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Chefe da OMS pede fim da ‘carnificina’ em Gaza

Familiares de palestinos mortos pelos bombardeios israelenses no necrotério do Hospital el-Najar, em Rafah, no sul de Gaza, em 21 de dezembro de 2023 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

Tedros Adhanom Ghebreyesus, chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou nesta quinta-feira (21) que a “carnificina tem de acabar” na Faixa de Gaza sitiada, ao alertar paras as condições catastróficas na região, após o número de mortos exceder 20 mil vítimas.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

“Perdi as contas quantas vezes pensei que a crise em Gaza não poderia ficar pior”, lamentou Adhanom na rede social X (Twitter). “No entanto, voltou a acontecer”.

Segundo Adhanom, o número de baixas civis no enclave costeiro sob bombardeios de Israel, em apenas dois meses, é “assustador” e um “ultraje para toda a humanidade”.

“Os horrores não têm fim para aqueles presos [na Faixa de Gaza], no que se tornou o inferno na terra”, prosseguiu o oficial das Nações Unidas, ao reiterar que uma média de 300 pessoas são mortas diariamente.

Adhanom deu ênfase à crise da infraestrutura de saúde, com somente nove dos 36 hospitais de Gaza parcialmente operantes — nenhum deles na região norte.

“A carnificina tem de acabar. Precisamos de um cessar-fogo AGORA”, reafirmou.

Adhanom citou o caso do Hospital al-Ahli, último centro de saúde no norte de Gaza a fechar as portas, dois dias atrás, apesar da alta demanda de cirurgias. “Não há mais hospitais ativos no norte de Gaza. Apenas quatro locais operam minimamente, ao prover cuidados bastante limitados”.

Em vídeo, Sean Casey, coordenador de emergência da OMS, descreveu a situação em al-Ahli, após a chegada de um pequeno comboio assistencial.

“Há pacientes feridos aqui há mais de um mês, que ainda não puderam passar por cirurgia”, relatou Casey. “Há pacientes que foram operados, mas pegaram infecções porque não temos antibióticos suficientes. Esta é uma situação completamente inaceitável”.

Adhanom alertou ainda para uma “mistura tóxica de doenças, fome e falta de saneamento”.

“A fome enfraquece as defesas do organismo e abre as portas para doenças. Gaza já vivencia altíssimos níveis de surtos infecciosos”, explicou o médico de carreira, ao notar um aumento de 2500% nos casos de difteria entre crianças menores de cinco anos de idade.

“Doenças como essas podem ser letais em crianças desnutridas, em particular, na ausência de serviços de saúde realmente funcionais”, advertiu Adhanom.

Israel mantém bombardeios intensos contra Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação surpresa do grupo Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados.

LEIA: O vergonhoso desequilíbrio nas relações EUA-Israel

Egito e Catar mediaram uma trégua de sete dias em novembro para trocar cem israelenses por 240 presos políticos palestinos — todos mulheres e crianças. Israel, contudo, dobrou a população carcerária palestina em dois meses, com 4.600 prisões neste período — a maioria das quais sem julgamento ou sequer acusação; reféns, por definição.

Estima-se que o Hamas e outros grupos de resistência tenham ainda 129 prisioneiros em sua custódia. As facções palestinas pedem um cessar-fogo abrangente para então negociar uma nova troca de prisioneiros.

Apesar de uma crise interna e pressão internacional, Israel rejeita um cessar-fogo. O premiê Benjamin Netanyahu prometeu nesta semana “lutar até a vitória”, ao reforçar uma retórica supremacista que confirma intenções de limpeza étnica e anexação de terras.

Desde outubro, a campanha israelense em Gaza deixou 20 mil civis mortos e 50 mil feridos, além de dois milhões de deslocados internos. A maioria das vítimas são mulheres e crianças.

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