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Chefe de direitos humanos do Egito descreve prisão como ‘hotel cinco estrelas’

Prisão de Wadi al-Natroun, no Egito [WeRecordAR/Twitter]

Moushira Khattab, chefe do Conselho Nacional de Direitos Humanos instaurado pelo regime militar do presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi, comparou o novo complexo carcerário de Wadi al-Natroun a um “hotel cinco estrelas”.

Em entrevista ao jornalista Ahmed Moussa, concedida na noite deste domingo (30), Khattab alegou que os prisioneiros de Wadi al-Natroun trabalham para se reabilitar e aprender a ser “bons cidadãos”.

Segundo Khattab, a imprensa estrangeira exagera ao retratar as condições nas penitenciárias do país, de modo que o governo supostamente realizou melhorias substanciais em matéria de direitos humanos.

Em outubro de 2021, o regime inaugurou as novas instalações de Wadi al-Natroun, as quais, segundo o Ministério do Interior, contêm piscinas, centros esportivos, escolas e um hospital.

Um vídeo promocional do novo complexo mostra detentos uniformizados em salas de aula, repletas de policiais e equipamentos tecnológicos. Segundo a versão do regime, há também uma quadra de futebol, televisores e bibliotecas.

“Trata-se do maior centro de reforma e reabilitação do mundo”, insiste o vídeo.

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Todavia, diversos grupos de direitos humanos contestaram os esforços de relações públicas do Egito, ao documentar casos de negligência médica entre os detentos.

Em 2019, Adel Abdulwahab Abu Eisheh faleceu dentro de Wadi al-Natroun, após ser privado de seu tratamento para diabetes e doenças hepáticas.

Na primeira metade de 2021, houve 28 mortes na prisão, além de 120 casos de tortura.

Segundo o Comitê por Justiça, mandados de “detenção preventiva” – sem julgamento – são renovados digitalmente, em contravenção ao devido processo.

Em maio, o paciente cardíaco Ahmed Zaidan Abdel Azim (38), relatou sofrer espancamentos, eletrochoques e ameaças de confinamento solitário em Wadi al-Natroun. Sentenciado a 15 anos de prisão, suas condições pioraram devido aos choques, confirmou a Rede Egípcia por Direitos Humanos.

Em maio de 2022, o prisioneiro político Alaa Abdelfattah foi transferido da infame prisão de Tora ao novo complexo de Wadi al-Natroun. Em novembro, sua irmã, denunciou no Twitter que seu irmão sofrera uma “intervenção médica” para forçá-lo a quebrar sua greve de fome.

Khaled Ali, advogado de Alaa, foi impedido de visitá-lo na prisão. A saúde física e mental de Alaa se deteriorou gravemente devido a suas condições de custódia.

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