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Assad viaja à China em busca de saída para isolamento diplomático

A viagem de Assad à China é uma de suas mais longas turnês no exterior desde 2011.

O presidente da Síria, Bashar al-Assad, chegou à cidade de Hangzhou, no leste da China, em sua primeira viagem ao país desde 2004, em meio a seus esforços para superar mais de uma década de isolamento diplomático sob sanções ocidentais.

As informações são da agência de notícias Reuters.

Assad voou pela Air China sob neblina, relatou a imprensa estatal chinesa ao observar “uma atmosfera de mistério” em torno das incomuns viagens do presidente sírio ao exterior desde 2011, quando eclodiu a guerra civil no país árabe, deixando meio milhão de mortos.

Assad deve participar neste sábado (23) da cerimônia de abertura dos Jogos Asiáticos, junto de dezenas de dignitários estrangeiros. Deve seguir então a diversas cidades para participar de reuniões oficiais. Ainda hoje (22), deve se encontrar com o presidente Xi Jinping.

Ser visto publicamente com Xi deve outorgar à campanha global de Assad um novo verniz de legitimidade. A Síria juntou-se à Iniciativa do Cinturão e Rota — ou Nova Rota da Seda — em 2022. Em maio deste ano, retornou à Liga Árabe.

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Com uma economia em frangalhos e pouquíssimos resultados até então, Assad está ansioso por apoio financeiro. Contudo, investimentos chineses ou outros na Síria são ameaçados por sanções dos Estados Unidos sob o Ato Caesar de 2020.

Em seu terceiro mandato, Xi Jinping se mostra mais aguerrido em desafiar a hegemonia dos Estados Unidos, como se evidencia pelo diálogo com Assad,

afirmou Alfred Wu, professor da Escola de Políticas Públicas de Lee Kuan Yew em Singapura.

A visita de Assad à China em 2004 foi a primeira de um chefe de Estado sírio desde que laços foram estabelecidos entre os países em 1956.

A China, assim como os principais apoiadores de Assad, Rússia e Irã, manteve relações com o regime mesmo após a repressão contra protestos populares que engendrou a guerra.

Sanções

A viagem de Assad à China é uma de suas mais longas turnês no exterior desde 2011.

Além dos Estados Unidos, Austrália, Canadá e países da Europa impõem sanções à Síria, mas esforços para adotar um embargo multilateral contra a autocracia em Damasco falharam em superar os vetos russo e chinês no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A China recorreu a seu poder de veto oito vezes em moções de repúdio a Assad. Entretanto, evita conferir apoio direto aos esforços do regime para reaver áreas oposicionistas.

A Síria tem importância estratégica às ambições chinesas, situada entre Iraque e Turquia — respectivamente, grande fornecedor de petróleo ao gigante asiático e terminal de diversos corredores econômicos entre Ásia e Europa.

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Em 2008 e 2009, as estatais de petróleo Sinopec, Sinochem e CNPC investiram juntas US$3 bilhões na Síria. A Sinochem, por exemplo, investiu US$900 milhões na compra da Emerald Energy, sediada em Londres, com recursos sírios, apesar de suas operações no país assolado pela guerra estarem paralisadas desde 2011.

A Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC) cessou sua produção em solo sírio em torno de 2014.

Analistas, no entanto, duvidam que as empresas chinesas retornem tão brevemente ao país, dada as condições precárias de segurança e economia.

“A Síria tenta obter investimentos da China há eras”, comentou Samuel Ramani, analista do think-tank londrino RUSI. “A grande questão, contudo, é se as propostas debatidas durante a visita serão convertidas em projetos materiais”.

“No momento, a China está frustrada com o Ocidente e a Síria tenta ampliar laços, mas será que isso será convertido em algo tangível?”, acrescentou.

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