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Lobo solitário se tornou a maior ameaça à ocupação de Israel

Combatentes da resistência palestina participam de funeral de Jana Zakarneh (15) assassinado por forças israelenses em Jenin, na Cisjordânia ocupada [Issam Rimawi/Agência Anadolu]

O que pode fazer o poderoso Estado de Israel e suas Forças Armadas ao encontrar a sua frente um solitário combatente da resistência palestina? Quando um lobo solitário decide agir no calor do momento, o que fazer? Não há inteligência avançada capaz de prever o ataque ou instaurar medidas preventivas. Em suma, Israel vê-se impotente diante da resistência espontânea.

O que motiva um indivíduo palestino a conduzir uma operação de defesa a sua terra ou reação instintiva aos numerosos crimes de Israel emana, sobretudo, das próprias práticas criminosas e hediondas perpetradas pela ocupação contra o povo palestino. As ações do mártir Khairy Alqam são um exemplo deste fenômeno. Ainda maior exemplo são as ações do ainda menino, porém valente, Muhammad Aliwat, que se tornou combatente da resistência muito jovem.

Essa modalidade de resistência se baseia, quem sabe, na mera habilidade individual de acessar informações nas redes sociais e outros meios de comunicação, que expõem os absurdos diários da ocupação israelense, apesar dos esforços das autoridades e seus cúmplices para encobri-los ou justificá-los. Tais indivíduos provavelmente ouviram, viram ou discutiram fatos em campo e apelos por resistência legítima aos crimes da ocupação.

E o que pode fazer Israel nesses casos? Tais ações individuais são de fato capazes de neutralizar as mais avançadas tecnologias e táticas preventivas do Estado de Israel. Se não há inimigo claro ou determinado como alvo, o que pode fazer a ocupação em termos de confronto, dissuasão ou punição? A conjuntura é bastante distinta de atos de resistência promovidos por grupos como Hamas e Jihad Islâmica. Israel não pode, por exemplo, pôr a família Alqam na lista de terroristas ou bombardear suas localidades em Gaza. Ainda assim, emprega punição coletiva aos parentes daqueles que buscam resistir – o que constitui crime de guerra.

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Páginas nas redes sociais são acusadas de promover “incitação” quando trespassam a censura israelense, ao expor a realidade da ocupação. Em contrapartida, mostram viés na prática contra conteúdos palestinos. Colonos de extrema-direita, como Itamar Ben-Gvir, querem estabelecer a pena capital contra os palestinos. Outros sugerem descobrir alvos fáceis para dar ao público um sentimento de vingança apaziguada. Veja bem: vingança, nunca justiça. Dentre os alvos, podem estar prisioneiros já em custódia de Israel, muitos encarcerados e torturados nas penitenciárias de Negev, Megiddo e Ofer, agredidos reiteradamente por comemorar a resposta da população palestina nativa contra a ocupação.

A surpresa é uma das principais armas do lobo solitário. A ocupação carece de alertas prévios, como ocorreu nos casos de Khairy Alqam e Muhammad Aliwat em Jerusalém. Os combatentes individuais não demandam “incitação” em particular: o que presenciam dia após dia basta para motivá-los a sacrificar tudo o que têm, de modo que não há como dissuadi-los ou antever seus ataques. As medidas impostas atualmente por Israel nada são senão um meio de desviar a atenção da verdadeira razão para as recentes operações de resistência – algo óbvio para todos, salvo aqueles que se recusam a ver: a ocupação colonial da Palestina.

Ações de lobos solitários devem continuar, em resposta a agressões de colonos ilegais e tropas israelenses. Há quem diga que o ciclo de violência e represália se refere a ataques palestinos e respostas de Israel, mas trata-se de ignorar deliberadamente a realidade da ocupação colonial. O que veio primeiro: ocupação ou resistência? Sem ocupação, não há resistência. Vale dizer, na ausência de organizações maiores – como o Hamas – em Jerusalém e na Cisjordânia, devido à perseguição de Israel e Autoridade Palestina (AP), não há nenhum movimento disciplinado para controlar esses lobos solitários. É por isso que se tornaram a maior ameaça a Israel e sua brutal ocupação militar.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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