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Estão sozinhos os palestinos em sua luta contra a brutalidade de Israel?

Soldados israelenses reprimem protesto palestino contra a construção de assentamentos ilegais na aldeia de Beit Decen, na região de Nablus, na Cisjordânia ocupada, em 25 de agosto de 2023 [Nedal Eshtayah/Agência Anadolu]

Forças da ocupação israelense intensificaram suas incursões sangrentas contra os palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, matando e ferindo centenas de inocentes, incluindo mulheres, crianças e idosos.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), desde o começo de 2023, autoridades de Israel foram responsáveis pela morte de mais de 200 palestinos. Em informe ao Conselho de Segurança, duas semanas atrás, Tor Wennesland — coordenador especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Oriente Médio — advertiu que a mortalidade entre os palestinos nativos bateu todos os recordes desde 2005, em plena Segunda Intifada.

Tropas e colonos israelenses continuam a alvejar propriedades palestinas e demoliram mais de 300 estruturas nos territórios ocupados, resultando no deslocamento de 420 palestinos, entre os quais, ao menos 194 crianças e adolescentes.

Na última semana de agosto, agentes da ocupação “demoliram, apreenderam ou forçaram pessoas a demolir outras 33 estruturas em Jerusalém Oriental e na Área C da Cisjordânia, incluindo dez casas, sob pretexto de falta de alvarás de construção emitidos por Israel, quase inacessíveis aos palestinos”.

Segundo um relatório emitido pelo Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), forças israelenses executaram 41 demolições ou apreensões contra 22 escolas palestinas em Jerusalém Oriental e na Área C da Cisjordânia ocupada desde 2010, sob as mesmas alegações.

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Além disso, agressões coloniais bateram sucessivos recordes desde janeiro, sob alertas das Nações Unidas contra “o aumento dramático na violência executada por colonos extremistas contra civis palestinos na Cisjordânia ocupada”, com média de cem incidentes por mês. Até o fim de agosto, o OCHA documentou mais de 700 incidentes de violência colonial contra os palestinos no ano ainda em curso, resultando em baixas, danos a propriedades ou ambos. Trata-se do número mais alto desde 2006, quando o escritório começou a registrar os dados em questão.

Andrea De Domenico, chefe do OCHA, comentou: “Somente para se ter uma ideia, em 2021, registramos média de um incidente de violência colonial por dia. Em 2022, a média chegou a dois incidentes diários. Em 2023, a média já alcançou três incidentes de violência colonial a cada dia”.

Como se não bastasse, a profanação de tropas e colonos israelenses contra a Mesquita de Al-Aqsa também registrou uma escalada. Oficiais de governo participam das violações em curso e falam publicamente de seus planos para demolir o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, para substituí-lo por um suposto templo judaico da Antiguidade. Durante o mês do Ramadã, Itamar Ben-Gvir — ministro de Segurança Nacional de Israel, notório por posições racistas de extrema-direita — invadiu Al-Aqsa sob a escolta de soldados, que então agrediram fiéis palestinos que oravam no local.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, expressou “choque” pelas imagens de policiais israelenses agredindo cidadãos dentro de Al-Aqsa. Os Estados Unidos, por sua vez, manifestaram “extrema preocupação” e pediram comedimento de palestinos e israelenses. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, rechaçou os ataques, ao insistir que Al-Aqsa representa uma “linha vermelha”. A Liga Árabe reivindicou do Conselho de Segurança que interviesse para impedir os “crimes” de Israel contra o complexo islâmico.

A posição mais constrangedora, no entanto, veio da Autoridade Palestina (AP), que criticou a agressão israelense à medida que ela mesma conduzia ataques, prisões e execuções contra cidadãos palestinos, além de restringir seu movimento, apreender bens e fechar lojas. Em sessão do parlamento israelense (Knesset), realizada a portas fechadas, o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, enalteceu o apoio concedido por Ramallah à ocupação. “Precisamos da Autoridade Palestina”, reconheceu Netanyahu. “Não podemos permitir seu colapso; não queremos seu colapso. Estamos prontos para ajudá-la financeiramente. Temos interesse em manter a funcionalidade da Autoridade Palestina”.

À medida que as agressões israelenses se intensificam, a indignação global e toda tentativa de sequer debater como reagir às violações se tornam mais e mais tímidas. Em vez de ajudar os palestinos oprimidos, o mundo pede que se ajoelhem para serem fuzilados.

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Israel recebe socorro financeiro e militar de outros países, que são cúmplices, portanto, de seu regime de apartheid na Palestina histórica, incluindo a ocupação militar na Cisjordânia e o cerco imposto contra a Faixa de Gaza — vista como a maior prisão a céu aberto do mundo, cuja população civil não pode viajar e sequer tem acesso a necessidades essenciais, como tratamento médico.

Sim, os palestinos enfrentam o mais brutal e extremista governo israelense até então. Neste entremeio, o mundo todo — incluindo o chamado mundo árabe — continua a lavar as mãos, deixando que os palestinos enfrentem sozinhos os males da ocupação.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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