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Seca prolongada aprofunda crise humanitária no Afeganistão

Obras da represa de Mainko em Kandahar, Afeganistão, 29 de janeiro de 2022 [Qudratullah Razwan/Agência Anadolu via Getty Images]
Obras da represa de Mainko em Kandahar, Afeganistão, 29 de janeiro de 2022 [Qudratullah Razwan/Agência Anadolu via Getty Images]

Nas colinas áridas do norte do Afeganistão, Abdul Hahad arranca talos de trigo da terra seca. No terceiro ano de escassez de água e altas temperaturas, sua colheita mal é suficiente para sustentar sua família, segundo reportagem da agência Reuters.

O agricultor de 55 anos do distrito de Nahr-e-Shahi, na província de Balkh, costumava colher duas ou até três safras de trigo por ano, mas nos últimos três anos conseguiu cultivar apenas uma. Os rendimentos de seus nove acres de terra diminuem ano após ano.

“Já se passaram três anos desde que começou a seca; poços e rios quase secaram”, afirmou Hahad, sentado perto de uma pilha de trigo sob o sol escaldante de 40 °C. “Não temos água potável suficiente. Como vocês podem ver, toda nossa terra secou”.

A persistente seca no Afeganistão afeta a segurança alimentar da população e sua economia – um terço da qual, gerada pela agricultura. Especialistas alertam que a crise se agrava pelas mudanças climáticas, ao impor cada vez mais pressão sobre os escassos recursos hídricos do país. Conforme o Índice de Risco Climático Global, o Afeganistão é o sexto país mais afetado pelo aquecimento global.

Com pouca irrigação funcional, o fluxo fluvial do país depende do derretimento de neve das montanhas durante o verão – entre junho e setembro no Hemisfério Norte.

Segundo Najibullah Sadid, expert em recursos hídricos e meio ambiente do Instituto Federal de Pesquisa e Engenharia Hídrica da Alemanha, à medida que as temperaturas sobem e os níveis de precipitação caem, o fenômeno já não é suficiente como costumava ser.

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“Em termos de segurança alimentar, em um país como o Afeganistão, onde mais de 30% do PIB [produto interno bruto] vem da agricultura, é evidente que, caso o setor seja impactado pelas mudanças climáticas, a própria economia é também afetada”, destacou Sadid.

‘Muitas dificuldades’

Dois anos depois do Talibã tomar o poder no Afeganistão, com a apressada saída das tropas dos Estados Unidos, os maiores desafios do regime repousam no desenvolvimento do setor agrário e no acesso aos recursos hídricos.

Com a queda vertiginosa do socorro humanitário desde janeiro e o não reconhecimento do governo do Talibã por nações estrangeiras, diplomatas e outros profissionais advertem para níveis insuficientes de assistência que possibilitem uma solução ao problema.

Segundo o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, aproximadamente 15.3 milhões de pessoas enfrentam insegurança severa no país – cuja população total é estimada em 42 milhões de habitantes.

O regime do Talibã está construindo um canal de 280 km que, caso concluído, pode desviar água para irrigação ao longo das províncias ao norte. As obras, porém, estão anos atrasadas. Além disso, países vizinhos expressam receio sobre impacto em seus próprios recursos.

Sentado junto de três de seus oito netos, Hahad observa que a renda despencou, à medida que sua família – como muitas outras de sua aldeia – enfrentam a escassez de itens básicos, como pães e frutas.

“Eu costumava ganhar entre US$27 mil e US$29.500 por ano com minha terra”, comentou o camponês. “Costumávamos plantar trigo, melão, cebola, berinjela, cenoura e outras coisas; porém, nos últimos três anos, mal conseguimos tirar US$1.200”.

“As pessoas enfrentam muitas dificuldades. Algumas delas deixaram sua terra devido à falta d’água”, prosseguiu. “Continuamos a plantar mesmo com a seca, não temos nenhuma outra opção. É a única coisa que sabemos fazer”.

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