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Dois povos, o mesmo inimigo. Um único estado democrático

Muçulmanos indianos seguram cartazes com diversas mensagens durante um protesto contra Israel e exigem o fim da guerra em Gaza, em 13 de outubro de 2023, na cidade de Calcutá, Índia [Dipa Chakraborty/ Eyepix Group/Future Publishing via Getty Images]

Durante o regime perverso do nazismo que promoveu o genocídio de 6 milhões de Judeus no Holocausto, ocorria a todo a vapor a propaganda de guerra, a qual, além de motivar o ódio e o antissemitismo contra esse povo. Ao mesmo tempo, para observatórios de direito humanos e para propaganda na mídia, vendiam a ideia que estavam cuidando do povo Judeu nos campos de concentração.

Mas atualmente, em Gaza, ocorre um dos maiores genocídios da história, além da limpeza étnica na Cisjordânia, que vem sendo televisionado há 50 dias ao vivo na mídia global e o mundo, e as Nações Unidas, os governos e seus países assistem à barbárie. Mesmo com a transmissão, a comoção é seletiva por parte da grande mídia, financiam-se influencers com táticas indenitárias para tentar limpar a imagem do Estado sionista de Israel. A cobertura orientalista faz com a propaganda de guerra ainda continue e “normalize” a limpeza étnica de um povo em pleno século XXI.

Houve mais de 15 mil mortos em Gaza e na Cisjordânia, entre eles, 7 mil crianças. Houve, uma “pausa” na guerra, e a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos foi feita. Nas prisões israelenses, há 5 mil reféns palestinos, dentre eles mais de 300 crianças.

“Pausa” para quem? Enquanto Israel liberava 117 reféns palestinos, ao mesmo tempo, prendeu nos últimos três dias 116 palestinos. Além de atirar em civis que estavam retornando para suas casas no Norte de Gaza, assassinando 2 pessoas e ocasionando mais mortes nas celebrações do acolhimento dos reféns palestinos. Na Cisjordânia houve 4 mortos. Não houve cessar-fogo!

Diante dos ataques ao Hospital de Al-Shifa, em Gaza, o terror promovido por soldados sionistas, agredindo e assassinando equipe médicas, pacientes e feridos, alegando ser uma base militar do Hamas, foi desmentido até pela CNN. A emissora mostra o forjamento de “evidências”, armas, equipamentos na estrutura do hospital, além do “túnel” que fora supostamente tampado por médicos em menos de três dias. Esta farsa, tão mal feita, fora desmentida pela emissora burguesa.

Para nós, que aqui assinamos, de origem palestina, um, e de origem judaica, o outro, uma criança estraçalhada em Gaza é exatamente igual à uma criança estraçalhada no Gueto de Varsóvia.

Gaza não passou de prisão a cemitério a céu aberto, devido à resistência palestina.

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Aí vieram aos atos de solidariedade ao povo palestino, desde os judeus de Nova York, até os muçulmanos de Kerala, na Índia, reunindo várias crenças e os sem religião. Os maiores atos foram, em geral, ali onde os governos são cúmplices de Netanyahu!

Só no Dia Mundial de Solidariedade ao Povo Palestino, dia 29 de novembro, no Brasil, ocorreram pelo menos 50 atos em todo o país, compilados pelo Comitê Nacional de Solidariedade ao Povo Palestino.

Houve também boicotes ao embarque de armas em 7 portos, manifestos de intelectuais, organizações médicas e de direitos humanos, 61 deputados brasileiros; agências da ONU se posicionaram.

Mas como instituição a ONU nada fez de prático. Não obstante, ela mesma define o genocídio como

a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso enquanto tal”.

E não é o que repete Netanyahu, coberto por Biden, inclusive na limpeza étnica na Cisjordânia?

Nós, que assinamos, perguntamos: como é possível o bombardeio contínuo de civis por mais de 50 dias?

Para nós, isso é uma expressão, há outras – fome e miséria, desemprego, meio ambiente – de uma ordem internacional esgotada, que ameaça arrastar a humanidade para o caos das guerras, o abismo.

Rosa Luxemburgo, revolucionária de ascendência judaica assassinada na Alemanha em 1919, formulou com agudeza o dilema “Socialismo ou Barbárie”. Nada mais atual. Se a revolução está atrasada, traços da barbárie protuberam.

É uma variante bárbara de extermínio, o que estamos vendo em Gaza.

A questão vem de longe. A primeira partilha da Palestina histórica foi em 1917. A Grã Bretanha ocupava a região que viria a ser outorgada pela Liga das Nações como Mandato Britânico. Lorde Balfour, ministro de Sua Majestade, enviou então uma carta ao banqueiro Rothschild prometendo-lhe um “lar nacional judaico”, bandeira do muito minoritário sionismo.

A partilha final, já na ONU em 1947, foi bancada por Harry Truman, dos EUA, e Joseph Stalin, da antiga URSS, interessados num enclave, o Estado sionista de Israel, para manipular os povos e as riquezas petrolíferas. Mas a maioria dos milhões de judeus traumatizados que no pós-guerra saíram da Europa Central e do Leste, não foi para Israel, foi para os EUA, Canadá, Austrália, Europa Ocidental e América Latina.

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As fronteiras da fundação de Israel não foram respeitadas, nem os “acordos de paz”. Esse Estado precisa da guerra permanente – com as detestáveis mortes de civis em todos os lados – para coesionar e ampliar fronteiras “seguras”, na verdade, inseguras por definição, face à inaceitável expropriação e expulsão de 750 mil palestinos na Nakba, e que continua. Israel continua negando o Direito ao Retorno dos palestinos, consagrado na lei internacional.

Hoje, está claro que faliu a solução dos “dois Estados” – Israel e Autoridade Nacional Palestina – oriunda do “Acordo de Oslo”, em 1993.

Não é razoável que o governo do nosso presidente Lula mantenha relações diplomáticas “normais” com o estado-apartheid de Israel. É hora de uma escalada de anulação de convênios militares, científicos e acadêmicos, até o bloqueio das relações comerciais e a ruptura de relações diplomáticas

Nós, que aqui assinamos, ainda jovens começamos a combater o sionismo em diferentes situações, todavia, juntos apresentamos uma reflexão. É preciso garantir direitos iguais aos dois povos que conviveram e, por trabalhoso que seja, podem voltar a conviver fraternamente. Os povos definirão soberanamente o que lhes convém.

De nossa parte, nos associamos à todas as vozes contra o genocídio e, em particular, ao One Democratic State Campaing (Campanha por Um Único Estado Democrático), de palestinos e judeus como Haidar Eid, professor de literatura em Gaza, e Ilan Pappé, historiador israelense. Estamos juntos por ajuda humanitária, pelo fim da colonização e do apartheid, pela liberdade para os palestinos, por um único estado democrático.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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