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A América Central diante do genocídio palestino

Xiomara Castro, presidenta de Honduras [Agência Anadolu]
Xiomara Castro, presidenta de Honduras [Agência Anadolu]

O istmo centro-americano é composto pelos seguintes países, do norte na fronteira com o México ao sul fazendo divisa com a Colômbia. São estes: Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. São países com bastante diversidade interna e sempre uma relação tensa com Estados Unidos, apesar de um intenso fluxo migratório para o norte e reenvio de dinheiro desde a imigração. Neste trabalho, observamos o comportamento de cada um desses Estados durante os meses de outubro e novembro de 2023 em função da guerra do Estado Sionista contra o povo palestino.

A posição dos países centro-americanos diante do genocídio contra Gaza

Logo após o início da operação Tempestade em Al Aqsa o presidente salvadorenho, de família palestina e cujo paí é um veterano da insurgência da FMLN reforçou a tese do Departamento de Estado comparando o Hamas a uma organização terrorista e com supostos laços criminais. Nayib Bukele afirmou que “a melhor coisa que poderia acontecer ao povo palestino é o desaparecimento do Hamas e a prosperidade de boas pessoas nos Territórios Palestinos”.

Além disso, sentenciou que o Hamas “não representa os palestinos”. Isto foi publicado dias depois do atentado de 7 de outubro. Bukele comparou o grupo islâmico com o que está acontecendo em seu país. “Qualquer pessoa que apoie a causa palestina cometeria um grande erro ao aliar-se a estes criminosos. Seria como se nós, salvadorenhos, tivéssemos ficado do lado dos terroristas do MS13 (gangue), só porque partilhamos ancestrais ou nacionalidade”.

Desde então, não fez qualquer declaração nem o seu Governo emitiu outra declaração oficial. Para o único presidente de um país soberano e de origem palestina o virtual ditador salvadorenho envergonha a todas as comunidades árabes da América Latina. Por sorte o mau exemplo do traidor não se reproduz em outros lugares.

No dia 03 de novembro o governo de Honduras sob o comando da presidenta Xiomara Castro mandou retornar o embaixador de seu país do Estado Colonial do Apartheid Sionista. O duro comunicado diplomático alega que a retirada do representante do país do cacique Lempira é a constante violação do direito internacional e humanitário por parte das forças supremacistas financiadas pelos Estados Unidos. Segundo a chancelaria de Tegucigalpa:

A Secretaria de Relações Exteriores comunica à população hondurenha e aos meios de comunicação nacionais e internacionais […], diante do genocídio e da grave situação de violação ao direito internacional humanitário — bem como da violação ao essencial direito à vida vivenciada pela população civil palestina, vítima inocente da vingança de Israel contra o Hamas —, […] o seguinte: Honduras condena energicamente o genocídio e as graves violações ao direito internacional humanitário que está sofrendo a população civil palestina na Faixa de Gaza. Isso constitui um crime contra a humanidade.”

O outro país que avançou na condenação internacional a carnificina sionista foi Belize, outrora uma possessão inglesa e com a presença de capitais transnacionais de duvidosa precedência. A chancelaria de Belmopã (capital do pequeno país) afirma que há um problema sistemático de violação de direitos humanos. As autoridades de Belize decidiram retirar a aprovação ao credenciamento de Eіnat Кrаnz-Nеіgеr, embaixador designado de Israel na nação, bem como suspender todas as atividades realizadas pelo Consulado de Israel em Belize e a nomeação do cônsul. No comunicado informaram que:

Desde 7 de outubro de 2023, as Forças de Defesa de Israel (IDF) envolveram-se em bombardeamentos indiscriminados e implacáveis em Gaza, que mataram mais de 11.000 civis inocentes, a maioria mulheres e crianças. O bombardeamento destruiu muitos edifícios e infra-estruturas, incluindo hospitais, escolas e outras construções.Israel violou sistematicamente o direito internacional, o direito humanitário internacional e os direitos humanos dos habitantes de Gaza. O Governo de Belize também retira o seu pedido de acreditação de Јоnаthаn Еnаv como Cônsul Honorário de Belize.”

Já a Nicarágua sob a controversa Presidência de Daniel Ortega e Rosario Murillo (sua vice e esposa) havia rompido relações com o Apartheid Sionista em 2010. Por um movimento alegadamente “pragmático” retomou os laços diplomáticos mas se manteve distante de Tel Aviv em 2017. Ainda assim não houve proximidade alguma com a política sionista, um membro do Comitê Executivo da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) foi recebido em Manágua no dia 13 de novembro. Antes a Assembleia Nacional havia declarado:

Nicarágua se solidariza com o povo palestino, reiterando que somos um país amante da paz. Condenamos a ocupação da Faixa de Gaza, que gera uma grave situação humanitária para o povo palestino, uma ocupação que produz vítimas e dor na população.”

Anteriormente, numa declaração intitulada “Basta de vítimas e de dor”, o Poder Executivo da Nicarágua afirmou:

Condenamos veementemente, como sempre, esta situação trágica, dramática que se agrava continuamente, face à arrogância, cegueira, incompreensão e inacção da comunidade .” internacional e particularmente as Nações Unidas. O povo palestino e israelita tem o direito de viver em segurança e paz. Devemos contribuir respeitosamente para o diálogo que garanta os seus direitos e o pleno reconhecimento dos seus Estados”.

Imediatamente após o dia 07 de outubro a Costa Rica afirmou que: “condena da forma mais enérgica os atrozes e deploráveis ataques terroristas do Hamas contra Israel”, dizia o comunicado divulgado nesse dia pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que depois expressou “solidariedade ao governo e ao povo de Israel” e rejeição ao terrorismo.

Também em outubro de 2023 foi anunciado por Manuel Tovar, chefe do Ministério do Comércio Exterior (Comex) como um mês “chave” na negociação de um acordo de livre comércio (TLC) entre a Costa Rica e Israel. Em março deste ano de 2023 numa visita de Tovar a Israel, em março, que juntamente com o Ministro da Economia e Indústria do Estado Colonial do Apartheid, Nir Barkat, foi anunciada a intenção de negociar este TLC.

Já o governo do Panamá, envolto em um grave conflito sócio-ambiental interno se posicionou de modo a retirar seus nacionais de lá. País que conta com importante comunidade palestina, também viu israelenses que lá residem retornarem para a Palestina Ocupada de modo a cumprir com a missão de matar mulheres e crianças árabes. A chancelaria panamenha fez esforços imediatos já no terceiro dia de “conflito” e neste sentido se posicionou de forma mais negocial, semelhante ao ministério de relações exteriores do Brasil até conseguir a retirada da primeira leva de brasileiros de Gaza.

Na América Central, o país mais próximo do Estado Sionista é a Guatemala. Tel Aviv em todo o período que os setores “trabalhistas” governaram os Territórios Ocupados em 1948, apoiou a repressão interna, ajudou no treinamento de esquadrões da morte e na inteligência das tiranias que sucederam o mandato constitucional de Jacobo Árbenz em 1954, derrubado por um golpe de Estado da CIA.

O atual presidente, Alejandro Giammattei, além de insistir em tentar promover um golpe de Estado contra o presidente eleito Bernardo Arévalo (só assume em janeiro), no próprio dia 07 de outubro emitiu o seguinte comunicado:

O Governo da Guatemala, através do Ministério das Relações Exteriores, condena veementemente os ataques ocorridos hoje em Israel, vindos de Gaza, e expressa a sua mais profunda preocupação com estes atos terroristas. O Governo da República transmite a sua solidariedade ao Povo e ao Governo de Israel, especialmente às famílias das vítimas, e defende a rápida restauração da paz neste país amigo”.

Não é por acaso que neste país está a maior presença de peso eleitoral das chamadas “igrejas neopentecostais”, praticantes de um proselitismo sionista e com o costume de decorar a capital do país com bandeiras de Israel.

Linhas conclusivas

O isto centro-americano forma um conjunto de países sob ameaça direta e constante dos Estados Unidos. Para além das idiossincrasias de cada país, há uma presença constante de setores árabes que terminam compondo o topo da pirâmide de classes, sendo socialmente brancos e nem sempre leais aos seus territórios de origem. Infelizmente, a descendência palestina não é exceção e o exemplo de Bukele é o mais aterrador de todos, mas não é o único.

Em contrapartida a memória da luta social vincula o movimento popular e a insurgência das últimas décadas do século XX com a epopeia da resistência palestina. No que diz respeito ao desenvolvimento econômico e as disputas intra-capitalistas do século XXI, os BRICS formam um saída viável e levam a alguma simpatia para com a Causa Palestina. A combinação destes fatores pode vir a superar a presença estadunidense, neopentecostal e sionista, ainda preponderante nas elites centro-americanas.

Obs: Este artigo foi escrito antes do cessar fogo temporário entre o Apartheid Sionista e a Resistência Palestina.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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