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Concerto de Travis Scott nas pirâmides de Gizé cria controvérsia

Rapper americano Travis Scott [WikiMedia]
Rapper americano Travis Scott [WikiMedia]

O advogado egípcio Amr Abdelsalam ressoou apelos pelo cancelamento de um concerto do rapper americano Travis Scott nas pirâmides de Gizé, marcado para 28 de julho, ao acusar o evento de violar o patrimônio egípcio ao conduzir “ritos satânicos” no marco nacional.

Segundo Abdelsalam, o músico e produtor – nascido na periferia de Houston, no estado do Texas – é também membro da Maçonaria. “Temos de assumir medidas legais para impedir esse evento”, insistiu o advogado à rede de televisão Al-Araby.

O espetáculo é assolado por controvérsias há semanas. Sob a hashtag em árabe “Boicote o concerto”, usuários das redes sociais no Egito difundiram comentários racistas ao afirmar que o rapper conduz rituais satânicos no palco.

Os ingressos para o show, porém, se esgotaram em 15 minutos após abertura à venda.

Rumores de cancelamento circularam online. O sindicato dos músicos declarou revogar seu alvará ao evento por “ser contrário à identidade cultural egípcia”. A empresa de eventos Live Nation, todavia, negou o cancelamento.

O empresário Naguib Sawiris descreveu como erro aprovar o evento e então cancelá-lo, à medida que tais ações minam diretamente a credibilidade do Egito.

O país é tomado por intenso debate há meses, no qual figuras de destaque acusam artistas de impor um ponto de vista “afrocêntrico” em suas performances.

Em 1974, o historiador senegalês Cheikh Anta Diop argumentou em seu livro The African Origin of Civilisation: Myth or RealityAs origens africanas da Civilização: Mito ou realidade – que o Egito Antigo foi predominantemente negro, o que incitou acusações acaloradas de “afrocentrismo”.

Uma apresentação de stand-up do comediante americano Kevin Hart no Cairo foi cancelada por “razões logísticas” no início do ano, após viralizar queixas semelhantes. A hashtag pelo boicote a Hart tomou conta das redes sociais no Egito em dezembro último.

Dois meses depois, Amr Abdelsalam – o mesmo advogado que pede pelo cancelamento do show de Travis Scott – registrou um processo na Promotoria Pública contra o Netflix por promover uma série na qual a rainha Cleópatra é interpretada por uma mulher negra.

Abdelsalam insistiu se tratar de uma distorção da história e da identidade nacional, ao exigir da gigante dos streamings uma indenização por danos morais.

O ex-ministro de Antiguidades, Zahi Hawass, alegou ainda que Cleópatra era “loira e não negra”, ao acusar o Netflix de “tentar causar confusão e propagar informações falsas sobre a história da civilização egípcia”.

Em junho, o regime militar revogou licenças de escavação na necrópole de Saqqara a um grupo de arqueólogos da Holanda, após um museu em Leiden inaugurar uma exposição com artistas negros retratados como governantes do Egito. Beyoncé e Rihanna fizeram o papel de Nefertiti; o rapper Nas e o ator Eddie Murphy fizeram Tutancâmon e Ramsés.

Em 2022, o sindicato de músicos anunciou banir provisoriamente eventos de mahraganat, estilo local de música eletrônica. O presidente do sindicato, Hany Shaker, chefiou campanhas contra o gênero, ao descrevê-lo como “inaceitável”.

O sindicato também proibiu a banda libanesa Mashrou Leila de realizar um espetáculo no país norte-africano, após uma multidão de fãs erguer uma bandeira do arco-íris durante um concerto na capital em 2017.

 

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