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Educação em Jerusalém: a política de discriminação e obliteração da identidade nacional palestina

Legenda: Um estudante palestino inspeciona os danos em uma escola da ONU em Gaza. [Arquivo/ONU ]
Legenda: Um estudante palestino inspeciona os danos em uma escola da ONU em Gaza. [Arquivo/ONU ]

Em Jerusalém, onde vive cerca de meio milhão de palestinos, a educação escolar em todas as etapas está sujeita a dois tipos de currículo: O primeiro é o currículo palestino, que é realizado sob os auspícios do Ministério da Educação Palestino, assim como em  escolas dos territórios ocupados. O segundo está sujeito ao currículo israelense, e estudos indicam que cerca de 100.000 alunos, com uma taxa de 46% dos estudantes palestinos, estão sujeitos ao currículo israelense. Apesar da rejeição palestina e os protestos contínuos, os governos israelenses e o município de Jerusalém impõem este currículo, que os palestinos consideram uma tentativa ide impor-lhes uma educação israelense. Essa realidade, além da violação dos direitos nacionais, sociais, culturais e palestinos, também constitui um contradição entre currículos de um mesmo grupo social, o que gera confusão edos alunos devido a ocorrer divisão do currículo na mesma cidade.

De início, é importante destacar que Jerusalém Oriental é uma área ocupada em 1967 como o restante dos territórios ocupados, sendo vedado à potência ocupante fazer qualquer alteração em sua política, realidade social e educacional, sendo vedado a este poder ocupante impor sua cultura, políticas, e currículo educacional sobre a população ocupada. No entanto, um israelense, em flagrante violação da Quarta Convenção de Genebra, do direito internacional e os princípios dos direitos humanos, trata de Jerusalém como território israelense após sua anexação nos primeiros meses da ocupação, e continuou a fazê-lo como fato consumado em todos os aspectos da vida em Jerusalém além de declará-la capital do Estado de Israel. A aplicação da lei israelense, sua anexação e essa declaração foram rejeitadas pelas instituições das Nações Unidas. Os palestinos consideram que estas medidas tomadas no contexto da política de ocupação em curso são voltadas a criar uma realidade para o deslocamento de palestinos em favor de mais assentamentos nos bairros da cidade. Isso se dá através da política de discriminação racial, demolições e o fechamento da cidade, isolando-a de seus arredores na Cisjordânia, e distinguindo quem vive nela pela emissão de bilhetes de identidade israelenses para os residentes da cidade, sob uma administração que amplia sua ocupação.

A imposição do currículo israelense nas escolas da cidade é vista pelos palestinos como uma das políticas mais perigosas, porque afeta sua identidade nacional e social.

No currículo israelense aplicado em 150 escolas em Jerusalém nos níveis primário e secundário excluíram dessas etapas educacionais ie tudo o que se refere à identidade nacional palestina. Em exemplo é a Nakba, que se refere ao deslocamento de 60% dos palestinos de suas terras, lares, e aldeias, que os transformou  em refugiados na Cisjordânia, Faixa de Gaza e países vizinhos, como Jordânia, Líbano, Síria e muitos países do mundo. Este termo, que se refere ao mais importante trágico evento histórico a que o povo palestino foi submetido, foi retirado do o currículo israelense imposto aos alunos em Jerusalém. Da mesma forma, termos como a ocupação israelense da Palestina, a referência à Mesquita de Al-Aqsa (que Israel trata como Monte do Templo), bandeira palestina e um mapa palestino, entre os materiais  que se referem à história palestina em Jerusalém e na Palestina, e inclusive o hino nacional palestino matinal nas escolas, …etc. Tudo isso foi excluído sob o pretexto de que são materiais e termos inflamatórios.

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Por outro lado, a cultura e a identidade sionista foram impostas no currículo israelense da língua palestina, nas escolas que ficam sujeitas conteúdos da enciclopédia israelense e municipal, tais como: confirmar que Jerusalém é a capital do Estado de Israel, destacando a bandeira israelense em livros, mencionando o Estado de Israel, e muitos termos religiosos judaicos, como a Terra Prometida. Também lhes é apresentado um documento  chamado a Independência Israelense, no qual os palestinos veem na verdade o documento de seu deslocamento e sua catástrofe ocorridos após a declaração do Estado de Israel em 1948. Talvez a inclusão deste documento de independência seja o mais severo para os alunos, suas famílias e a sociedade palestina em geral. Comemorar nas escolas o Dia da Independência de Israel é uma política dura para alunos assimilarem.

Este documento, que tenta obliterar a Nakba e o que aconteceu nela, impões a narrativa sionista sobre eles. É uma guerra contra a consciência nacional palestina e constitui uma violação psicológica, além de já ser uma violação da ocupação nacional e social, como Zakaria Odeh, coordenador da Coalizão Civil para a Sociedade e Direitos Humanos em Jerusalém, apontou.

A luta e resistência palestina à política familiar de educação em Jerusalém começou semanas depois a aprovação da lei de educação pelas autoridades israelenses após a ocupação em 1967. Naquela época, muitos pais se recusaram a enviar seus filhos para escolas que seguem o currículo israelense de acordo com esta lei, e preferiram enviar seus filhos para escolas administradas por doações islâmicas, aquelas administradas por igrejas e ONGs e escolas administradas pela Agência das Nações Unidas de Socorro e Obras para a Refugiados da Palestina (UNRWA) em campos localizados em Jerusalém, como o campo de Shuafat. Com o tempo, essa resistência se desenvolveu e continuou contra a política israelense de educação em Jerusalém, onde organizações da sociedade civil e forças nacionais e islâmicas foram formadas.

Talvez a famosa greve de setembro de 2022, que incluiu 150 escolas, tenha sido a greve mais famosa contra esta política. O chefe da União dos Estudantes e Pais em Escolas de Jerusalém, Ziad Shamali, declarou: “A posição oficial e popular em Jerusalém é de fortemente rejeitar o ensino do currículo israelense e a narrativa sionista para nossos alunos, e exigimos que o currículo palestino seja aplicado.”

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Durante esta greve generalizada, 100.000 estudantes se abstiveram de estudar até o currículo ser cancelado e substituído pelo currículo palestino, como é o caso das escolas nos territórios em geral. Comitês civis e nacionais foram formados nesses bairros para gerir a greve, e slogans específicos foram levantados enfatizando o direito dos estudantes de aprender a língua palestina com seu currículo porque Jerusalém é uma cidade ocupada, e também de ter de voltar  tudo relacionado à Identidade nacional palestina.

A greve disse nãoo currículo israelense em nossas escolas e sim ao currículo palestino; não ao currículo israelense distorcido que visa distorcer a consciência dos estudantes palestinos. Todas as escolas da Cisjordânia, que declararam greve em apoio às escolas de Jerusalém, também expressaram sua solidariedade.

O Ministério da Educação Palestino anunciou um programa de solidariedade que inclui todas as escolas da Cisjordânia, interrompendo a educação israelense e dando palestras educativas matinais aos alunos sobre o que está acontecendo nas escolas de Jerusalém. Neste contexto, o porta-voz do Sindicato dos Professores de Jerusalém, o Ahmed Al-Safadi, afirmou: “ A greve e a solidariedade das escolas da Cisjordânia com Escolas de Jerusalém contra a política educacional israelense em Jerusalém é uma mensagem clara para que parem o ataque à identidade nacional e cultural palestina nas escolas”; Os palestinos descreveram a resistência ao ensino do currículo israelense para estudantes palestinos como “a batalha da educação e a dedicação da consciência nacional e da narrativa palestina sobre o que aconteceu e ainda está acontecendo em Jerusalém e na Palestina em geral.”  É a batalha pela consciência, conforme descrita pelos palestinos em Jerusalém.

As violações israelenses em relação à imposição do currículo israelense nas escolas de Jerusalém é uma das questões contra as quais os palestinos continuarão lutando, já que constitui uma agressão aos seus direitos garantidos pelas leis internacionais. Isso é reafirmado nas muitas declarações emitidas por instituições da sociedade civil e forças nacionais em Jerusalém.

Artigo publicado originalmente em inglês pelo Palestine Information Center.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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