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Fazenda de pérolas? Conheça o emirado que produz as joias

As pérolas de Ras Al Khaimah já foram tesouros procurados por mergulhadores, mas hoje são cultivadas. O processo envolve até mesmo o que eles chamam de sementes para induzir a formação do produto. [Thais Sousa/ANBA]

As pérolas já foram caçadas como um tesouro que só se originava de forma natural. O mergulho profissional para encontrá-las foi por muitos anos um ofício na costa dos Emirados Árabes Unidos. Mas, hoje, há uma fazenda que as produz. O cultivo conta até mesmo com uma semente que aumenta para 60% a chance de encontrar a joia quando a ostra finalmente é aberta. Esse lugar é a Suwaidi Pearls, e fica localizada no emirado de Ras Al Khaimah.

A pérola, tirada da ostra alguns minutos antes dessa foto [Thais Sousa/ANBA]

O local é também turístico. A fazenda de pérolas oferece passeios que apresentam a produção e toda a história em torno dessa atividade que passou de milenar para moderna. O tour começa no pequeno porto da vila de pescadores chamada Al Rams, onde há também uma loja de joias que utilizam as pérolas.

Lá fora, a paisagem é daquelas que parece mesmo pintura. No fundo, a montanha Al Hajar, e entre ela e um mar muito azul estão mangues. É uma bela mistura de cores.

Com esse pano de fundo, a Suwaidi Pearlsfoi fundada em 2004 por Abdulla Rashed Al Suwaidi. O emiradense é filho de um dos últimos, se não o último, mergulhador que caçava pérolas naturais no país. Ele próprio ainda faz mergulhos em busca das joias, mas leva tudo apenas como um hobby. As pérolas são resultado de uma reação natural da ostra, um molusco que vive dentro de conchas, a invasores externos como grãos de areia ou parasitas.

Esses e outros detalhes são narrados por um guia, que acompanha grupos desde a saída no porto até a chegada em um ponto no meio do mar. É lá que os turistas são levados pelas histórias e informações, e onde avistam boias no entorno. Elas indicam que ali estão algumas das ostras cultivadas.

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O empreendimento foi o primeiro do tipo na região. “A pérola é a única joia que não pode ser modificada. O brilho, a cor, o tamanho, é tudo natural. Da maneira que ela é retirada da ostra, ela irá ficar”, contou o guia. A máxima vale tanto para as pérolas naturais, quanto para as que vêm de ostras produzidas ali. Nada pode ser modificado. A não ser a probabilidade de encontrar as pérolas.

História

O valor de uma pérola pode variar, começando em cerca de US$ 300 e indo bem acima, dependendo do tipo de gema. As cores, intensidade de brilho, tamanho e formato, tudo isso influencia no valor dada a cada uma. No Golfo, há três tipos de ostras que podem gerar pérolas. Mas só a maharah pinctada radiata, uma das mais comuns na região, por exemplo, pode dar origem a pérolas de 14 tipos diferentes de cor.

O guia mostra os instrumentos que eram usados pelos mergulhadores na atividade ancestral: equipamentos como uma pedra, cordas, e um objeto que tapava o nariz, para que o profissional pudesse submergir e ficar lá embaixo por mais tempo.

As pérolas da Suwaidi Pearls

Parece precário. E apesar de ter sido um trabalho importante na região por longos anos, a atividade era consideravelmente perigosa para os mergulhadores. Além dos acessórios, existiam diferentes tipos de barco especializados nas travessias e busca de pérolas. Uma dessas antigas embarcações, inclusive, foi restaurada e é um dos locais onde os turistas passam no tour do Suwaidi Pearls.

Cultivando joias

Se na natureza a chance de uma ostra produzir a joia é rara, ali na fazenda o número salta para até 60% de probabilidade. Para conseguir o feito, a fazenda utiliza o que chama de semente. Pequenas bolinhas brancas, que à primeira vista podem até se parecer com pérolas, mas que são compostas de uma mistura de elementos químicos que induz a produção da joia.

As ostras crescem em estruturas como essa, que foi içada para os turistas a verem de perto [Thais Sousa/ANBA]

Para introduzir as sementes, conta o guia, foi preciso criar mais um procedimento: o de adormecer as ostras. A espécie de anestesia é feita colocando-as em um ambiente controlado e escuro, que faz com que os animais relaxem, e seja possível abrir as conchas sem causar maiores problemas. Assim, as sementes são plantadas nas ostras.

O processo de produção leva em torno de dois anos. Só aí os fazendeiros podem abrir as ostras e descobrir se saíram vitoriosos ou não dessa jornada. E como forma de fazer dos turistas os aventureiros da vez, o guia convida um deles para ‘pescar’ uma ostra em um aquário. Ao abri-la, o guia mostra o organismo complexo da ostra, apontando coração, estômago e o local onde pode estar a pérola.

Em um movimento rápido, todos soltam um ‘ooooh’, ao ver uma pequena pérola pular de dentro do molusco. “E não pode haver mais de uma?”, pergunta um dos visitantes. O guia explica que uma mesma ostra pode sim originar mais de uma pérola. Mas no caso do cultivo, cada semente só pode dar origem a uma joia. Se houvesse outra, ela seria natural. Não foi o caso.

E tudo bem, porque apesar do tour ainda contar com outros pontos e uma coleção de pérolas e joias feitas da gema, acredito que bastaria uma pequena pérola para satisfazer o grupo de turistas, que passavam a pequena esfera de mão em mão, curiosos e espantados.

*A jornalista viajou a convite da Ras Al Khaimah Tourism Development Authority

Publicado originalmente em ANBA

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