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O fascismo ‘já está’ em Israel, diz professor judeu do Holocausto

Deputados da oposição protestam dentro do Knesset durante uma sessão da Comissão da Legalidade que aprovou o primeiro estágio da controversa reforma judicial que restringe os poderes do judiciário e envolve a transferência de poderes críticos da Suprema Corte para a Assembléia, em Jerusalém em 13 de fevereiro de 2023. [Parlamento Israelense (Knesset)/Agência Anadolu]

Israel está se aproximando do fascismo, disse o historiador do Holocausto Daniel Blatman em entrevista ao Haaretz. Professor do Instituto de Judaísmo Contemporâneo da Universidade Hebraica, Blatman é doutor no estudoo sobre  Holocausto, nazismo, fascismo, genocídio e judeus do Leste Europeu durante o Holocausto. Ele está atualmente envolvido na criação do Museu do Gueto de Varsóvia, que está programado para abrir em 2025.

O Haaretz entrevistou Blatman por causa de um artigo que ele havia escrito em 2017 que previa que Israel estava caminhando para uma colisão de forças, cuja conclusão seria o fim da democracia e a ascensão do fascismo. Sua previsão aconteceu mais ou menos exatamente como ele descreveu seis anos atrás, e é por isso que ele foi convidado a comentar sobre a turbulência em curso em Israel sobre o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de reformar o judiciário e o fato de que os políticos de extrema direita dominam o atual governo israelense.

Blatman falou longamente sobre a onda de populismo em todo o mundo e disse que Netanyahu possuía todas as características essenciais de um líder populista. A transformação radical que incluiu ministros neonazistas dentro do governo israelense foi possível porque a sociedade israelense está “madura” para aceitar gente como o ministro da Segurança Itamar Ben Gvir. “A sociedade israelense estava para para receber o atual governo. Não pela vitória do Likud, mas porque a ala mais extrema puxou a todos atrás dela”, disse o professor. “O que antes era extrema-direita é hoje centro. Ideias que antes estavam à margem tornaram-se legítimas.”

Alarmado com a ascensão do fascismo em Israel, Blatman continuou dizendo: “Como um historiador cujo campo é o Holocausto e o nazismo, é difícil para mim dizer isso, mas há ministros neonazistas no governo hoje. Não vejo isso em nenhum outro lugar – nem na Hungria, nem na Polônia – ministros que, ideologicamente, são racistas puros”.

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O populismo tem ascendido tanto na Hungria quanto na Polônia, mas, de acordo com Blatman, a tendência para o fascismo em Israel é única. Ele acredita que a sociedade israelense passou por um processo de radicalização.

“Há uma grande massa que não santifica os valores democráticos e liberais”, disse ele. O fortalecimento da religião e a demonização do inimigo árabe foram dois dos motivos que Blatman citou como causa da radicalização da sociedade israelense.

“O que estamos vendo hoje é uma espécie de gênio que está saindo da garrafa e não tenho certeza se pode ser detido”, alertou. “Não tenho vergonha de dizer que tenho medo. Acho que uma manifestação de 100.000 ou 200.000 não vai ajudar. Se dois milhões de pessoas não se levantarem agora e lutarem pela democracia, lutarem pelo liberalismo, a conclusão deve ser que a sociedade israelense aceita o que está acontecendo, e que isso [fascismo] já está nela”.

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