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Tempestade Daniel pode prenunciar outros desastres no Mediterrâneo

Inundações causadas pela Tempestade Daniel em Misrata, na Líbia, em 10 de setembro de 2023 [Emhmmed Mohamed Kshiem/Agência Anadolu]

A Tempestade Daniel excedeu previsões de precipitação das autoridades locais e deixou um rastro de devastação na região mediterrânea na semana passada, ao resultar em 15 mortos na Grécia central e mais de 2.500 no leste da Líbia.

À medida que o ciclone varria a costa norte-africana, autoridades do Egito tentaram acalmar o público ao dizer que Daniel enfim perdera força. “Não há razão para pânico!”, escreveu em destaque o jornal Al Ahram em sua edição online.

As mudanças climáticas, no entanto, demandam apreensão dos países na região, ao antever o aumento em tempestades brutais.

“Há evidências consistentes de que a frequência de ciclones tropicais mediterrâneos cai com as mudanças climáticas, mas sua intensidade aumenta”, comentou Suzanne Gray, professora do Departamento de Meteorologia da Universidade de Reading, no Reino Unido, ao citar um artigo do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas.

Na Grécia, a tempestade formada em 4 de setembro deixou para trás um calor escaldante e incêndios florestais.

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Na Líbia, a cidade de Derna foi submersa pelas águas que verteram das colinas rumo ao leito de um rio frequentemente seco. Duas barragens romperam e agravaram as inundações, que destruíram um quarto da cidade costeira.

Estima-se até dez mil desaparecidos, conforme a Federação Internacional das Sociedades da Cruz e do Crescente Vermelho.

Apesar de não possuir dados finais, Christos Zerefos, especialista em clima e secretário-geral da Academia de Atenas, calcula que o volume de precipitações na Líbia equivale aos 1.000 mm (um metro) que caíram sobre a região de Tessália, em apenas dois dias.

Zerefos descreveu o desastre como “evento sem precedentes”, com recordes de precipitação desde o início dos registros em meados do século XIX.

“Esperamos que tais fenômenos ocorram com maior frequência”, advertiu.

Pesquisadores indicam, entretanto, que o impacto sobre os diversos países do Mediterrâneo é desigual, à medida que Estados mais carentes sofrem maiores baixas.

A Líbia, assolada por mais de uma década de instabilidade e confrontos, dividida entre dois governos rivais, mostra-se particularmente em risco.

“A complexidade política e o histórico de conflitos prolongados na Líbia impõem desafios ao desenvolvimento de estratégias de análise e comunicação de risco, operações coordenadas de resgate e manutenção de infraestrutura crítica, como represas”, observou Leslie Mabon, professor do Departamento de Meio-ambiente da Open University do Reino Unido.

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Antes mesmo da Tempestade Daniel, Abdelwanees Ashoor, hidrólogo da Universidade Omar al-Mukhtar na Líbia, alertou que as sucessivas inundações na região de Derna preconizavam ameaças às comunidades ribeirinhas.

Sequer a Grécia, com melhores recursos, não conseguiu lidar adequadamente com o ciclone tropical. Casas, pontes e estradas foram destruídas, linhas de energia colapsaram e colheitas na planície fértil da Tessália foram erradicadas.

Autoridades gregas disseram na segunda-feira que mais de 4.250 pessoas foram evacuadas de aldeias e comunidades na região.

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