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Líbano nega a juízes franceses acesso ao inquérito sobre explosão em Beirute

20 de janeiro de 2023, às 08h00

Parentes das vítimas da explosão no porto de Beirute protestam em frente ao Palácio da Justiça na capital libanesa em 7 de fevereiro de 2022 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Juízes franceses em visita a Beirute nesta semana, como parte da investigação sobre a explosão que destruiu o porto e abalou a cidade, em 4 de agosto de 2020, tiveram seu acesso negado aos documentos do inquérito sobre o incidente, cujo processo permanece suspenso, afirmou uma fonte do judiciário libanês nesta quinta-feira (19).

As informações são da agência de notícias Reuters.

A explosão matou 220 pessoas e destruiu boa parte da capital. Investigações estão paralisadas há um ano, devido a impasse político entre as facções hegemônicas e contestações legais contra o juiz responsável, Tarek Bitar.

Dois juristas franceses viajaram a Beirute neste contexto, parte de um inquérito da Promotoria Pública em Paris sobre o caso, dado que dois cidadãos do estado europeu estão entre as baixas, incluindo um óbito. Os detalhes foram corroborados por uma fonte da diplomacia francesa.

Bitar confirmou a ambos não poder compartilhar informações até que o caso seja retomado; no entanto, observou que poderia conceder apenas documentos não-confidenciais, conforme a lei libanesa. Não houve comentário official das partes até então.

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O episódio é considerado uma das maiores explosões não-atômicas da história, deflagrada pelo acúmulo indevido de centenas de toneladas de nitrato de amônio deste 2013.

No limbo

Bitar tentou colher o depoimento de políticos de destaque, incluindo parlamentares, o chefe do legislativo, Nabih Berri, e o líder do movimento Amal, Hassan Diab – então primeiro-ministro. O comandante-chefe das forças de segurança, major-general Abbas Ibrahim, também foi citado.

Todos, incluindo os ex-ministros Ali Hassan Khalil e Ghazi Zeaiter, negam responsabilidade, mas apelam a imunidade, ao alegar que Bitar carece de poderes para interrogá-los.

O inquérito está no limbo desde o começo de 2022, devido à oportuna aposentadoria de juízes das cortes que deveriam avaliar as queixas contra Bitar, para que o processo fosse retomado.

O poderoso grupo xiita Hezbollah opõe-se ao inquérito, em meio a indícios de culpabilidade de aliados no armazenamento da substância explosiva por quase dez anos. Em 2021, um oficial do Hezbollah prometeu remover Bitar do caso; o chefe do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, acusou o juiz de enviesamento e pediu sua exoneração.

Em 2021, uma corte de recursos removeu do processo o antecessor de Bitar, Fadi Sawan, após pressão política de alto escalão.

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Segundo relatos, os juízes franceses indagaram sobre a postergação do inquérito e previsões de retorno. Os juristas se reuniram com advogados das vítimas, que demandam justiça, confirmou Cecile Roukoz, uma das representantes das famílias.