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Ato em SP marca os 75 anos da Nakba palestina

O protesto contou com a presença de movimentos sociais e sociedade civil tendo entre as pautas o reconhecimento pelo Brasil do regime de apartheid israelense e a libertação dos prisioneiros políticos palestinos

Nakba em árabe significa catástrofe, essa é a palavra que os palestinos usam para descrever as consequências das atrocidades geradas pela criação do Estado de Israel, em 15 de maio de 1948. Cerca de 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras e aldeias inteiras foram destruídas e literalmente tiradas do mapa, iniciando um projeto de limpeza étnica em curso até hoje, dando o título a Israel como a ocupação mais longa da história moderna.

Os palestinos expulsos foram impedidos de retornar aos seus lares, suas casas deram lugar a judeus da Europa e de várias partes do mundo que não tinham ligação nenhuma com aquela terra, fazendo com que a população indígena da Palestina se tornasse refugiada. Atualmente, cerca de 7 milhões de refugiados palestinos que são impedidos de retornar à sua terra.

Essa catastrófica realidade poderia ter ocorrido com outros povos. Theodor Herzl, fundador do sionismo político, em seu livro “O Estado Judeu” chegou a indagar sobre a possibilidade da criação de Israel na Argentina: “Devemos preferir a Palestina ou Argentina? A sociedade aceitará o que lhe derem, tendo em consideração as manifestações da opinião pública a este respeito. Ela verificará uma e outra. A Argentina é um dos países naturalmente mais ricos da terra, de uma superfície colossal, com uma fraca população e um clima temperado”.

ASSISTA: Dia da Nakba: Mundo recorda os 75 anos desde a ‘catástrofe’ palestina 

Documentos vazados em dezembro de 2022, revelaram que Marrocos também fez parte dos planos de colonização do estado judeu. Segundo o jornal israelense Yedioth Ahronoth, Herzl “promoveu um documento secreto para instituir o Plano do Marrocos, muitos menos conhecido do que o Plano de Uganda, focado em assentar judeus russos em Wadi al-Hisan, no sudoeste do Marrocos”. Esta proposta antecedeu o projeto de transferir colonos à Palestina histórica.

No entanto, a Palestina foi escolhida não apenas por sua localização estratégica no globo e suas terras férteis, mas pelo conceito religioso, por meio do qual os sionistas acreditavam que seria mais fácil convencer os judeus a se mudarem para uma terra desconhecida.

Com a enganosa propaganda “uma terra sem povo para um povo sem terra”, o movimento sionista promoveu a campanha de usurpação da Palestina para a criação do Estado de Israel, gerado às custas de muito sangue palestino e da dor dos que foram expulsos.

David Ben-Gurion, o Primeiro Ministro empossado no recém criado Estado de Israel, em 1948, diante do projeto inicial de limpeza étnica disse: “Os velhos morrerão e os jovens esquecerão” − algo que nunca aconteceu e nem acontecerá. A Palestina nunca saiu do coração e da mente dos palestinos, o sentimento de pertencimento dessa terra foi passado de geração a geração, e após 75 anos, persiste em todos palestinos e seus descendentes seguem na luta em diversas áreas de atuação.

Em todo o mundo, todo o dia 15 de maio é lembrado a Nakba, protestos, atividades culturais e políticas são realizados, é uma data triste, mas carregada de força e determinação.

Em São Paulo, na noite da Nakba, palestinos e brasileiros se uniram para se lembrar daquele execrável 15 de maio de 1948 e também para denunciar o estado de apartheid no qual os palestinos são submetidos há 75 anos.

Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, abriu o ato lembrando que, em 1948, Israel ocupou 78% da Palestina histórica e que, desde então, a Nakba continua. Além disso, recordou que, em 1967, Israel ocupou o restante da Palestina, Cisjordânia, Gaza e Jerusalém de maneira ilegal. Denunciou também o assassinato cometido pelas forças israelenses de 130 palestinos apenas este ano, entre eles, crianças e mulheres.

Os prisioneiros políticos foram lembrados por Rawa Al Sagheer, ativista da Samidoun  Brasil, dando destaque para a situação deplorável da prisioneira Israa Jaabis, presa após sofrer um acidente de carro perto de um checkpoint no qual teve mais de 65% do corpo queimado. Jaabis sofre de dores crônicas e Israel nega tratamento.

A situação dos cristãos que vivem na Palestina e nos territórios de 48 (Israel) também foi denunciada. Aiumi Ogawa relatou como cristãos são perseguidos e impedidos de professarem sua fé, principalmente nos feriados religiosos. Ogawa lembrou a jornalista palestina Shireen Abu Akleh, cristã, considerada a voz da Palestina, assassinada a sangue frio por soldados israelenses.

Muhamad Kadri, presidente do Fórum Latino Palestino destacou Israel como a ocupação mais longa existente na atualidade e reforçou denúncias da barbárie cometida cotidianamente na Palestina. Kadri ainda denunciou Israel como estado de apartheid, conforme relatório divulgado por ongs palestinas, Anistia Internacional e Human Rights Watch (HRW), e pediu o reconhecimento do governo brasileiro sobre o apartheid vivido pelos palestinos.

O ato contou com inúmeras outras falas e palavras de ordem como “Estado de Israel, Estado assassino” e “Viva a luta do povo palestino” e “Palestina Livre do rio ao mar”.

LEIA: Palestinos e ativistas solidários saem às ruas no 75° aniversário da Nakba

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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