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Bolsonaro e seu amor à ditadura apoiada por Israel

Evento em BH em que Bolsonaro em BH teve criança com roupa que simula farda de policial e arma de brinquedo. Em Belo Horizonte, em 30 de setembro de 2021 [Reprodução TV Brasil/ Via Poder 360]

Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 20 de outubro revela que 79% dos brasileiros consideram que democracia é sempre melhor. O resultado é emblemático para explicar porque um defensor da ditadura de carteirinha, o capitão do Exército reformado, candidato à reeleição a presidente, Jair Bolsonaro, tem buscado a todo custo se descolar de seu passado e associar censura e ditadura, que sempre defendeu, à campanha que luta contra suas ameaças às liberdades democráticas duramente conquistadas.

Bolsonaro é o sujeito que, quando deputado, deu entrevista dizendo que a ditadura deveria ter matado uns 30 mil. Em 15 de outubro de 2015, ele fez um post em seu facebook homenageando – por ocasião de sua morte na data, sem pagar pelos seus crimes contra a humanidade – sua referência, o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, a quem se referiu como um herói nacional.

Em 2016, durante a sessão que julgava o impeachment da presidente Dilma Rousseff, ele dedicou o voto favorável ao torturador e saiu impune, quando deveria ter saído algemado. Três anos depois, já como presidente, recebeu a viúva de Ustra no Palácio do Planalto e voltou a chamar este chefe da repressão no DOI-Codi durante a ditadura militar, responsável por dezenas de assassinatos, desaparecimentos políticos e sequestros, de herói nacional. Em 27 de março deste ano, ao se lançar pré-candidato a Presidente, Bolsonaro voltou a elogiá-lo.

Ao longo de seu governo e mandato parlamentar, não são poucas as expressões de apologia à ditadura e métodos, inclusive de contrainformação e mentiras – a campanha milionária baseada em fake news, com uso da máquina pública, aprimora-se com os ensinamentos do guru de Donald Trump, Steve Bannon, mas é também um legado da ditadura.

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A trajetória de amor à ditadura de Bolsonaro é antiga. Ele personifica grupo de militares disposto a fazer qualquer coisa para que o regime de exceção se mantivesse. Foi este grupo que protagonizou o episódio do atentado ao Riocentro em 1º. de maio de 1981 para tentar jogar a culpa em quem lutava contra a ditadura e impedir seu fim. Bolsonaro, já em 1987, estaria entre os que planejavam uma série de atentados no Rio de Janeiro na mesma linha, na denominada operação “Beco sem saída”.

Afinidades 

Em 25 de março de 2019, Bolsonaro inaugurou suas convocações, como presidente, à comemoração do golpe de Estado de 1964. Seis dias depois, viajou a Israel para retribuir a vinda do então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a sua posse e assinar seis acordos com o estado sionista. A afinidade com Israel se explicitara já à campanha eleitoral de 2018 e durante todo seu governo.

Se a máscara é o engodo de representações religiosas que enganam pessoas que buscam na fé um alívio para seu sofrimento, Bolsonaro tem muito a ver com um regime de apartheid, fundado sobre corpos e aldeias palestinas há mais de 74 anos, que tem exportado suas técnicas, equipamentos e armas para a morte. E isso não é de hoje.

Para a mesma ditadura no Brasil que Bolsonaro sente saudades, Israel forneceu armas, serviços de inteligência e treinamento aos agentes da repressão. O advogado e ativista de direitos humanos israelense Eitay Mack tem denunciado o suporte ao regime de exceção do estado sionista, que saudou o golpe, desejando que perdurasse por longo tempo. Na campanha de contrainformação, Israel se colocava como parceiro na luta contra o “terrorismo global”, utilizando a fake news de que a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) estaria envolvida no treinamento de grupos guerrilheiros no Brasil. A colaboração sionista com a ditadura consta também de depoimentos na Comissão Nacional da Verdade.

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As afinidades ideológicas com o projeto colonial e de apartheid sionista se dão também no apreço a ditaduras, além do expresso em seus votos contrários aos direitos humanos fundamentais dos palestinos na Organização das Nações Unidas (ONU), nas bandeiras israelenses que acompanham o governo e campanha de Bolsonaro, em seus discursos e afagos ao estado racista que segue a promover a limpeza étnica na Palestina ocupada.

Não à toa os protestos pelo “Fora Bolsonaro” sempre contaram com bandeiras palestinas, bandeiras que simbolizam as lutas justas contra a opressão e exploração em todo o mundo.

No próximo dia 30 de outubro, também pela liberdade de organização e expressão no Brasil rumo à Palestina livre do rio ao mar, é preciso votar 13, contra esse desgoverno brasileiro genocida, racista, xenofóbico, aliado explícito de Israel.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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