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Al-Walaja, a vila palestina dividida entre a Cisjordânia e Jerusalém, onde a demolição de casas é a violação israelense mais comum

Aldeia de Al-Walaja, cercada por Israel em foto aérea por UAV, em 14 de abril de 2022 [Hagai Agmon-Snir/ CC BY-SA 4.0/ Wikipedia]

Al-Walaja é uma vila palestina originalmente localizada a oeste de Jerusalém e seus moradores são parte dos que foram expulsos e deslocados em 1948 e distribuídos entre muitos acampamentos montados na época. Parte deles mudou-se para viver na parte sul de suas terras, que ficava fora das fronteiras de 48, e ficou pertencendo às terras da Cisjordânia, especificamente no distrito de Belém, cerca de 8 km de distância a oeste, onde a aldeia foi estabelecida.

No entanto, no início dos anos oitenta do século passado, a ocupação anexou parte das terras da aldeia aos limites municipais de Jerusalém, como aconteceu em muitas áreas adjacentes às fronteiras israelenses da cidade.

Esta medida ilegal de anexação levou ao confisco de muitas terras, especialmente na aldeia de Al-Walaja. A coisa mais perigosa e violadora é a sujeição de parte de suas terras aos limites do município de Jerusalém e a imposição de leis israelenses sobre ela, mesmo que seus residentes tenham uma carteira de identidade da Cisjordânia.

Forças israelenses demolem casa palestina em Hebron (Al-Khalil), na Cisjordânia ocupada, em 25 de outubro de 2022 [Mamoun Wazwaz/Agência Anadolu]

Forças israelenses demolem casa palestina na Cisjordânia ocupada, em 25 de outubro de 2022 [Mamoun Wazwaz/Agência Anadolu]

Isso significa que os cidadãos que possuem carteiras de identidade da Cisjordânia devem obter licenças de construção ao município de Jerusalém, o que é impossível, dado que a terra pertence ao município de Jerusalém, e esses moradores são da Cisjordânia. Assim, dezenas de casas foram demolidas décadas atrás e ainda estão sendo demolidas.

A aldeia foi cercada pelo muro e pelo arame farpado do apartheid.

Muro do Apartheid, construído por Israel em Jerusalém ocupada, 25 de novembro de 2021 [AHMAD GHARABLI/AFP/Getty Images]

Nesta difícil situação, os 3.500 moradores da vila são expostos à demolição de suas casas, pois a administração israelense de Jerusalém trabalha para demoli-los nas áreas e bairros anexados ao município e pela Administração Civil Israelense nas áreas e bairros que estão dentro e fora das fronteiras da Cisjordânia.

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 Esta realidade complexa coloca a população numa situação em que é difícil construir apesar das condições naturais do aumento da comunidade, o que requer um aumento no número de edificações. Além disso, a aldeia foi cercada por assentamentos, especialmente Gillo, Har Homa e Givat Hamatos. Isso exige que os moradores passem pela estrada que leva aos assentamentos e postos de controle militares que impedem qualquer pessoa que não seja residente da aldeia de entrar. Ou seja, simplesmente fechando a aldeia e isolando-a de sua população palestina nos arredores, especialmente o distrito de Belém.

Dias antes de este artigo ser escrito, os aldeões foram surpreendidos pela presença de bulldozers israelenses e, sob a guarda pesada de soldados e policiais,  três casas foram demolidas sob o pretexto de não obtenção de licença. Este é o pretexto sob o qual casas são demolidas na Cisjordânia e em Jerusalém. Porém, a obtenção de uma licença de construção para um palestino é um problema e chega a ser impossível. Os pedidos de licenciamento levam muitos anos sem resposta, obrigando o palestino a construir para abrigar sua família, que cresce em virtude do crescimento natural.

Em Al-Walaja, a proprietária de uma das casas recentemente demolidas, Ghadir Al-Atrash, que fica na aldeia, no bairro de Ain Al-Juwaiza disse:

Minha casa, composta por dois andares e uma área de 110 metros quadrados, foi demolida, e recebi uma ordem do exército israelense para não construí-la novamente. Agora eu e minha família estamos sem teto, e teremos que alugar uma casa para morar.

Durante o processo de demolição das casa da família Raji Al-Aaraj, que tem 120 metros quadrados, e a casa de Abdullah Rabah, que também tem 120 metros quadrados,  confrontos ocorreram quando os palestinos enfrentaram os forças de ocupação e suas escavadeiras pacificamente, formando uma barreira humana para evitar que as escavadeiras chegassem e destruíssem as casas. O exército israelense e a polícia agrediu com cassetetes e espancou os moradores, e disparando gás lacrimogêneo. Testemunhas oculares confirmaram que muitos desmaiaram como resultado do dos espancamentos e do gás.

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Em um contexto relacionado, durante o mês de janeiro deste ano, a administração  de Jerusalém demoliu 31 casas nas áreas e bairros da cidade. A decisão muitas vezes incluía a ordem para que o proprietário pagasse uma quantia exorbitante pelo uso escavadeiras pelo município, o que leva alguns a derrubar sua própria casa para evitar o pagamento da multa. Isso aconteceu semanas atrás com o cidadão de Jerusalém Mustafa Al-Aramin, que preferiu demolir sua casa na cidade de Silwan depois que o município lhe pediu uma grande quantia em troca da demolição. Por isso,ele ficou sem-teto com seus quatro filhos. A demolição da casa, além da perda da moradia da família, também representa uma punição e  desgaste psicológico, como disse Al-Aramin.

Artigo originalmente publicado em inglês pelo Alternative Information Center – Palestina

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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