia com persistentes hostilidades e acesso humanitário restrito”.

“O complexo médico de Nasser, principal hospital no sul de Gaza, opera agora com apenas uma ambulância”, detalhou Ghebreyesus. “Pacientes são transportados de burro”.

A OMS tentou levar comida ao hospital na terça-feira (30); contudo, “multidões desesperadas” interceptaram as remessas, lamentou Ghebreyesus.

A UNRWA ecoou a preocupação em postagem nas redes sociais: “Em Gaza, todo dia é uma luta para achar pão e água. Todo dia é uma luta para sobreviver. Sem água segura para o consumo, muitas pessoas morrerão de sede e doenças”.

Tamara Alrifai, chefe de comunicação da UNRWA, reafirmou: “A superlotação, com milhares de pessoas compartilhando poucos chuveiros e banheiros, agrava surtos de doenças de pele, como sarna e piolho. Estimativas recentes mostram que há um chuveiro para cada duas mil pessoas e 500 pessoas para cada sanitário”.

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Dias após doadores estrangeiros, sob incitação israelense, cortarem recursos cruciais à UNRWA, a agência humanitária destacou que ao menos 270 ataques israelenses atingiram instalações da ONU, incluindo abrigos aos deslocados pela guerra.

“Estes ataques causaram 372 mortes confirmadas”, elucidou a nota. “Porque não há outro lugar para ir, as pessoas continuam, no entanto, a se abrigar nessas mesmas instalações, mesmo após os bombardeios. A situação é desesperadora”.

Segundo a Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas, a campanha de Israel a Gaza deixou o território “inabitável”.

“Dados confirmam que ao menos 50% dos edifícios de Gaza foram danificados ou destruídos”, reportou Rami Alazzeh, economista da agência. “Quanto mais durarem as operações em Gaza … mais grave será o impacto”.

O fórum comercial da ONU reiterou que a situação em Gaza já era precária muito antes de 7 de outubro, devido aos 17 anos de cerco militar israelense por mar, ar e terra, além de ataques de tempos e tempos, incluindo seis ofensivas de larga escala desde então.

Segundo o relatório, cerca de 80% da população depende de ajuda humanitária para sobreviver. Além disso, a economia de Gaza contraiu 4.5% nos três primeiros trimestres de 2023.

Alazzeh confirmou que “todo o setor econômico parou” e que os únicos ainda empregados são aqueles indivíduos do setor humanitário.

O relatório estima que, caso o processo de reconstrução comece imediatamente, levará 70 anos para que Gaza alcance o produto interno bruto (PIB) de 2022, que já apresenta grave recessão. Contornar a catástrofe requer “dezenas de bilhões de dólares”, estimou o estudo.

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“Somente ao encerrar os confrontos e suspender o bloqueio haverá esperanças para resolver de maneira sustentável a crise política, socioeconômica e humanitária que assola Gaza”, concluiu o relatório. “Este ciclo vicioso de devastação e reconstrução parcial precisa acabar, para negociar uma solução pacífica com base na lei internacional e nas resoluções da ONU”.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, deixando 27 mil mortos e 65 mil feridos — na maioria, mulheres e crianças. Cerca de 60% da infraestrutura civil foi destruída, deixando dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são crime de guerra e lesa-humanidade.

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