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Sob ataques de Israel, médico de Gaza amputa perna de sobrinha sem anestesia

O Dr. Hany Al-Faisal, um médico palestino, fez um apelo ao mundo para acabar com a injustiça e a brutalidade em Gaza enquanto amputava a perna de sua filha de 16 anos em sua mesa de jantar, sem anestesia. Enquanto tanques e sons de tiros são ouvidos ao fundo, ele explica que eles estão presos em sua casa há mais de 15 dias, enquanto sua filha foi ferida em um ataque aéreo israelense. Ele diz que está a 5 minutos do hospital Al-Shifa, mas não pode mover sua filha, pois teme por suas vidas. O pai perguntou em desespero: "Onde estão os direitos humanos? Onde está a dignidade?

O médico palestino Hani Bseiso enfrentou uma situação assustadora quando sua sobrinha ainda adolescente se viu gravemente ferida pelos bombardeios israelenses contra sua casa, na Cidade de Gaza. Bseiso foi obrigado a amputar a perna da menina ou arriscar perdê-la para uma grave hemorragia; contudo, sem os insumos de saúde adequados.

Sem acesso a um hospital e com apenas um par de tesouras e algumas gazes, Bseiso removeu a parte inferior da perna de A’hed, em uma cirurgia realizada sobre a mesa de jantar, sem sequer anestesia. Vídeos do incidente viralizaram no Instagram.

No registro, um dos irmãos de A’hed a segura contra a mesa; outros dois seguram celulares para iluminar o cômodo e permitir a delicada operação.

A residência fica a apenas 1.8 km dos Hospital al-Shifa, maior complexo de saúde de Gaza, a seis minutos de carro ou 20 minutos de caminhada, mas intensos disparos israelenses na vizinhança impossibilitaram a breve jornada.

“Não tive escolha”, destacou Bseiso à agência Reuters em entrevista realizada nesta semana, no mesmo cômodo onde conduziu a amputação, em 19 de dezembro. “Minha escolha era deixar a menina morrer ou tentar salvá-la dando o melhor das minhas habilidades”.

“Se eu poderia levá-la ao hospital? É claro que não”, respondeu Bseiso à Reuters, ao descrever o cerco israelense sobre a região. “Os tanques estavam na porta da minha casa”.

O episódio coincidiu com ataques do exército israelense contra o hospital al-Shifa, que causaram a morte de dezenas de pacientes, incluindo bebês recém-nascidos. Israel justificou a campanha ao afirmar que o complexo de saúde — agora inoperante — servia de base ao Hamas; contudo, sem evidências, mesmo após invadir o local.

A’hed Bseiso, de 18 anos, é parte de uma jovem geração de amputados palestinos, vítimas da campanha indiscriminada de Israel. A’Hed sobreviveu, mas médicos alertam que muitos mortos pereceram justamente por não conseguir chegar a um hospital.

Deitada em sua cama, semanas após a cirurgia, A’hed disse à Reuters ter visto um tanque perto de sua casa em torno das 10h30 da manhã, quando tentava encontrar sinal para ligar para o pai, que vive no exterior.

Ela e sua irmã entraram às pressas e fecharam as cortinas; pouco depois, houve os disparos.

A’hed percebeu que não sentia mais a perna quando familiares removeram um estilhaço. “Eles me puseram sobre a mesa de jantar. Não havia equipamento. Meu tio pegou a esponja com que lavamos louça, um cabo e um pouco de desinfetante. Então, começou a limpar minha perna. Ele amputou minha perna sem anestesia nem nada, dentro de casa”.

Questionada sobre a dor, respondeu a menina: “Eu tentava apenas agradecer a Deus e lembrar do Alcorão. E graças a Deus não senti muita coisa, mas havia dor, é claro, e a cena era chocante”.

Desde então, A’hed passou por cirurgias adicionais em um hospital para tratar toda extensão de seus ferimentos.

Israel mantém bombardeios contra Gaza há três meses, deixando 25 mil mortos, 60 mil feridos e dois milhões de desabrigados. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.

Mais de mil menores em Gaza tiveram membros amputados, conforme dados de novembro do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Os feridos sofrem ainda risco de doenças e infecções, à medida que o cerco israelense obstrui o acesso a medicamentos e itens de higiene, sobretudo nos abrigos superlotados.

Israel destruiu cerca de 60% da infraestrutura civil de Gaza. Hospitais, escolas, abrigos e rotas de fuga não foram poupados.

As ações israelenses são crime de guerra e genocídio.

 LEIA: O livro de Ilan Pappe, Ten Myths About Israel, desafia a campanha de propaganda

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