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Choramos com os palestinos, reitera rabino antissionista

Protesto pró-Palestina abarca progressistas americanos, membros da comunidade árabe e judeus ortodoxos no Brooklyn, em Nova York, Estados Unidos, em 21 de outubro de 2023 [Andrew Lichtenstein/Corbis via Getty Images]

“Aqueles que realmente acreditam no judaísmo estão em luto pelos crimes cometidos pelo Estado de Israel contra os palestinos”, comentou Yisroel Dovid Weiss, rabino e porta-voz do Neturei Karta, grupo de judeus antissionistas fundado em Jerusalém.

“Em nossa fé, matar e roubar é proibido”, acrescentou. “Israel estabeleceu seu Estado ao tomá-lo dos árabes. É por isso que choramos com os palestinos”.

Em entrevista à agência Anadolu, Weiss denunciou os princípios do sionismo — ideologia fundacional do Estado de Israel —, além da violência imposta contra o povo palestino e a expropriação de suas terras para fins coloniais.

Segundo Weiss, as pessoas ainda confundem o judaísmo com o sionismo e é preciso conscientizá-las e instruí-las.

“O sionismo é a ideologia do Estado de Israel, que tenta representar a si mesmo como Estado judeu. Alegam representar a religião judaica, afirmam falar em nome de Deus”, explicou o experiente rabino. “Alegam ser a voz no mundo do povo judeu, com vínculo direto a Deus e ao Torá. Mas isso não é verdade”.

Weiss contestou também a difamação posta contra críticos e dissidentes pelo rótulo de “antissemitas”. Para o rabino, judaísmo e sionismo, no entanto, são fundamentalmente opostos um do outro.

“Judaísmo e sionismo são tão diferentes um do outro quanto o céu e a terra; contradizem um ao outro. Judaísmo é sobre submeter-se a Deus, Todo Poderoso, enquanto sionismo é sobre submeter-se a um nacionalismo extremo cujo propósito é tomar tudo a seu alcance para construir um país”.

Weiss recordou que o sionismo levou à Nakba — ou catástrofe palestina — em 1948, com a criação do Estado de Israel, mediante limpeza étnica planejada, com a expulsão de centenas de milhares de palestinos nativos de suas terras.

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O sacerdote reiterou a importância de expressar gratidão conforme o Torá, ao destacar o acolhimento histórico da comunidade judaica entre os muçulmanos, incluindo séculos de prosperidade comum e recíproca no Oriente Médio.

Weis desmentiu também explicações simples e binárias sobre a matéria: “Muçulmanos e judeus viveram juntos por séculos, mas o sionismo insiste que a oposição a seu Estado se deve aos muçulmanos odiarem os judeus. Mas não é verdade. Em todos os aspectos, é o Estado de Israel que age em contradição aos princípios de tolerância do Torá”.

“Como judeus devotos, rezamos a Deus todos os dias para o fim do Estado de Israel em sua natureza sionista, que causou tamanho banho de sangue entre judeus e palestinos. Oramos a Deus pela libertação da Palestina. Que a Palestina seja livre e que todos possamos servir a Deus em harmonia”.

“O Estado não se alicerça em uma religião, mas uma ideologia”, reafirmou Weiss. “Há gente que diz com orgulho que os sionistas são democratas. Mas quando olhamos para como eles tratam os árabes e muçulmanos fica claro que isso é uma piada”.

Em seguida, Weiss explicou como a criação de um Estado judaico infringe os ensinamentos da fé, mesmo em uma área supostamente “desolada” ou desabitada — o que não é o caso da Palestina histórica, com um povo nativo com raízes na terra há quatro mil anos.

Ao citar o Livro do Êxodo, proclamou Weiss: “Nós, como judeus, fizemos uma Aliança com Deus no Monte Sinai para obedecê-Lo e nunca violar o Torá. Esta Aliança ainda existe. Nós temos de respeitá-la. Mas o sionismo, criado há cerca de 150 anos, equipara território e a religião. Não existe essa conexão”.

“Proclamar a existência de um Estado judaico é, na verdade, uma rebelião contra Deus. Isso se deve ao fato de que Deus nos mandou ao exílio, e devemos permanecer no exílio até que haja uma mudança metafísica, quando toda a humanidade servir a Deus em harmonia”.

No fim de semana, o exército israelense intensificou seus ataques por ar e terra contra a Faixa de Gaza, ao cortar a comunicação entre o mundo externo e o território sitiado, sob bombardeios incessantes desde a ação surpresa do grupo de resistência Hamas em 7 de outubro, ao cruzar a fronteira e capturou colonos e soldados.

A campanha decorreu de recordes de escalada colonial em Jerusalém e na Cisjordânia e 17 anos de cerco militar contra Gaza.

As ações israelenses equivalem a punição coletiva, crime de guerra e genocídio. Estima-se até dez mil mortos entre os palestinos de Gaza até então.

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Comparações com o Gueto de Varsóvia e a perseguição nazista contra judeus e outras minorias na Europa se tornaram abundantes nas últimas semanas. Gaza é comumente descrita como “campo de concentração a céu aberto”.

Declarações inflamatórias de líderes israelenses — como o ministro da Defesa, Yoav Gallant, chamando os 2.4 milhões de pessoas de Gaza de “animais”, ou do próprio premiê Benjamin Netanyahu, convocando uma “guerra santa” contra as “crianças das trevas” — também são remanescentes da retórica desumanizante do nazismo e outras campanhas de genocídio ao longo da história.

Desde o início dos bombardeios israelenses a Gaza, organizações de judeus antissionistas em todo o mundo ganharam destaque nos protestos por cessar-fogo e justiça ao povo palestino, ao reafirmar “Não em nosso nome” e “Nunca mais é nunca mais para todos”.

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