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Irã celebra adesão aos Brics como ‘vitória estratégica’ em meio a tensões com EUA

25 de agosto de 2023, às 12h09

Ministro de Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir Abdollahian durante encontro de chanceleres dos Brics, na Cidade do Cabo, África do Sul, em 2 de junho de 2023 [Brics/Agência Anadolu]

O Irã celebrou sua adesão ao grupo conhecido como Brics como “vitória estratégica”, após o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa confirmar a entrada de seis novos membros.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Em postagem nas redes sociais, Mohammad Jamshidi, chefe adjunto de assuntos políticos da presidência iraniana, parabenizou o Supremo Líder, aiatolá Ali Khamenei, e o povo iraniano pela conquista. “Em um movimento histórico, a República Islâmica do Irã se torna membro permanente dos Brics, vitória estratégica de nossa política externa”, afirmou.

Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia foram “convidados” a entrar no grupo a partir de 1º de janeiro de 2024, informou Ramaphosa, anfitrião da 15ª cúpula do bloco, que acontece em Joanesburgo.

O termo “convite”, segundo diplomatas, é uma formalidade técnica, uma vez que os países anunciados já haviam demonstrado interesse em se filiar ao bloco.

Os cinco membros originais do grupo – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – deram seu aval aos novos parceiros nesta quarta-feira (23).

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, chegou a Joanesburgo no dia anterior. Antes de embarcar à África do Sul, Raisi descreveu os Brics como “nova potência emergente no mundo”, responsável por reunir “nações independentes”.

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A expansão dos Brics coincide, no entanto, com uma escalada de tensões entre Irã e Estados Unidos, em meio a um persistente impasse sobre o acordo nuclear de 2015, além de embates entre as partes no Golfo Pérsico.

Especialistas veem os Brics como alternativa viável ao Grupo dos Sete (G7), poderoso fórum político-econômico que compreende Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido.

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul respondem por 42% da população mundial e devem contribuir com mais da metade do produto interno bruto (PIB) até 2030.

O Irã solicitou sua filiação em junho passado, dias após Raisi ser convidado a discursar por videoconferência na cúpula do bloco.

Na ocasião, Raisi declarou expectativas de compartilhar a “vasta capacidade” do país com seus eventuais aliados, para enfrentar desafios em comum, como “unilateralismo, tendências nacionalistas, sanções e medidas econômicas coercitivas”.

Posteriormente, o Ministério de Relações Exteriores do Irã manifestou esperanças de que sua entrada ao bloco “agregue valor” às iniciativas relevantes, em meio a consultas contínuas entre seu governo e os membros permanentes dos Brics.

Neste mês, durante evento em Teerã – intitulado “Irã e os Brics: Prospectos, parceria e cooperação” – comentou o chanceler, Hossein Amir-Abdollahian: “Nosso país é um parceiro influente e confiável em laços bilaterais e multilaterais devido a sua posição geográfica e estratégica única, suas enormes reservas energéticas, sobretudo petróleo e gás natural, sua enxuta e barata rede de transportes, sua mão de obra jovem e especializada e suas conquistas científicas e tecnológicas”.

A experiência do Irã com as sanções americanas, segundo analistas, também o torna um importante aliado à medida que o bloco busca desdolarizar suas economias.

Os Brics promovem sua instituição econômica, o Novo Banco do Desenvolvimento, chefiado pela ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, como alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que atualmente domina o sistema financeiro global.

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