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Alerta ao mundo árabe: Não receba Netanyahu e seus amigos extremistas de braços abertos

Premiê israelense Benjamin Netanyahu chega a um assentamento em Jerusalém Oriental, após um ataque a tiros matar sete pessoas [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

Quando forças da ocupação israelense atacaram o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, na última quinta-feira (23), o establishment sionista previa uma operação rápida para prender ou matar integrantes de uma célula local da resistência armada. Israel parecia crer que a entrada de suas tropas sob uma salva de tiros levaria os palestinos a fugir ou se esconder, para que as forças agressoras tivessem caminho aberto a sua missão.

No entanto, o campo despertou pela invasão e combatentes da resistência se apressaram a sua defesa; as forças sionistas enfrentaram duro tiroteio e se viram em uma posição de risco. Além disso, residentes atiravam pedras e coquetéis molotov contra as tropas coloniais, cujos disparos a esmo ceifaram dez vidas. A resposta foi veemente e indignada por parte por grupos regionais e internacionais. A reação dos jovens palestinos foi a mais marcante: Khairy Alqam adentrou no assentamento ilegal de Neve Yaakov, em Jerusalém Oriental, e abriu fogo contra os colonos; em seguida, foi a vez de um menino no bairro ocupado de Silwan.

Segundo os agentes de Israel, a célula a ser atingida em Jenin era uma “bomba-relógio”, muito embora, nos círculos nacionais, sobretudo entre analistas militares, reste dúvida sobre a versão dos fatos concedida pelo Estado. O debate é essencial, dado que o regime de Israel expandiu o ciclo de violência drasticamente e em plena luz do dia. Tel Aviv continua a crer que, ao fazê-lo, impõe um fator de dissuasão aos palestinos para que não resistam à ocupação e colonização de suas terras.

O resultado, contudo, foi o inverso do esperava o premiê Benjamin Netanyahu e seus ministros de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich. O governo encontrou-se então em uma situação bastante difícil em termos de “segurança”. A brutal repressão israelense, com diversas chacinas contra os palestinos, levou a reações armadas e espontâneas do povo nativo, além do apoio a tais modalidades de resistência. Na presente conjuntura, a maior ameaça a Israel são os ataques de “lobos solitários” – imprevisíveis mesmo à inteligência avançada do regime sionista, em particular, na cidade ocupada de Jerusalém e dentro do território designado Israel, tomado à força via limpeza étnica em 1948.

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As respostas anunciadas pelo governo às operações da resistência palestina demonstram que o regime israelense parece incapaz de compreender, muito menos conter a situação. Parece que não aprendeu nada de sua experiência prévia; que a escalada colonial e os esforços de punição coletiva levam apenas a mais tensão e ações de resistência. Quanto mais palestinos são mortos por Israel, mais há motivo para que a resistência responda. Cada lobo solitário bem-sucedido é uma inspiração para que outros jovens desesperados sigam sua deixa.

O que Israel não entendeu ainda que emendas às pressas não resolvem o problema; “sucessos” elusivos e momentâneos logo desaparecem porque a opressão crônica permanece presente e generalizada. Enquanto houver ocupação e crimes coloniais; enquanto o objetivo do governo – hoje, considerado o mais extremo da história de Israel – seja aniquilar o povo palestino de suas terras e extinguir esperanças por independência, haverá sempre resistência palestina, com grau maior ou menor de intensidade.

O apoio dos Estados Unidos – incluindo compromisso a sua “segurança” – não poderá salvar o estado ocupante de se afogar em um novo conflito. Mesmo a ajuda americana para normalizar laços com regimes árabes não servirá de nada a Israel nesta nova conjuntura. Cada vez que Tel Aviv amplifica sua agressão contra os palestinos, as capitais árabes sofrem de constrangimento perante seus próprios cidadãos pela assinatura dos acordos.

Este impasse criado por Israel não tem solução prática sem um horizonte político que instaure um Estado palestino na região, com Jerusalém como sua capital. A prerrogativa da comunidade internacional ainda o consenso de dois estados, com as fronteiras de 1967.

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Netanyahu tenta, contudo, avançar na normalização com o mundo árabe, sedento por relações lucrativas com a Arábia Saudita. O reino, não obstante, insiste em sua negativa enquanto não houver um progresso notável para estabelecer um Estado palestino autônomo e viável. Avançar com a colaboração Riad-Tel Aviv seria uma conquista e tanto a Netanyahu, que busca encobrir seus fracassos militares e problemas domésticos, sob forte oposição e instabilidade política.

A saída ideal para Netanyahu seria voltar-se ao mundo árabe, conforme a promessa de Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos, durante sua visita recente à região. Blinken, a serviço do presidente Joe Biden, concentrou seus discursos em reiterar o compromisso da Casa Branca à segurança do estado ocupante e prometer expandir o círculo de normalização.

Regimes árabes, portanto, sobretudo do Golfo, têm uma enorme responsabilidade em conter a agressão e os crimes israelenses contra os palestinos. Não é preciso muito: basta que congelem laços com Israel na presenta conjuntura, ao invés de expandi-los, e que não ajam de maneira a proporcionar ganhos políticos a Netanyahu às custas de sangue palestino.

A mensagem ao mundo árabe é absolutamente simples: não receba Netanyahu e seus amigos racistas e extremistas de braços abertos. Exija que Israel deixe de agredir os palestinos. Mostre solidariedade ao povo nativo, vítima da ocupação e seus crimes. Em suma, não normalize laços com Israel; não normalize a tragédia palestina.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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