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Cortes nas doações à UNRWA buscam liquidar a agência, alerta Liga Árabe

Sede danificada da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), em Khan Yunis, na Faixa de Gaza, em 26 de janeiro de 2024 [Jehad Alshrafi/Agência Anadolu]

A Liga Árabe alertou neste domingo (28) para as graves consequências da suspensão nos envios financeiros de Estados ocidentais à Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), à medida que milhões de palestinos serão afetados.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

“Esta campanha não é novidade e tem como intuito liquidar o trabalho da agência, que serve a milhões de refugiados”, afirmou Ahmed Aboul-Gheit, secretário-geral da Liga Árabe.

Segundo seu alerta, a suspensão dos recursos em meio ao genocídio israelense a Gaza “implica deixar que os civis deslocados morram de fome, ao capitular ao plano israelense para eliminar sua causa de uma vez por todas”.

Diversos Estados ocidentais, com destaque para Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Austrália e Canadá, suspenderam suas remessas à UNRWA após Israel alegar na sexta-feira (26) que 12 indivíduos, dos 30 mil funcionários da agência, estavam envolvidos nos ataques do Hamas de 7 de outubro.

Israel não deu detalhes tampouco provas do suposto envolvimento.

A UNRWA, no entanto, confirmou revogar imediatamente os contratos em questão.

“A campanha [contra a UNRWA] busca pressionar a comunidade internacional a abandonar suas responsabilidades em prover assistência aos refugiados palestinos e impor todo o fardo a países solidários, sobretudo os países árabes”, declarou Aboul Gheit.

LEIA: OMS desmente acusações israelenses de ‘conspirar’ com o Hamas

A UNRWA foi criada por uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1949, para conter a crise decorrente da Nakba, ou “catástrofe”, quando 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras para dar lugar à criação do Estado de Israel, no ano anterior.

Segundo Aboul Gheit, a comunidade internacional tem responsabilidade sobre os refugiados da Palestina, ao prover doações até que uma solução justa seja firmada.

Desde sua deflagração a Gaza, Israel acusa funcionários da UNRWA de trabalhar para o Hamas, ao adotar alegações infundadas como justificativa para atacar escolas e instalações da agência, incluindo abrigos onde milhares de deslocados palestinos buscam refúgio.

Israel, em sua campanha de propaganda de guerra, busca equiparar trabalhadores da agência, assim como a população de Gaza de modo geral, a membros do Hamas, ou “terroristas”, como meio para deslegitimá-la; contudo, sem provas.

Há anos, autoridades israelenses conduzem um firme lobby internacional para fechar as portas da agência — único órgão da ONU com mandato específico para prover apoio e serviços básicos aos refugiados palestinos em toda a região.

Caso a instituição deixe de existir, insiste Tel Aviv, a questão dos refugiados tampouco existe, e o direito legítimo de retorno dos palestinos a sua terra torna-se prescindível.

O Estado colonial de Israel nega o direito de retorno aos palestinos desde sua criação, mediante limpeza étnica, muito embora sua filiação às Nações Unidas seja condicionada a isso.

LEIA: As ordens provisórias do TIJ: A Convenção sobre Genocídio se aplica a Gaza

As mais recentes acusações israelenses são ainda retaliação à decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de deferir a denúncia sul-africana de genocídio em Gaza como “plausível”, ao proceder com as investigações.

A corte emitiu uma medida cautelar para que a ocupação israelense deixe de obstruir o acesso humanitário a Gaza, melhore as condições e evite incorrer em atos de genocídio.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 26.422 palestinos mortos e 65.087 feridos — em maioria, mulheres e crianças. Cerca de 85% da população de Gaza — ou dois milhões de pessoas — foram deslocadas pelos bombardeios, sob a destruição de 60% da infraestrutura civil, segundo as Nações Unidas.

Hospitais, escolas, abrigos, mesquitas, igrejas e rotas de fuga não foram poupados.

No domingo (28), o Ministério de Relações Exteriores da Turquia expressou apreensão sobre os cortes ocidentais à UNRWA.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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