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Chefe do Hamas explica contexto e objetivos da Operação Tempestade de Al-Aqsa

O chefe político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Istambul, Turquia, em 2 de dezembro de 2021 [Ömer Ensar/Agência Anadolu]

Em discurso televisionado, Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político do movimento Hamas, descreveu as ações de resistência da Operação Tempestade de Al-Aqsa, realizada no sábado (7), incluindo incursão por terra e captura de colonos e soldados, como “uma grande vitória, um triunfo reluzente”.

Ao destacar o contexto e os objetivos da ação de resistência — legítima, conforme o direito internacional — observou Haniyeh: “Alertamos o mundo sobre o governo fascista em Israel, que deixou colonos livres para semear a violência em Jerusalém e na Mesquita de Al-Aqsa”.

Haniyeh deu destaque aos milhares de prisioneiros palestinos mantidos em detenção arbitrária há décadas, além da colonização na Cisjordânia, cujo intuito é exterminar a presença palestina de suas terras ancestrais e anexar a área.

Em torno das 6h15 da manhã deste sábado (7), a resistência palestina lançou a maior campanha de artilharia de sua história em direção aos assentamentos israelenses nos arredores da Faixa de Gaza sitiada, seguida por incursões por terra que incorreram na captura de oficiais do exército e colonos.

Israel respondeu ao declarar “guerra” aos dois milhões de civis palestinos radicados na pequena faixa costeira, com ministros de alto escalão descrevendo os palestinos como “animais” e pedindo seu extermínio.

Bombardeios tomam os céus de Gaza desde então.

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Veja abaixo trechos do discurso de Ismail Haniyeh, realizado em 7 de outubro de 2023, publicados pela rede de notícias Al Jazeera:

“Dissemos, não brinquem com fogo. Dissemos, não ultrapassem os limites. Mas taparam seus ouvidos e fecharam seus olhos. Mas profanaram nossos lugares santos e agrediram nossas mulheres”, acrescentou Haniyeh.

“Impuseram a nosso povo o que parece ser a plena proibição ao movimento na Cidade Santa [Jerusalém]. Proibiram que rezassem na Mesquita de Abraão”, observou em alusão a abusos e restrições no chamado Túmulo dos Patriarcas, na cidade ocupada de Hebron (Al-Khalil), na Cisjordânia ocupada.

“Alertamos contra intensificar a colonização da Cisjordânia … Quantas vezes atacaram Jenin, Tubas, Nablus, Tulkarem, al-Khalil, Ramallah, al-Bira, Belém e outras cidades? Quantas vezes mataram nossos rapazes, mulheres e crianças diante dos olhos indiferentes do mundo? Mas não nos escutaram”

“O que esperavam os derrotistas, que propagaram a cultura de impotência e desespero, com seu caminho de normalização? … Hoje, Gaza apaga dos árabes e muçulmanos a vergonha da derrota, da aceitação, da indolência. Grandiosos são aqueles que comandam essa batalha, a batalha pelo início da libertação de Jerusalém, de nossa terra, nosso povo e nossos irmãos e irmãs nas cadeias da ocupação”.

“Quantas vezes alertamos o mundo de que há prisioneiros nas cadeias da ocupação, mais de seis mil de nossos irmãos, nossas crianças, nossos jovens, nossos homens e mulheres, alguns há décadas atrás das grades? Mas Israel acossa os prisioneiros de propósito. O sádico Itamar Ben-Gvir [ministro de Segurança Nacional, deputado de extrema-direita], impõe mais e mais pressão e perseguição aos prisioneiros. O governo israelense, todavia, virou suas costas para todo e qualquer apelo por negociações para uma troca de prisioneiros políticos”.

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“Quantas vezes alertamos sobre o bloqueio injusto imposto a Gaza, que levou a tamanho sofrimento humano? A situação em Gaza, sob bloqueio há quase 20 anos, se fez pior por quatro ou cinco guerras devastadoras perpetradas por Tel Aviv, que deixaram dezenas de milhares de mortos e feridos e casas destruídas”.

“Gaza vive essa crise humanitária, como uma gigantesca prisão a céu aberto que mantém reféns 2.2 milhões de pessoas. O bloqueio de Gaza é mal rompido por pouquíssima ajuda humanitária e escassa autorização para importação, a fim de desviar a atenção do mundo. Eles pensam que Gaza, seus moradores, nosso povo, aceitararão essas injustiças e ficarão quietos diante da crise humanitária e tudo que acontece em Jerusalém e na Cisjordânia”.

“Quantas vezes alertamos contra cometer e perpetuar seus crimes nos territórios palestinos ocupados em 1948 [hoje, considerado Israel] e tentativas de isolar os palestinos lá? Todavia, espalharam morte, terror e execuções deliberadas dentre nosso povo. Todas as campanhas para aniquilar líderes e acadêmicos palestinos, até mesmo crianças e cidadãos comuns, nos territórios de 1948 são uma política de ocupação e uma das injustiças cometidas por Israel”.

“Quantas vezes lembramos a eles da existência de um povo palestino que, há 75 anos, vive na diáspora, em tendas e campos de refugiados? Mas escolheram ignorar nosso povo, seus direitos legítimos. E, lamentavelmente, muitos países conferiram cobertura a essas políticas de Israel”.

“Basta! Não temos escolha senão embarcar nessa jornada estratégica e completar o ciclo da Primeira e Segunda Intifadas, das revoluções da resistência palestina, ao coroá-las com uma batalha pela libertação de nossas terras, nossos santuários, nossos concidadãos nas cadeias da ocupação”.

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“A Operação Tempestade de Al-Aqsa foi lançada de Gaza, mas se estenderá a Cisjordânia, Jerusalém e os territórios ocupados em 1948, assim como a diáspora … Nosso objetivo é claro: liberar nossa terra, nossos santuários, nossos prisioneiros. Sem hesitação. Este é o objetivo de que vale nossa coragem. As Brigadas al-Qassam fizeram o inimigo perder sua compostura em questão de minutos, com a infiltração épica de homens que escrevem a história com o sangue de suas mãos”.

“Digo à resistência, à Cisjordânia e à diáspora, a toda a comunidade árabe-islâmica, a nossos aliados estratégicos em todo o mundo: Este é nosso dia. Temos um encontro marcado com a vitória, para trabalhar juntos pela vitória — com a Graça de Deus”

“Ao inimigo: nem suas ameaças, nem sua arrogância lhe serviram até agora e não poderão servi-los no futuro. Temos uma única coisa a dizer: devolvam nossas terras”.

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