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Testemunhos de 7 de outubro corroboram ‘fogo amigo’ e desmentem narrativa israelense

Foguetes disparados de Gaza interceptados pelo Domo de Ferro em Ashkelon, no território considerado Israel, em 16 de outubro de 2023 [Saeed Qaq/Agência Anadolu]

Novos testemunhos em primeira pessoa dos confrontos com combatentes do movimento de resistência Hamas em 7 de outubro sugerem que, pegos de surpresa pela incursão por terra, soldados israelenses dispararam contra seus próprios cidadãos com artilharia pesada, sendo portanto responsáveis por boa parte das baixas da ocasião.

Relatos compilados pela rede The Grayzone contradizem a versão colonial dos fatos.

O exército israelense não apenas se recusa a revelar detalhes das supostas atrocidades como regularmente difunde campanhas de desinformação nas redes sociais e na mídia corporativa tradicional. Rumores de estupros e “bebês degolados” se provaram inverdades.

Em contrapartida, a propaganda de guerra foi aplicada de modo intensivo para justificar a punição coletiva dos 2.4 milhões de habitantes em Gaza.

Não obstante, após análise cuidadosa dos eventos, a reportagem investigativa contrapôs a narrativa israelense sobre a morte de civis, ao indicar “fogo amigo” em larga escala.

Tuval Escapa, coordenador de segurança do kibbutz Be’eri, responsável por uma linha direta entre a comunidade colonial e as Forças Armadas, confirmou que comandantes israelenses tomaram “decisões difíceis”, como “disparar contra casas com seus habitantes dentro, a fim de eliminar terroristas e reféns [sic]”.

Yasmin Porat, que sobreviveu ao impasse em Be’eri, confirmou o relato.

Conforme Porat, durante os confrontos “não há dúvidas” de que forças especiais de Israel mataram todos os reféns remanescentes, junto de dois combatentes rendidos, ao realizar disparos de tanques de guerra e fuzilamentos indiscriminados.

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Porat reiterou que os militantes trataram os reféns “muito humanamente”, com objetivo claro de levá-los a Gaza antes de as forças ocupantes invadirem o local. Segundo o relato, seu parceiro ainda estava vivo quando foi atingido por disparos impulsivos.

Relatos de “fogo amigo” contra israelenses que fugiam das áreas alvejadas são comuns.

A testemunha Danielle Rachiel descreveu quase morrer após escapar da ofensiva do Hamas ao festival de música Nova. Ao dirigir em segurança para deixar a área, soldados israelenses dispararam contra seu veículo, parando apenas ao ver que ela gritava em hebraico.

O jornal israelense Yedioth Aharanoth reportou: “Soldados tiveram enorme dificuldade em distinguir nos postos avançados e assentamentos quem era terrorista [sic] e quem era civil ou militar. A taxa de disparos foi tremenda em um primeiro momento e, apenas após certo tempo, os soldados diminuíram o ritmo para selecionar seus alvos com mais cuidado”.

Outros vídeos dos assentamentos mostram corpos sob escombros das residências locais, de maneira a indicar artilharia de tanques de guerra israelenses, dado que as tropas palestinas não têm acesso a tecnologias como essas.

Imagens mostram áreas devastadas de modo a lembrar ruínas deixadas pelos sucessivos bombardeios israelenses a Gaza ao longo dos anos.

Pilotos de helicópteros Apache reconheceram disparar continuamente sem sequer obter informações sobre seus alvos. Equipes alocadas em tanques de guerra receberam ordens para bombardear casas, independente dos reféns.

Críticos sugerem que as imagens mais chocantes — como corpos carbonizados “para além do reconhecimento” —, promovidas pela propaganda de guerra israelense podem retratar vítimas de suas próprias tropas.

Uma imagem suspeita, por exemplo, mostra uma lixeira repleta de corpos carbonizados, ao alegar atrocidades do Hamas, mas relatos indicam que os mortos em questão sejam de fato combatentes palestinos.

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Os relatos, em conjunto, apontam dois aspectos contrários: primeiro, militantes do Hamas buscaram minimizar baixas entre os prisioneiros de guerra e os trataram “humanamente”; segundo, no calor da batalha, soldados israelenses recorreram a disparos indiscriminados contra civis e residências, resultando em ampla proporção de mortos entre seus próprios cidadãos — baixas que poderiam ser evitadas, mas que foram adotadas desde então para justificar o genocídio em Gaza.

Neste fim de semana, o exército israelense intensificou seus ataques por ar e terra contra a Faixa de Gaza sitiada, sob bombardeios ininterruptos desde o ataque surpresa do grupo de resistência Hamas em 7 de outubro.

A campanha decorreu de recordes de escalada colonial em Jerusalém e na Cisjordânia e 17 anos de cerco militar contra Gaza.

As ações israelenses equivalem a punição coletiva, crime de guerra e genocídio. Ao menos 8.306 palestinos foram mortos por Israel até então.

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