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Sob ataques de Israel, OMS não consegue entregar ajuda ao norte de Gaza

Médicos e paramédicos tratam menino palestino ferido pelos bombardeios israelenses no Hospital do Kuwait em Rafah, na Faixa de Gaza sitiada, 22 de outubro de 2023 [Abed Rahim Khatib/Agência Anadolu]

Com remessas humanitárias bastante limitadas desde o fim de semana à Faixa de Gaza, não há garantias de segurança para que estas cheguem aos hospitais no norte do território, sob ininterrupto bombardeio de Israel, advertiu nesta terça-feira (24) a Organização Mundial da Saúde (OMS).

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Durante coletiva de imprensa em Genebra, Rick Brennan, diretor de Emergência da OMS para o Mediterrâneo Oriental, lamentou o “enorme risco” às equipes responsáveis pelas entregas assistenciais.

“Não temos garantias de segurança para prestar socorro ao Hospital de al-Shifa — o maior da região — ou outros hospitais no norte”,

declarou Brennan. “Portanto, ajudar essa parte do território não é possível no momento”.

“A OMS continua impossibilitada de distribuir bens essenciais para salvar vidas, entregues via travessia de Rafah a Gaza em 21 e 22 de outubro, a hospitais de referência no norte de Gaza, devido às hostilidades em curso e falta de garantias de segurança”, reiterou.

“Suprimentos médicos são essenciais aos principais centros médicos de Gaza, como o Hospital al-Shifa, cuja ocupação dos leitos chega a 150%, e o Hospital Turco, principal provedor de serviços a pacientes com câncer”, prosseguiu Brennan.

“A OMS pede um cessar-fogo imediato para fins humanitários, para que estes suprimentos sejam distribuídos em segurança a toda a área”.

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Brennan observou que a agência tem remédios e equipamentos aguardando na fronteira do Egito capazes de suprir cirurgias a até 3.700 pacientes de trauma, além de serviços básicos a 110 mil pessoas e cuidados a 20 mil pacientes de doenças crônicas.

Colapso de saúde

“Combustível é urgentemente necessário”, afirmou Brennan, à medida que os hospitais de Gaza ainda operantes enfrentam escassez crítica, deixando milhares de pacientes sob risco de vida.

Ao menos mil pacientes de diálise estão vulneráveis, além de pacientes em unidades de terapia intensiva (UTIs) e outros que esperam cirurgia. Ao menos 130 bebês prematuros podem morrer em questão de minutos caso as incubadoras fiquem sem energia.

Na segunda-feira (23), a OMS — em parceria com a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina — entregou 34 mil litros de combustível a quatro hospitais do sul de Gaza e a serviços ambulatoriais da Sociedade do Crescente Vermelho.

“Todavia, isso foi suficiente apenas para manter ambulâncias e funções críticas nos hospitais por pouco mais de 24 horas”, confirmou Brennan. “Um terço dos hospitais já não estão mais funcionando”.

“Não apenas as instalações e trabalhadores estão sobrecarregados pelo grande número de feridos, como o colapso do sistema de saúde significa que pacientes com doenças crônicas terão cada vez mais dificuldade de acesso a serviços indispensáveis, de modo que a taxa de mortalidade deve também subir”, acrescentou.

Na última semana, Israel ordenou a evacuação de um milhão de pessoas do norte de Gaza, como álibi de relações públicas a seus bombardeios a áreas civis. Especialistas, no entanto, advertiram para o risco de uma catástrofe humanitária, à medida que milhares de pessoas — como doentes e idosos — não podem fazer a jornada.

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Brennan e porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic – participando por videoconferência de uma coletiva no Cairo —, assim como de Tamara Alrifai, também representante do órgão, não puderam confirmar se outro comboio conseguiria entrar em Gaza nesta semana.

O terceiro comboio de 20 caminhões cruzou Rafah na segunda-feira, com um volume muito abaixo das demandas estimadas em cem caminhões por dia para reagir à crise humanitária que assola os habitantes de Gaza.

Neste entremeio, Israel bombardeia rotas de fuga e “zonas seguras”, além de estradas usadas para fins humanitários, enquanto preserva seu cerco absoluto à faixa costeira.

Ao promover o cerco absoluto aos 2.4 milhões de pessoas em Gaza — sem luz, sem água, sem comida —, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, os descreveu como “animais”.

Escalada militar

Questionado sobre a possibilidade de maior escalada devido à presença crescente de tropas dos Estados Unidos no Oriente Médio, Rolando Gomez, porta-voz da Organização das Nações Unidas em Genebra, alegou preferir não comentar sobre “decisões nacionais”.

“Não comentaremos sobre quaisquer decisões nacionais”, declarou. “É claro, no entanto, que a mensagem geral é: queremos uma desescalada do conflito. Certamente queremos acesso humanitário, aumento no acesso conforme as condições necessárias — incluindo segurança”.

O massacre em curso na Faixa de Gaza é retaliação à chamada Operação Tempestade de Al-Aqsa, ação de resistência do grupo Hamas que cruzou a fronteira por terra e capturou colonos e soldados, em 7 de outubro deste ano.

A ação decorreu de recordes de escalada colonial em Jerusalém e na Cisjordânia ocupada, além de 17 anos de cerco militar a Gaza. Os ataques israelenses desde então equivalem a punição coletiva, genocídio e crime de guerra.

Ao menos 5.791 pessoas — dentre as quais, mais de duas mil crianças — foram mortas por Israel até então, além de mais de 15 mil feridos. Outros milhares continuam desaparecidos — provavelmente mortos — sob os escombros.

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