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Entregadores de aplicativos mantêm paralisação após cancelamento pelos líderes

Mesmo que a Aliança dos Entregadores de Aplicativos (AEA) tenha cancelado a greve convocada para o dia 25 de janeiro, após encontro com o governo federal, entregadores de São Paulo mantiveram a mobilização com pontos paralisados até sexta-feira (27).

Em São Paulo, entregadores mantiveram a greve em diferentes pontos do interior e da capital do estado. Mesmo após cancelamento por parte das lideranças locais, os entregadores acharam importante destacar a responsabilidade das empresas e as especificidades dos governos locais.

“Cada estado trabalha de um jeito e, por isso, o governo federal fica um pouco perdido. Então, o que pode acontecer? A gente aqui lutando para melhorar o nosso lugar é o que mais importa. Se o iFood não resolver isso com o governo federal, vai ficar jogando um para o outro, só que o pedido foi feito lá. O cliente quer o pedido certinho, então a gente é pago para isso. Só que está injusto o valor, não está de acordo com a economia e a estrutura financeira do entregador”, explicou o trabalhador Jerônimo no piquete do Shopping Metrô Itaquera.

Ao menos em duas cidades, Diadema e Indaiatuba, a categoria decidiu continuar a greve até sexta-feira (27). Em Diadema, as coletas de pedidos permaneceram interrompidas até o último domingo (29); em Indaiatuba, por tempo indeterminado, até que os motoboys sejam atendidos pela iFood.

Entre as reivindicações são:

  • Aumento da taxa mínima paga por entrega de R$6 a R$8;
  • Fim das entregas duplas ou triplas, quando o entregador realiza duas ou mais corridas ganhando apenas uma;
  • Apólice de seguro em caso de acidente ou morte, já que as coberturas oferecidas pela iFood não são eficazes;
  • Fim das Operadoras Logísticas (OL), empresas contratadas pelo iFood que funcionam como intermediárias entre a plataforma e os entregadores.

Lideranças se posicionam para evitar sequestro das manifestações

A organização da greve fora iniciada em 8 de novembro e, até janeiro, já contava com ao menos 12 estados confirmados. O principal impulsionador da medida foi a Aliança dos Entregadores de Aplicativos (AEA), formada por lideranças de Brasília (DF), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), surgidas no Breque dos Apps de 2020.

Em carta aberta ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a AEA cobrava participação ativa nas discussões sobre a categoria, assim como a criação de um fundo social para a proteção de trabalhadores, além de estabelecer uma real comunicação com as empresas.

Após os atentados golpistas de 8 de janeiro, a AEA lançou nota de repúdio ao ocorrido às sedes dos Três Poderes em Brasília, destacando que a luta dos entregadores não seria utilizada como plataforma para atos antidemocráticos. Para a coluna da Mônica Bergamo na Folha, o entregador Jr. Freitas já havia explicado dias antes que “nossa luta é contra as empresas de aplicativo e o que nós queremos do atual governo é uma porta de diálogo. Mas também não deixa de ser uma cobrança em cima daquilo que o próprio presidente eleito vem falando nas suas campanhas. Agora que ele está exercendo o cargo de chefe de Estado, a gente quer que ele cumpra as promessas”.

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Durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a discussão para atender às exigências da categoria eram realizadas com parlamentares e as próprias plataformas. Hoje, o governo Lula reinicia o debate com estudiosos e três centrais sindicais: Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Durante a manifestação do dia 9 de janeiro, contra os ataques do dia anterior, Paulo Galo, membro da AEA, declarou para o Monitor do Oriente Médio: “Se a gente não unificar a parte de cima com a parte de baixo, a gente nunca vai conseguir avançar efetivamente. Então é importante que a gente se conecte com a base e que a base mostre potência na rua sempre, sempre, sempre”.

Em suas redes sociais, o entregador demonstrava discordâncias com o novo governo, embora reforçasse que a mobilização de sua categoria não seria anti-Lula. Defensor da CLT para os entregadores, Galo discordou do Ministro do Trabalho Luiz Marinho, em sua página do Twitter: “De que adianto votar no Partido dos Trabalhadores se não pra defender os Trabalhadores e seus direitos. Nós sabemos que o Mercado não quer mais carteira de trabalho pra ninguém eles querem MEI, eles querem alienar mais os trabalhadores.”

Encontro das centrais sindicais em Brasília e cancelamento da greve 

O cenário mudou quando lideranças da AEA foram convidadas a participar da reunião do governo federal com as centrais sindicais em Brasília. Com ajuda da Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), Paulo Galo pode se encontrar com seus pares e se reunir com o Luiz Marinho, no marco da proposta do governo de criar uma comissão dedicada à questão da regulamentação do trabalho por aplicativo.

Em 18 de janeiro, Lula defendeu diante das centrais a construção de “uma nova estrutura sindical, com direitos e numa economia diferente dos anos 1980.” Neste sentido, o presidente pediu calma aos sindicalistas, pois “se construirmos juntos, fica mais difícil de desmanchar”.

Segundo a CUT, a greve foi suspensa após reunião da AEA com o secretário de Economia Solidária, Gilberto Carvalho, em 17 de janeiro, em São Paulo.

Durante a campanha eleitoral, Lula havia proposto discutir com a categoria, empresários e universidades soluções para que os entregadores tivessem direitos, ainda que não estivessem de acordo em se tornar CLT.

Em vídeo que circulou pelas redes sociais, Paulo Galo fala ao lado de Luiz Marinho sobre o cancelamento da greve após demandas terem sido escutadas pelo governo. A coluna de Mônica Bergamo conversou com Jr. Freitas que revelou a reivindicação por um plano “bem montado” para construir políticas para a categoria, levando assim à suspensão da greve. Uma nova reunião para avançar a discussão está prevista para dentro de 30 dias.

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