Crimes de ódio aumentam em Jerusalém, colonos tentam justificar cuspir em cristãos

Cristãos sofrem “perseguição” endêmica perpetrada por colonos ilegais em Jerusalém ocupada, sob omissão do governo israelense, advertiu nesta terça-feira (3) o Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

“Sentimos na pele a perseguição contra nossa comunidade e nossa religião”,

afirmou Youssef Daher, coordenador da entidade eclesiástica em Jerusalém ocupada, em entrevista à agência de notícias Anadolu.

“Há uma perseguição judaico-israelense em curso contra nós, encorajada pela negligência da polícia ou por declarações feitas por ministros do gabinete israelense”, explicou. “Se a polícia fosse séria, não permitiria tais incidentes. A omissão encoraja os extremistas”.

Na segunda-feira (2), vídeos circularam nas redes sociais de colonos israelenses cuspindo em cristãos que deixavam uma igreja na Cidade Velha de Jerusalém.

O Patriarca Latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, reiterou que tais incidentes não são novidade. “Contudo, sinto que recentemente se tornaram mais comuns”.

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“[A escalada] está relacionada a grupos ultraortodoxos e sionistas religiosos, cuja presença na Cidade Velha [de Jerusalém] é maior do que nunca”, advertiu Pizzaballa. “Não há dúvida de que há rabinos que aprovam e mesmo encorajam tais ações”.

Pizzaballa destacou a responsabilidade do governo de extrema-direita do premiê Benjamin Netanyahu por instigar a escalada contra os cristãos. “Alguns desses grupos sentem que, se não recebem apoio [do Estado], ao menos recebem proteção”.

O patriarca explicou, no entanto, que os ataques contra cristãos não são um caso isolado. “O que vemos acontecer aos cristãos é parte de um fenômeno maior. Vozes moderadas não são ouvidas e vozes extremas se tornam mais fortes”, reiterou.

As violações contra cristãos registraram pico no último final de semana, durante o início do feriado judaico de Sucot, quando milhares de colonos marcharam à cidade, ao ecoar gritos racistas e perpetrar atos de agressão.

Colonos defenderam as agressões sob o pretexto de “um antigo costume judaico”.

Elisha Yered — suspeito de envolvimento no assassinato do jovem palestino Qusai Jamal Maatan — defendeu cuspir em terceiros na rede social X (Twitter).

“Vale dizer que cuspir nas adjacências de um padre ou de uma igreja é um antigo costume judaico”, afirmou Yered. “Talvez, devido à influência ocidental, nos esquecemos do que é a Cristandade, mas penso que milhões de judeus que passaram pelas cruzadas no exílio, por torturas da Inquisição e pelos pogroms de massa jamais se esquecerão”.

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Há cerca de oito mil palestinos cristãos em Jerusalém ocupada, insistiu Daher. A comunidade documentou numerosos ataques nos últimos meses. As paróquias, de sua parte, registraram boletins de ocorrência; contudo, sem resposta.

Jerusalém Oriental foi ocupada por Israel em 1967, durante a chamada Guerra dos Seis Dias. A região abriga, além da Mesquita de Al-Aqsa (terceiro lugar mais sagrado para o islamismo), diversos santuários cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro.

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