Nova York avalia lei para banir remessas ‘beneficentes’ a assentamentos de Israel

A assembleia legislativa do estado de Nova York deve avaliar um projeto de lei para impedir que entidades filantrópicas enviem dezenas de milhões de dólares por ano como financiamento aos assentamentos ilegais israelenses instalados em Jerusalém e na Cisjordânia ocupada.

Zohran Mamdani, deputado estadual, introduziu a proposta nesta semana, intitulada “Não com nossos trocados! Pelo fim do financiamento de Nova York à violência colonial de Israel”. A meta é proibir doações com isenção fiscal a assentamentos ilegais radicados em terras palestinas.

Ao jornal The Guardian, afirmou Mamdani: “Esta legislação deixa claro que Nova York não mais dará subsídio efetivo aos crimes de guerra e às violações do direito internacional”.

“Temos várias entidades registradas no estado de Nova York que encaminham ao menos US$60 milhões por ano a organizações coloniais israelenses, que, por sua vez, usam tais recursos para avançar na expulsão e expropriação dos palestinos das terras ocupadas, como vemos ocorrer há décadas”, acrescentou.

Mamdani identificou algumas das organizações nova-iorquinas, entre as quais, o Fundo Central de Israel (CFI), que afirma promover “causas beneficentes na Terra de Israel” – termo empregue por colonos sionistas para se referir a toda Palestina histórica, não apenas às terras tomadas em 1948, na ocasião da Nakba ou “catástrofe”, para criação do Estado de Israel, via limpeza étnica, mas também aos territórios ocupados de 1967, reivindicados para um Estado palestino.

Uma rede completa de entidades coloniais se beneficia das doações distribuídas pelo CFI, como o Fundo de Terras de Israel, responsável por expulsar famílias palestinas de suas casas para dar lugar a novos colonos exclusivamente judeus.

O deputado estadual também identificou a ong Friends of Ir David, por financiar a associação de colonos Elad, responsável por remover palestinos nativos de Jerusalém Oriental com intuito de “judaizar” a área – isto é, apagar sua identidade árabe para forjar uma supremacia judaica.

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“Tais organizações se mascaram como entidades beneficentes para financiar atividades ilegais”, reiterou Mamdani, ao enfatizar a urgência de leis que combatam abertamente a prática.

O deputado reconheceu a pressão de instituições sionistas e a negligência de Washington sobre as demandas, devido ao apoio predominante a Tel Aviv na política americana – tanto no partido Democrata, ao qual é filiado, quanto no partido Republicano.

“Há uma expressão que sempre ouvi: progressista, salvo sobre a Palestina”, recordou Mamdani, muçulmano nascido em Uganda que cresceu em Nova York. “Estamos acostumados a ver como políticos que dizem defender crenças universais sempre encontram uma exceção ao se referir a Israel e Palestina. Vemos isso, infelizmente, na forma como se aplicam nossas leis e políticas. O que essa legislação faz é reconhecer a realidade”.

Caso aprovado, o projeto concederá ao Procurador Geral do Estado de Nova York a incumbência de processar grupos que financiam assentamentos ilegais sob pretexto de “filantropia”, além de permitir às vítimas que busquem indenização nas cortes americanas.

“Será uma luta dura, não tenho ilusões”, afirmou Mamdani. “Mas se você olhar para as atitudes dos americanos de hoje sobre Palestina e Israel e, em particular, sobre os assentamentos ilegais, fica bastante claro de que se trata de uma luta amplamente popular”.

Em resposta, vinte e cinco deputados sionistas publicaram uma nota de repúdio, ao acusar a lei de buscar punir organizações judaicas que provêm cuidados de emergência e assistência ampla a comunidades carentes e vítimas de “terrorismo”.

“Este é um projeto com intuito de demonizar organizações judaicas ligadas a Israel. Seu único objetivo é antagonizar nova-iorquinos solidários a Israel e alimentar maiores divisões dentro do partido Democrata”, alegou o comunicado.

A carta notavelmente usou o vernáculo colonial para se referir ao conflito na Palestina histórica, ao ignorar a assimetria de forças e o direito fundamental à resistência contra a ocupação, como está assegurado na lei internacional. Ademais, ignorou as denúncias de apartheid e terrorismo de Estado postas contra Israel.

Nos últimos anos, conforme uma série de pesquisas, o público americano – sobretudo jovens – se afastou do apoio histórico a Israel, ao tornar-se cada vez mais solidário ao povo palestino. A mudança se reflete na posição de representantes eleitos, entre os quais, Rashida Tlaib, primeira congressista palestino-americana eleita à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.

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