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Colômbia condena genocídio em Gaza e sugere cortar laços com Israel

Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, na 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2023 [ONU]

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, confirmou neste domingo (15) sua intenção de enviar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, que sofre com o cerco absoluto e bombardeios intensos a áreas civis por parte de Israel.

Petro denunciou o “genocídio” perpetrado pela artilharia israelense em Gaza, ao reivindicar proteção legal aos trabalhadores de saúde. Em seguida, reiterou que ataques sistemáticos a civis devem ser interrompidos imediatamente, em respeito à lei internacional.

Segundo Petro, é preciso preservar as necessidades básicas da subsistência em Gaza, por meio de um cessar-fogo e devido acesso humanitário.

Em resposta aos apelos humanitários, o Ministério de Relações Exteriores de Israel anunciou a suspensão de todas as exportações de segurança à Colômbia.

Lior Haiat, porta-voz da chancelaria, declarou que a embaixadora colombiana em Tel Aviv, Margarita Manjarrez, foi convocada para reprimenda por supostos “comentários hostis e antissemitas [sic]” proferidos por Petro.

A acusação de Haiat coincide com a falácia de que críticas aos crimes de guerra de Israel equivalem a racismo antijudaico, apesar de protestos de judeus antissionistas em todo o mundo que ecoaram gritos de “não em nosso nome”.

Na rede social X (Twitter), afirmou Haiat: “Por instrução do ministro de Relações Exteriores, Eli Cohen, o subdiretor-geral para América Latina da chancelaria, Jonathan Peled, convocou a embaixadora da Colômbia, Margarita Manjarrez, para uma conversa de reprimenda, após comentários hostis e antissemitas [sic] do presidente Gustavo Petro, na última semana”.

LEIA: A Liga Árabe acusou Israel de ter cometido crimes de guerra em Gaza

“Na reunião, deixou-se claro à embaixadora que as declarações foram recebidas em Israel com assombro, após o selvagem ataque terrorista [sic] dos terroristas do Hamas [sic], que mataram mais de 1.300 israelenses e sequestraram 150”, prosseguiu. “Em resposta, Israel decidiu interromper as exportações de segurança à Colômbia”.

Israel mantém bombardeios intensos sobre os 2.4 milhões de civis da Faixa de Gaza sitiada desde 7 de outubro, em resposta a uma operação de resistência do movimento Hamas. Ao menos 2.670 palestinos foram mortos em uma semana, além de 9.600 feridos.

O volume de bombas lançadas ao pequeno enclave costeiro apenas na última semana é quase igual ao número de projéteis disparados pelos Estados Unidos no Afeganistão em todo o ano de 2019.

Apesar da tentativa de intimidação, Petro não recuou.

“Se temos de suspender relações com Israel, assim o faremos. Não apoiamos genocídios. Ao presidente da Colômbia, não se insulta”, reafirmou, também no Twitter. “Convoco a América Latina à solidariedade real com a Colômbia. Caso contrário, será o desenrolar da história que dirá a última palavra”.

O presidente mencionou dois oficiais israelenses responsáveis por fornecer treinamento e armas a grupos paramilitares de extrema-direita na Colômbia: o mercenário Yair Klein e o general e falecido comandante do exército Raifal Eithan.

“Nem os Yair Klein, nem os Raifal Eithan poderão dizer qual é a história de paz na Colômbia. Desataram o massacre e o genocídio em nosso país. A Colômbia, como nos ensinou [Simón] Bolívar e [Antonio] Narinõ, é um povo independente, soberano e justo”.

“Um dia, o exército e o governo de Israel nos pedirão perdão pelo que seus homens fizeram em nossa terra, desatando um genocídio. Abraçarei eles e elas para prantear o homicídio de Auschwitz e de Gaza, e o Auschwitz colombiano”, concluiu Petro. “Hitler será derrotado pelo bem da humanidade, por nossa democracia, paz e liberdade do mundo”.

A que se refere Petro?

As forças militares e de inteligência de Israel são notórias por seu intercâmbio estratégico com ditaduras e grupos paramilitares na América Latina. No caso da Colômbia, Israel teve um papel central em possibilitar um genocídio no país.

Milícias vinculadas a governos de extrema-direita mataram milhares e expulsaram milhões de suas casas — entre as quais, o grupo conhecido como Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), cujo líder, Carlos Castaño, viajou para Israel para receber treinamento em táticas de terrorismo.

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O instrutor de Castaño foi o então tenente-coronel Yair Klain — mais tarde, mercenário, levado à Colômbia para treinar a Polícia Nacional.

Todos os ramos das Forças Armadas colombianas usam armamentos israelenses, como rifles e blindados, e recebem treinamento das chamadas Forças de Defesa de Israel (FDI). As ações em solo colombiano para destruir a dissidência coincidem com a brutal agressão colonial em solo palestino.

Em 2021, tropas colombianas recorreram a armas e inteligência de Israel para tentar conter protestos de massa contra o então presidente de extrema-direita Ivan Duque. Ao menos 80 manifestantes foram mortos.

O que disse Petro previamente?

Após o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, confirmar um “bloqueio total” — “sem comida, sem água, sem luz, nem nada” — contra os 2.4 milhões de moradores de Gaza, ao descrevê-la como “animais”, Gustavo Petro denunciou seu flagrante racismo.

“É isso que os nazistas disseram sobre os judeus. As sociedades democráticas não devem permitir que o nazismo se restabeleça na política internacional”, alertou o presidente, ao observar que o discurso — ecoado por autoridades ocidentais e pela mídia corporativa — levaria a um “holocausto”.

“A barbárie de consumo baseado na morte dos demais nos leva a uma ascensão do fascismo sem precedentes e, portanto, à morte da democracia e da liberdade. Nesta barbárie foi onde ascendeu Hitler ao poder”, afirmou Petro ainda no domingo. “O que vemos na Palestina será também o sofrimento de todos os povos do sul”.

“O Ocidente defende seu consumo excessivo e seu estilo de vida baseado em acabar com a atmosfera e o clima; para defendê-lo, sabendo que provocará o êxodo do sul ao norte, não apenas do povo palestino, responde com morte”.

“As direitas do sul recorrem à violência, atacam a democracia e se sentem, desde o norte, legitimados a isso. Creem que podem matar e realizar genocídios e tudo que precisam é a bênção do poderio global”.

“Vamos à barbárie se não mudarmos a lógica de poder. A vida da humanidade e de todos os povos do sul depende do caminho escolhido pela humanidade para superar a crise climática produzida pelo acúmulo de riqueza no norte. Gaza é somente o primeiro experimento para considerar todos e todas descartáveis”.

ASSISTA: Caminhões de sorvete de Gaza transformados em necrotérios 

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